Na linha do pensamento que transparece em Elogio da Lentidão (2018), também publicado pelas Edições 70, Lamberto Maffeifaz, neste Elogio da Rebeldia, um diagnóstico desapiedado da situação actual, da economia à política.
Lenta é também a forma como o autor expõe o seu pensamento, ao longo de diversos capítulos que parecem desligados entre si, até que, da crítica à sociedade actual, dominada pela tecnologia e capitalismo, e de como o indíviduo, apesar do excesso de estímulos que induzem o cérebro em frenética atividade, sente-se mais solitário do que nunca.
«A arte e a ciência são grandes recursos do pensamento do homem e a experiência emocional e racional do belo e do verdadeiro é liberdade de pensamento, mas também descoberta cognoscitiva, caminho para fugir de um mundo dominado pelo mercado, pelo domínio do mais forte ou do mais rico, pela irracional «bulimia dos consumos» e pela patológica «anorexia dos valores», que emergem como metas consoladoras.» (p. 132)
A rebeldia do título é, portanto, a dos artistas e cientistas, esses homens de pensamento lento que são, aliás, em número cada vez menor, da mesma forma que diminui a actividade cerebral dos mais jovens, enquanto que, paradoxalmente, apesar das redes e do digital, aumenta a sua solidão. Citando Balzac, o autor expõe como «a obediência é resultado do instinto das massas», sendo a revolta «resultado da sua reflexão» (p. 129). A cultura deveria ter o tempo lento da reflexão, mas vivem-se tempos em que está subjugada pelas leis do mundo económico e até «o pensamento criativo foi redimensionado» e é agora «apreciado pelo seu valor de mercado» (p. 125).
A cultura de hoje serve uma lógica neoliberal que «consegue sugerir, quase impor, a definição do que é belo e do que não o é e estabelecer, também, um prazo de validade, pois o mercado quer que o belo seja rapidamente substituído por outro belo. E depois, o verdadeiro por outro verdadeiro, o bom por outro bom, o justo por outro justo, num mercado dos valores que mudam com o critério da oportunidade. Atualmente, tudo se compra e tudo se vende, até a alma!» (p. 126).
Lamberto Maffei, nascido em 1936, é um médico e cientista italiano. Dirigiu o Instituto de Neurociência de CNR e o Laboratório de Neurobiologia da Escola Normal Superior de Pisa, foi professor emérito de Neurobiologia e recebeu inúmeros prémios na medicina.