O Inverno trouxe consigo o regresso da gripe A, com uma estirpe que não circulava em Portugal desde o início da pandemia da COVID-19. Contudo, especialistas em pneumologia esclarecem que isso não implica uma forma mais grave da doença, desencorajando a procura desmedida pelas urgências em casos de sintomas leves de gripe.
Na última semana do ano, observa-se, segundo a CNN, um aumento significativo nos casos de gripe A em todo o país, resultando numa afluência notável aos hospitais e em tempos de espera prolongados nos serviços de urgência. Apesar de ser a época tradicional para infeções respiratórias, especialmente com os vírus influenza A e B, responsáveis pela gripe sazonal, os sintomas deste ano parecem mais intensos e duradouros.
O pneumologista Carlos Robalo Cordeiro sugere, em declarações à mesma fonte, que a pandemia de COVID-19 pode explicar parcialmente essa tendência, pois a estirpe atual do vírus influenza A “não era predominante” desde o início da pandemia. No entanto, destaca que o número de casos não difere significativamente do habitual, com 910 casos positivos de gripe identificados na semana de 18 a 24 de dezembro, conforme relatório do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
Contrariando a apreensão gerada, o pneumologista Agostinho Marques afirma que os casos de gripe A que chegam aos hospitais são relativamente menos graves em comparação com anos anteriores. Os internamentos em cuidados intensivos não refletem um aumento significativo, indicando um acréscimo de cerca de 10% nos internamentos por gripe.
Miguel Castanho, investigador do Instituto de Medicina Molecular de Lisboa, salienta à CNN que não há um agravamento na severidade da gripe A. Embora alguns sintomas, como a tosse, possam persistir por semanas, esse facto não implica uma maior gravidade da doença para cada pessoa infetada.
Carlos Robalo Cordeiro destaca o problema gerado pela procura desmedida dos serviços de urgência, levando a constrangimentos no atendimento de casos que são, efetivamente, urgentes. Os tempos médios de espera nas urgências da região de Lisboa chegam a ultrapassar 18 horas.
Para evitar idas desnecessárias às urgências, é crucial distinguir entre os sintomas da gripe A e os de uma constipação. Agostinho Marques destaca que muitos dos casos não são gripe, mas sim constipações, representando menos de um terço das infeções respiratórias que chegam aos hospitais. Nestes casos leves, o tratamento com paracetamol e lenços de papel é suficiente, sendo desnecessária a ida às urgências.
Os sintomas típicos da gripe A incluem febre, tosse, congestão nasal, dores corporais, de garganta e de cabeça, fadiga, vómitos e diarreia. Já nas constipações, os pacientes não apresentam febre, mas queixam-se de congestão nasal e irritação na garganta.
Os médicos aconselham repouso, ingestão de líquidos, soro fisiológico para a congestão nasal e paracetamol para baixar a febre. A ida às urgências é justificada apenas se a febre persistir, mesmo após tomar paracetamol, ou se houver dificuldades respiratórias, especialmente em pacientes crónicos em risco de descompensação.
Apesar de estarmos em plena época de pico de infeções respiratórias, a campanha de vacinação sazonal contra a gripe continua disponível nas farmácias. Os médicos instam a população a dirigir-se aos estabelecimentos aderentes à campanha para garantir uma proteção eficaz, antecipando um possível aumento de casos após as celebrações de passagem de ano.
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