A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) admite que os centros de dia possam vir progressivamente a encerrar e ser substituídos por apoio domiciliário, para reduzir riscos de contágio pelo novo coronavírus, e temem outros impactos financeiros.
“Há de facto situações novas. Perante o panorama que se está a abrir, ponho a questão se de facto não teremos de fechar, porque este movimento dos utentes que vão para casa à noite, estando em contacto com outros familiares, e no dia seguinte regressarem ao centro de dia vão ser involuntariamente transportadores de vírus ou vítimas. Pode haver aqui um problema acrescido”, disse à Lusa o presidente da CNIS, o padre Lino Maia.
Para decidir matérias como esta, mas outras que também preocupam todo o setor social, há uma reunião agendada com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, para a próxima quarta-feira, o que “pode já ser um bocado tarde”.
“Vai haver uma reunião na próxima quarta-feira do setor com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e certamente que aí tomaremos decisões. Penso que é um pouco tarde, mas é quando vai haver o encontro”, disse o responsável.
Além dos problemas que se colocam com os centros de dia, Lino Maia aponta ainda dificuldades que se podem colocar na assistência.
“Há risco na assistência. Há trabalhadores que compreensivelmente ficarão retidos por causa dos seus filhos”, disse.
Com os encerramentos de creches e atividades de tempos livres (ATL) das crianças, há também riscos financeiros para as instituições, uma vez que os pais não vão pagar o tempo que os seus filhos não as frequentarem, o que resulta em dificuldades no pagamento de salários, explicou Lino Maia.
“Há vários problemas que estão dependentes e eu precisava que da parte do Governo fossem dadas mais indicações e compensações”, disse.
Do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social o setor espera ainda obter garantias de que não sofrerá penalizações com o adiamento de assembleias-gerais para aprovação de relatórios de atividades, que, por lei e no cumprimento dos estatutos, devem acontecer no mês de março, mas que as instituições receiam realizar num contexto de disseminação do vírus.
Sobre as restrições às visitas nos lares de idosos, alargadas a todo o país depois de restringidas apenas à região Norte e ao Algarve, Lino Maia referiu que já tinha dado indicações às instituições para generalizarem a restrição nas visitas como medida preventiva.
O Governo aprovou hoje um conjunto de medidas no âmbito do combate ao surto de Covid-19.
Numa declaração ao país na quinta-feira à noite, António Costa anunciou que as escolas de todos os graus de ensino vão suspender as atividades letivas presenciais a partir de segunda-feira devido ao surto Covid-19, além do encerramento de discotecas, a redução da lotação máxima dos restaurantes, a limitação do número de pessoas em centros comerciais e serviços públicos e a proibição de desembarque dos passageiros de cruzeiros.
Em Portugal, a Direção-Geral da Saúde (DGS) atualizou na quinta-feira o número de infetados, que registou o maior aumento num dia (19), ao passar de 59 para 78, dos quais 69 estão internados.
A região Norte continua a ser a que regista o maior número de casos confirmados (44), seguida da Grande Lisboa (23) e das regiões Centro e do Algarve, ambas com cinco casos confirmados da doença.
No total, desde o início da epidemia, a DGS registou 637 casos suspeitos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou na quarta-feira a doença como pandemia, tendo em conta os “níveis alarmantes de propagação e inação”: “Podemos esperar que o número de casos, mortes e países afetados aumente”, afirmou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Desde dezembro, foram infetadas mais de 130 mil pessoas em mais de uma centena de países, mas a maioria conseguiu recuperar da doença provocada pelo novo coronavírus, que pode causar infeções respiratórias como pneumonia e que provocou quase cinco mil mortos.