O Algarve desempenhou um papel fundamental na história de Portugal, destacando-se como uma região estratégica devido à sua localização geográfica no extremo sul do país. Durante séculos, foi um ponto crucial de defesa contra invasões marítimas, especialmente durante a época dos Descobrimentos, quando os seus portos serviram de base para as expedições marítimas. Além disso, o Algarve foi palco de influências culturais significativas, desde a presença dos mouros até ao desenvolvimento da sua economia ligada ao mar, tornando-se uma região de grande relevância histórica e cultural no contexto nacional. Neste artigo, vimos falar-lhe dum forte algarvio que foi muito importante na defesa da nossa região.
O Forte da Meia Praia, muitas vezes chamado erradamente de Forte de São Roque, segundo a Fototeca da CM Lagos, é uma estrutura militar construída no século XVII, dedicada a São José, o seu verdadeiro patrono. Representa um exemplo de arquitetura maneirista adaptado às necessidades da mecânica da época. Com planta quadrangular e uma rampa que dá acesso ao terraço, esta fortificação foi integrada na rede de defesas costeiras destinada a proteger a cidade de Lagos contra os ataques constantes de piratas e corsários, revela a página Algarve Marafado.
Localizado nos dias de hoje no areal da Meia Praia, o forte ocupava originalmente a foz de uma pequena ribeira, há muito assoreada, numa zona central da Baía de Lagos. A sua função era complementar ao complexo sistema defensivo da cidade, proporcionando uma linha de proteção adicional na orla marítima. Estrategicamente implantado, permitiu atingir a Baía de Lagos pelo lado leste, oferecendo um domínio visual privilegiado sobre uma área envolvente. A simplicidade da sua estrutura – composta por uma bateria externa ao mar e dois meios-baluartes no lado noroeste – aproxima-se do desenho da fortificação da Ponta da Bandeira, também em Lagos.
Há quem atribua erradamente a construção do Forte da Meia Praia ao Conde de Lippe, que chegou a Portugal em 1762, quase um século depois da edificação do forte. Este oficial alemão, que comandou o comando do Exército Português, não esteve envolvido na sua construção nem é conhecido por ter visitado Lagos. Contudo, a tradição local atribui-lhe a designação popular de “condelipa” para as conquilhas, bivalves que proliferam na região.
Após o terramoto de 1755 e o consequente maremoto, o forte foi parcialmente reconstruído. Desempenhou um papel importante na defesa da baía até a Guerra Civil entre liberais e absolutistas. No entanto, após a Convenção de Évora Monte, em 1834, o forte foi desarmado e desguarnecido, sendo mais tarde transformado num posto da Guarda Fiscal, entretanto desativado.
O Forte da Meia Praia reflete as características da defesa costeira da Idade Moderna e é um testemunho das vivências e acontecimentos históricos da região. A sua classificação como património assenta em critérios como o valor histórico, estético e arquitetónico, bem como a sua relevância enquanto memória coletiva, conforme estipulado no artigo 17.º da Lei 107/2001, de 8 de setembro.
Atualmente, embora abandonado, o forte mantém-se como um marco histórico que relembra o papel estratégico de Lagos na defesa do Algarve durante séculos.
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