Quase seis em cada dez jovens entre os 16 e os 25 anos estão muito ou extremamente preocupados com a crise climática. O inquérito feito em dez países, e publicado esta terça-feira, conclui que um número semelhante de jovens considera que os governos não os estão a proteger a si, ao planeta ou às gerações futuras. E por isso sentem-se traídos pelas gerações mais antigas e também pelos governos.
O estudo mostra também que quatro em cada dez jovens hesitam ter filhos devido à crise climática, e receiam que os governos estejam a fazer muito pouco para evitar uma catástrofe climática. O inquérito chama-se “Young People’s Voices on Climate Anxiety, Government Betrayal and Moral Injury: a Global Phenomenon” (Vozes dos Jovens sobre a Ansiedade Climática, Traição Governamental e Lesões Morais: Um Fenómeno Global).
Mais de metade dos jovens inquiridos nos dez países (55%) consideram que vão ter menos oportunidades do que os seus pais, graças às alterações climáticas. Uma percentagem semelhante (56%) acredita que “a humanidade está condenada” e três quartos (75%) acham que “o futuro é assustador”.
Os sentimentos de ansiedade sobre o clima são agora generalizados entre os jovens e Portugal é dos países que apresenta maiores níveis de preocupação com as alterações climáticas: 30% dos jovens estão “extremamente preocupados”. Com esta percentagem, Portugal fica em terceiro lugar, logo a seguir às Filipinas (49%) e à Índia (35%).
O estudo nota que “as alterações climáticas e as respostas governamentais inadequadas estão associadas à ansiedade e angústia climática em muitas crianças e jovens a nível global. Estes fatores de stress psicológico ameaçam a saúde e o bem-estar, e podem ser interpretados como moralmente lesivos e injustos. Há uma necessidade urgente de aumentar tanto a investigação como a capacidade de resposta do governo”.
Mitzi Tan, de 23 anos e das Filipinas, diz que cresceu com medo de se “afogar no próprio quarto”. “A sociedade diz-me que esta ansiedade é um medo irracional que precisa de ser superado, um medo que a meditação e mecanismos saudáveis de sobrevivência vão resolver. A nossa ansiedade climática vem deste sentimento profundo de traição por causa da inação governamental. Para enfrentar verdadeiramente a nossa crescente ansiedade climática precisamos de justiça”.
O inquérito foi feito a cerca de 10.000 jovens em Portugal, Brasil, Reino Unido, França, Finlândia, Estados Unidos, Austrália, Índia, Nigéria e Filipinas. A sondagem foi paga pela associação Avaaz.
O estudo foi divulgado numa base de pré-publicação pela revista científica Lancet Planetary Health, enquanto se encontra em processo de revisão pelos pares. O inquérito foi conduzido e analisado por sete instituições académicas no Reino Unido, Europa e EUA, incluindo a Universidade de Bath, a Universidade de East Anglia, e o Oxford Health NHS Foundation Trust.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso