A Europa fecha-se a outros e entre si na esperança de evitar o que parece inevitável. As preocupações com a variante Delta, mais transmissível e resistente, levaram vários estados a impor de novo quarentenas a quem sai de países com um número de casos que causa preocupação, nomeadamente Portugal. A esperança é que não estejam de novo a tentar parar o vento com as mãos, tendo em conta que agora há um poderoso instrumento, a vacina, que não existia em outras vagas. Será isso suficiente?
Na cimeira europeia desta semana houve uma tentativa de “coordenação” de uma resposta conjunta da UE para lidar com as novas variantes, em especial a Delta. Depois das críticas de Angela Merkel ao facto de cada país ter dado respostas diferentes, nomeadamente de Portugal ter aberto as fronteiras ao Reino Unido quando a Delta já crescia naquele país, da reunião dos líderes europeus pouco mais saiu do que a ideia de se coordenar a resposta. Mas a frase pouco quer dizer, até porque, no dia a seguir, a Alemanha e outros países colocaram Portugal na lista negra, obrigando assim a que quem chegue do país tenha de cumprir quarentena.
A previsão do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) é que a variante Delta do SARS-CoV-2 seja responsável por 90% das novas infeções na Europa até final de agosto e por um aumento nos internamentos e mortes. É por isso que, na Europa, as palavras de ordem são “vacinar, vacinar, vacinar”, disse Ursula von der Leyen na conclusão da cimeira. “Até ao final da semana, quase 60% dos adultos na União Europeia terão recebido pelo menos uma dose da vacina e teremos quase 40% da população completamente vacinada. É um grande passo em frente, mas é também necessário, porque estamos preocupados com a variante Delta”, disse a presidente da Comissão Europeia.
De acordo com as últimas previsões da task force da vacinação, devido a atrasos na entrega de vacinas, a imunidade de grupo em Portugal, que estava prevista para agosto, só deverá ser atingida 15 dias mais tarde.
Por cá, não há muitas dúvidas de que a variante Delta, que é mais rápida a progredir, está em transmissão comunitária. João Paulo Gomes, responsável do Instituto Nacional Ricardo Jorge, disse ao Expresso que a prevalência é de 70% na região de Lisboa e está “claramente acima” no concelho. E a Norte também está a ganhar terreno. Passou de 15% para 20% entre os novos casos de covid.
O APELO À SEGUNDA DOSE
Não é apenas na Europa que há preocupações com a evolução da Delta. Nos Estados Unidos começam a existir fortes preocupações por causa da dispersão da variante, que já se encontra em 49 estados americanos. Por isso, o apelo por lá é apenas um: “Por favor tomem a segunda dose”, disse o diretor do Centro de Controlo de Doenças, Rochelle Walensky, na National Public Radio. O apelo é gritante, dado que do outro lado do Atlântico há uma pessoa em cada dez que desistiu de levar a segunda dose.
Em Portugal não são conhecidos dados de pessoas que recusaram a segunda dose da vacina, mas ainda a semana passada o jornal Público dava conta que um terço dos internados com Covid 19 nos hospitais neste momento já tinha uma dose da vacina.
Outro dado importante a reter neste ponto é que, de acordo com o Governo, ainda havia 700 mil pessoas acima dos 60 anos (grupo de risco) que não tinham a vacinação completa. Muitos destes tomaram a vacina da AstraZeneca, em que a segunda dose só era administrada três meses depois. Ou seja, quem tomou a primeira dose a partir de abril ainda não tem o plano de vacinação completo.
A preocupação com a segunda dose da vacina prende-se sobretudo com a menor eficácia da vacina para controlar a doença provocada por esta variante. Com duas doses completas das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, a efetividade continua bastante alta em relação a esta variante (pode ler aqui mais sobre o assunto). O mesmo não acontece se tiver sido dada apenas uma toma. De acordo com um estudo da autoridade inglesa, a efetividade das vacinas da Pfizer e da AstraZeneca contra a infeção sintomática da variante Delta era de apenas 33% três semanas depois da primeira toma (era de 50% em relação à variante britânica).
Acresce ainda a preocupação com a Delta Plus, conhecida como “variante nepalesa” em Portugal, que já foi identificada em dez países e que por cá já foi identificada em pelo menos 24 pessoas.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso