Conhecer melhor o ciclo de vida e movimentações do caranguejo azul no estuário do Guadiana é o objetivo de um estudo que a Universidade do Algarve tem em curso e se prolonga até final do ano, disse um investigador.
João Encarnação é investigador no Centro de Ciência do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve (UAlg) e explicou à agência Lusa que a instalação de telemetria acústica foi feita no estuário do rio onde esta espécie invasora se identificou pela primeira vez, em 2016.
Estão a ser colocados transmissores em cerca de 20 animais e a informação recolhida poderá depois servir de suporte para a definição de “planos de controlo” da espécie.
“Nós trabalhamos com esta espécie invasora desde que ela foi detetada pela primeira vez no Algarve, em 2016, temos conseguido perceber, pelo menos, onde é que ele tem aparecido no Algarve”, afirmou João Lourenço, destacando a importância de um projeto de ciência cidadã denominado Novas Espécies Marinhas do Algarve (NEMA) para a informação atualmente disponível sobre a presença do caranguejo azul (Callinectes sapidus) em Portugal.
O investigador da UAlg recordou que, após a deteção da espécie no Guadiana, ela já foi também identificada na Ria Formosa, ao longo de “toda a costa do Algarve” e “também na costa oeste de Portugal”, tendo a “aposta na colaboração com pescadores e com o público em geral” através do NEMA sido importante para a informação já recolhida sobre este animal, originário do Atlântico oeste e que terá chegado a Portugal nas águas de lastre de navios.
“Temos tido essa abordagem e o que estamos a tentar fazer agora com este estudo da marcação da telemetria é perceber um pouco mais das movimentações da espécie. Isso é especialmente importante porque esta espécie do caranguejo azul, ao longo do seu ciclo de vida, tem várias migrações ao longo do ano”, referiu.
A mesma fonte acrescentou que o caranguejo azul vai “libertar os avos na zona costeira” e que “as larvas andam nas correntes marítimas durante algumas semanas”, até chegarem a um estádio de desenvolvimento em que são “uma espécie de míni caranguejo” e “voltam a entrar em tudo o que é estuário, zonas lagunares costeiras”, onde é muito baixa a salinidade.
“Há variados movimentos ao longo do estádio de vida e ao longo do ano e é isso que estamos agora a tentar perceber um pouco melhor com esta marcação de caranguejos. Um dos principais objetivos é perceber essa migração das fêmeas na altura da desova, quando descem à zona costeira, e depois perceber um bocadinho melhor qual é exatamente a altura do ano em que se dá a reprodução da espécie”, definiu.
João Lourenço frisou que, com os dados do estudo em curso, pode-se “tentar depois gerir um pouco melhor esta espécie invasora”, que provoca “impactos não só na biodiversidade, como na economia das pescas”, uma vez que é muito voraz e não tem predadores.
“Temos muitos pescadores que relatam que esta espécie, quando fica presa, corta as redes, há aqui alguns danos também na parte económica, e, portanto, sabendo um pouco melhor quando estarão a desovar nos estuários, podemos tentar promover um plano de controlo”, sustentou.
No início de maio, disse ainda João Lourenço, os investigadores fizeram a “instalação de recetores” que vão estar “fixos em várias zonas da área de estudo” para registar a passagem de cada caranguejo, marcado para o efeito com um “aparelho de pequena de dimensão”, um “transmissor de três centímetros e duas ou três gramas de peso”.
“O recetor o que faz é registar quando o transmissor está dentro do alcance e sabemos ao pé de que transmissor ele passou”, referiu, estimando que a primeira recolha seja feita em setembro e “até ao final do ano já haja alguns dados” provenientes deste estudo.
João Lourenço considerou “pouco provável” que os cerca de 20 exemplares marcados possam voltar a ser capturados, mas apelou a quem, por caso, capturar um, que faça a sua devolução ao meio ambiente, “na exata localização” em que o encontrou, ao contrário do procedimento que é habitual praticar-se com as espécies invasoras.