“A cultura de massas integra e se integra ao mesmo tempo numa realidade policultural, que transforma as antigas identidades homogéneas em híbridos culturais”.
Edgar Morin
“A defesa da diversidade cultural é um imperativo ético, inseparável do respeito à dignidade humana. Ela implica o compromisso de respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, em particular os direitos das pessoas que pertencem a minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode invocar a diversidade cultural para violar os direitos humanos garantidos pelo direito internacional, nem para limitar seu alcance”.
Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural, artigo 4º, UNESCO, 2001
A aceleração do processo de globalização e a crise do Estado-Nação, envolvem problemas geográficos, demográficos, políticos e culturais, a relação entre poderes políticos e económicos, novas identidades como o “cidadão europeu”, questões linguísticas e religiosas,…
As identidades colectivas estão hoje, mais do que nunca, na ordem do dia, com a redefinição de conceitos. Dois posicionamentos surgiram, as Convenções da UNESCO subscritas pelos Estados Nacionais que pugnam pela protecção da diversidade cultural da humanidade, o outro prefigura uma “identidade global”.
Não é possível subestimar este debate, simultaneamente ambiental e cultural com consequências económicas. Sinal destes tempos são o surgimento de partidos políticos “verdes” e humanistas, mas também de movimentos nacionalistas, racistas e xenófobos.
E o que é a identidade? São as características particulares que os seres vivos possuem, as quais permitem identificá-los e diferenciá-los de outros indivíduos ou grupos.
Nos seres humanos as características individuais são biológicas e físicas, mas também o nome, local de nascimento, naturalidade, nacionalidade, ascendentes,… A partir de 1919 o Estado Português começou a emitir bilhetes de identidade individuais registando as características, obrigatórios para os seus cidadãos.
O processo de constituição das identidades colectivas é dinâmico influenciado pela aculturação.
Entre 1815 e 1914, cerca de 60 milhões de europeus emigraram para as Américas em consequência das crises na agricultura e fomes em vários países (caso da Irlanda entre 1845 e 1852), mas entre os séculos XVI e XVIII, milhões de escravos africanos tinham sido transportados para o continente americano. Nestes continentes registaram-se profundas transformações na estrutura populacional, dos modelos económicos e culturais, o uso predominante das línguas europeias a par do surgimento de crioulos e sincretismos religiosos, de novas expressões artísticas, que hoje influenciam as culturas contemporâneas.
Nas sociedades subsiste um segundo nível identitário ou de fragmentação das identidades, o posicionamento que cada um ocupa na escala social, família, profissão, bairro,… Conhecemos várias cidades dentro da cidade, com origens étnicas e classes sociais distintas produzindo culturas específicas.
Consideramos identidades culturais múltiplas, a percepção que cada um de nós tem de pertença a uma comunidade influenciada por outras culturas. No caso português, consequência da relação de muitos séculos com a África e o Brasil mas também com a Ásia, essas colonizações originaram novos países e identidades culturais que têm por base a língua comum, mas também de estilos de vida.
A cultura portuguesa regista também uma herança romana, muçulmana e de outras origens.
As novas identidades induziram direitos sociais e culturais com vista ao reconhecimento e inclusão, na convivência e no trabalho, na igualdade entre os géneros, nos direitos das minorias étnicas e religiosas, surgindo mais recentemente os conceitos de multiculturalismo, interculturalidade, pluralismo cultural,…
O actual modelo económico global provocou intensa mobilidade das populações e de mercadorias, homogeneização dos comportamentos sociais visando uma economia de consumo.
Com o surgimento no primeiro trimestre de 2020 da pandemia covid-19, a ciência procura hoje tratar pela vacinação o problema sanitário à escala global, operação jamais realizada na História da Humanidade, mas que coloca em evidência um mundo desequilibrado e desigual no acesso aos recursos.
Vivemos já a necessidade alterar concepções de vida em comunidade, de gerir melhor os recursos naturais e a produção de bens e serviços, também a relação com a natureza e os outros seres, o que provocara´, inevitavelmente, uma nova hierarquia de valores e a transformação das identidades colectivas.