O risco de incêndios é, por estes dias, muito elevado, ao ponto de o Governo ter decretado a situação de contingência em todo o território português. A medida entrou em vigor no sábado passado, 11 de julho, e vai prolongar-se até 15 de julho. É a primeira vez que a Proteção Civil recorre à figura da situação de contingência nestas circunstâncias, afirmou o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, justificando a implementação desta medida com o número crescente de fogos que se registam no país e o agravamento das condições meteorológicas nos próximos dias.
Embora o risco de incêndio em meios rurais seja elevado, há formas de a população se proteger contra os fogos e evitar o pior.
SE ESTIVER EM CASA
O fogo é sempre motivo de susto ou medo. Manter a calma quando se veem chamas a aproximar-se de casas pode ser difícil, mas é essencial para garantir a segurança. A calma é sempre a primeira regra. Logo de seguida, é necessário avisar os bombeiros, telefonando para o 112, e seguir todas as instruções.
Avisar os vizinhos sobre o fogo que se aproxima é outro dos primeiros passos a dar, segundo o programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, criado em outubro de 2017, após os incêndios em Pedrógão Grande e outros que assolaram o território português, fazendo dezenas de mortos.
Os residentes das habitações em perigo devem, depois, regar as paredes e o telhado, assim como o terreno à volta de casa (até 10 metros). Também devem retirar mobiliário, lonas ou lenhas que estejam próximas da habitação e, se não correrem perigo, apagarem pequenos focos de incêndio com água, terra ou ramos verdes.
Dentro de casa, as portas e janelas devem ser fechadas (os portões da rua não devem estar trancados e as luzes do exterior devem ficar acesas), assim como qualquer entrada para impedir que entrem faíscas e fumo, explicava já, em declarações ao Expresso após os incêndios em 2017, por sua vez, Domingos Xavier Viegas, professor da Universidade de Coimbra e especialista no combate a incêndios. “Não se deve molhar a roupa. A água é muito condutora e aquece rapidamente, podendo provocar queimaduras graves. É preferível que a roupa esteja seca”, diz o especialista. O vestuário mais adequado são calças, camisola de manga comprida, luvas e um lenço para proteger a cara.
O programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras” também recomenda que sejam afastados das janelas todos os objetos que possam arder, colocando toalhas molhadas nas frestas.
O telemóvel só deve ser usado em situações imprescindíveis (até porque não sabe quanto tempo durará a bateria, nem quando poderá carregá-la), sublinha Domingos Xavier Viegas. O abastecimento de combustível à casa deve ser desligado. No caso das botijas de gás, o melhor é tirá-las de casa e colocá-las “num local seguro longe do incêndio”. Outro conselho é ter disponíveis algumas ferramentas (incluindo pás e mangueiras) e recipientes grandes cheios de água.
Se ficarem cercados por um incêndio, os habitantes devem, segundo o programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras”, dirigir-se para um “abrigo ou refúgio coletivo”, que são espaços que estão preparados para servirem de abrigo durante a passagem de um incêndio rural, encontrando-se devidamente sinalizados com placas identificativas.
Se não estiverem próximos destes locais — e pode acontecer que não estejam, uma vez que apenas cerca de metade das 2.232 aldeias abrangidas pelo programa criaram, até ao momento, estes abrigos — devem procurar uma “zona preferencialmente plana, com água ou pouca vegetação”.
Independentemente do local onde se encontrem, os habitantes cercados pelo fogo devem “respirar junto ao chão, se possível através de um pano molhado”, para evitar inalar o fumo. Também se recomenda que cubram a cabeça e o resto do corpo, utilizando um lenço húmido para proteger a cara do calor e dos fumos.
Caso as autoridades decidam que é imprescindível evacuar a zona, não deve oferecer-se resistência. Todas as instruções dadas pelos bombeiros são para serem seguidas.
O programa “Aldeia Segura, Pessoas Seguras” recomenda que os habitantes ajudem as crianças, idosos e pessoas com limitações de mobilidade e que, ao sair de casa, levem os seus kits de evacuação, que deverão incluir o estojo de primeiros socorros, a medicação habitual, água e comida que não se estrague com facilidade, produtos de higiene, muda de roupa, rádio, lanterna e apito, dinheiro, e lista de contatos de familiares e amigos.
Os animais de companhia devem ser levados e não se deve “perder tempo a recolher objetos desnecessário”. Voltar a casa, já depois da retirada, é totalmente desaconselhado pelas autoridades.
SE ESTIVER NO CARRO
Não há certezas absolutas sobre o mais certo a fazer. “É preciso estudar mais”, alertava Xavier Viegas. No incêndio de Pedrógão, 47 pessoas morreram na Estrada Nacional 236 (30 estavam dentro das suas viaturas e 17 fora delas ou à beira da estrada), que faz a ligação com o IC8 e que não estava cortada.
Nestas circunstâncias, o primeiro passo é olhar em redor e tentar perceber se existe algum abrigo seguro por perto, onde seja possível chegar rapidamente. Se sim, então deve sair-se do carro e correr para esse ponto.
Caso não exista nenhum local, então o conselho é diferente. “É um tema muito sensível para o qual não há certezas. No entanto, diria que o melhor seja aguentar no carro o máximo tempo possível. Ficar até o fogo passar. Porque sair do carro e correr sem destino não é a solução. Se ficar no carro há maior probabilidade de salvamento”, explica o especialista no combate a incêndios.
À semelhança do que acontece em casa, todas as janelas e portas do carro devem estar fechadas.
SE ESTIVER NA PRAIA
Também no incêndio de Pedrógão Grande, numa tarde de sábado, muitas pessoas que atravessaram a Nacional 236 , que ficou mais tarde conhecida como a “estrada da morte”, vinham da praia das Rocas. Quando viram as chamas, meteram-se no carro para fugir. Mas em vez de se porem à estrada, não seria mais seguro ficarem dentro de água? Uma vez mais, diz Xavier Viegas, não há uma resposta certa.
“Ir para dentro de água não é uma garantia de salvamento”, explicava então Xavier Viegas. “Até porque em muitas praias fluviais há muita vegetação à volta que pode pegar fogo. No máximo, pode ser o local em que a probabilidade de se ficar seguro é maior”, acrescenta.
No entanto, uma coisa é certa: fugir de carro sem destino não é, seguramente, a melhor opção. “É preciso estudar muito mais estes casos para podermos aconselhar em condições as pessoas”, insiste o professor.
AJUDAR OS FERIDOS: vigiar, hidratar e afastar
O mais importante é tomar atenção a quem está em redor. Num cenário de incêndio, a pessoa está exposta a temperaturas muito altas (além do calor atmosférico, há também calor gerado pelo fogo), que pode provocar queimaduras corporais e também nas mucosas respiratórias. Depois, o ar está cheio de partículas de fumo e substâncias químicas que são irritantes e inflamatórias.
“Todas as pessoas que conseguirem não permanecer neste perímetro de incêndios devem afastar-se. Estejam em casa ou longe destes locais. As que têm de permanecer por alguma razão devem estar muito atentas umas às outras para ver sinais de agressão: queimaduras faciais (não é preciso ser grande, basta que seja do tipo queimadura solar), dificuldades respiratórias e alteração do estado de consciência”, explicava em 2017 Graça Freitas, na altura subdiretora-geral da Saúde.
É essencial que as pessoas se afastem da zona de incêndio para não continuarem expostas à agressão. Devem ser hidratadas e, se apresentarem os sintomas, devem pedir ajuda médica. “As pessoas devem estar muito atentas a estes sintomas”, insistia. Quem está no combate aos incêndios tem de fazer pausas, beber muitos líquidos e fazer refeições pequenas e ligeiras. O exercício físico violento agrava a desidratação e a dificuldade respiratória.
Em caso de queimaduras na pele, colocar uma toalha molhada nem sempre é a solução, alerta a Direção-Geral da Saúde. “Se houver uma lesão na pele é melhor não o fazer, pois ao colocar-se a toalha por cima, quando for preciso tirá-la o caso pode piorar. Portanto, pode ser contraproducente”, avisava Graça Freitas.
Este artigo é uma atualização do texto originalmente publicado a 21 de junho de 2017, após o incêndio de Pegrógão Grande.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL