Mais de 100 pessoas foram detidas em Londres nos últimos dias devido a protestos de grupos ambientalistas, incluindo uma estudante portuguesa, revelaram as autoridades policiais da capital britânica.
Segundo a Polícia Metropolitana de Londres, Sofia Fernandes Pontes, de 26 anos, foi acusada de furto e danos criminais numa loja no centro da cidade, juntamente com outro membro do grupo Animal Rebellion, Stephen Bone, de 40 anos.
Os acusados foram filmados nesta sexta-feira a derramar garrafas de leite no chão e prateleiras das lojas Fortnum and Mason e Selfridges, duas lojas emblemáticas de artigos de luxo, repetindo algo já foi feito em julho na loja Harrods.
“Eu não quero ver os meus filhos crescer num mundo rodeado de seca, destruição da natureza e escassez de alimentos. Quero que eles vejam um mundo cheio de vida selvagem e beleza”, afirmou a madeirense.
Entretanto, a portuguesa foi libertada, sob caução, mas voltará a tribunal em novembro.
O que defendem estas organizações ambientalistas?
O Animal Rebellion defende a transição para um sistema alimentar baseado em plantas e promoção da vida selvagem nos oceanos e solo até agora usado pela agricultura para reduzir o dióxido de carbono na atmosfera e travar as alterações climáticas. Os protestos dos últimos dias fazem parte de uma série de ações de desobediência civil, nomeadamente ataques a empresas distribuidoras de leite, corte de estradas e lançamento de tinta branca ao Big Ben, o relógio emblemático do edifício do parlamento britânico.
Em paralelo, o grupo Just Stop Oil, defende o fim da exploração de combustíveis fósseis no Reino Unido, tem realizado uma série de corte de estradas na capital. O grupo reuniu-se, hoje, à frente do Palácio de Buckingham onde se sentaram no chão e pararam o tráfego.
A crescente intensidade e frequência dos fenómenos climáticos resultantes do aquecimento global, como as ondas de calor que foram sentidas no Reino Unido este verão, são invocadas pelos ativistas para justificar os protestos, protagonizados tanto por jovens como por pessoas mais velhas e de diferentes estatutos sociais ou profissionais.
Os grupos ambientalistas também são críticos do governo britânico de Liz Truss, que emitiu novas licenças de exploração de petróleo e gás do Mar do Norte, ao largo da Escócia, e levantou a moratória sobre a exploração de gás de xisto no país. Duas ativistas da organização ‘Greepeace’ interromperam brevemente o discurso de Truss no congresso anual do Partido Conservador, na semana passada. Em resposta, Truss acusou os ambientalistas de fazerem parte de uma “coligação anti-crescimento”, juntamente com os partidos da oposição, sindicatos ou movimentos anti-Brexit.
A ministra do Interior, Suella Braverman, prometeu reforçar os poderes da polícia para “acabar com estes distúrbios”, numa próxima lei sobre ordem pública. Os grupos recordam, porém, outros movimentos de desobediência civil, como os opositores do ‘apartheid’ na África do Sul ou as sufragistas que lutaram pelo voto das mulheres, para justificar esta forma de intervenção. “Não seremos intimidados por alterações à lei, não seremos impedidos por ordens judiciais que visem silenciar pessoas pacíficas. Os nossos apoiantes compreendem que estas são irrelevantes quando confrontadas com a fome em massa, o massacre, a perda dos nossos direitos, liberdades e comunidades”, disse em comunicado o Just Stop Oil.
Nem todas as manifestações são bem recebidas pela população, com vídeos disponíveis nas redes sociais e alguns meios de comunicação social a mostrar automobilistas a discutir e a arrastar ativistas para conseguir passar pelos bloqueios de estradas. A Polícia Metropolitana disse ter montado uma “operação policial significativa para assegurar que os agentes possam manter os manifestantes em segurança, ao mesmo tempo que podem responder rapidamente a incidentes de danos criminais e obstrução de auto-estradas”.
“Este fim de semana assistimos a repetidos esforços para causar problemas a empresas e para perturbar de forma injustificada a vida dos londrinos normais, bloqueando as estradas”, lamentou o super-intendente Chris Green. Apesar de reconhecer o direito a protestar pacificamente, também disse que a operação de policiamento, necessária para responder a estes desafios, é significativa. “Requer muitos agentes no terreno em locais chave, para além daqueles que são necessários para processar prisioneiros e depois levar a cabo as investigações para transformar as detenções em acusações e, em última análise, em resultados em tribunal”, revelou.