Um empresário próximo da presidência russa, Yevgeny Prigozhin, admitiu esta segunda-feira ter fundado o grupo Wagner em 2014, para lutar na Ucrânia, e reconheceu o envolvimento dos seus mercenários em conflitos em África e no Médio Oriente.
Prigozhin já tinha sido acusado por vários países ocidentais e meios de comunicação russos de ser o financiador do grupo paramilitar Wagner, cujos membros alegadamente atuaram em países como a Síria, Líbia, Ucrânia, Moçambique e República Centro-Africana, entre outros.
Numa publicação nos canais de comunicação social da sua empresa Concord, Prigozhin disse ter fundado o grupo para enviar combatentes qualificados para a região do Donbass, no leste da Ucrânia, em 2014.
“Foi então, em 1 de maio de 2014, que nasceu um grupo de patriotas, que tomou o nome do Grupo Tático do Batalhão de Wagner”, disse Prigozhin, citado pela agência francesa AFP.
O conflito no Donbass opõe, desde há oito anos, forças separatistas de Donetsk e Lugansk, com apoio de Moscovo, e as autoridades de Kiev. A guerra no Donbass eclodiu na mesma altura em que a Rússia invadiu e anexou a península ucraniana da Crimeia.
Dias antes de ter ordenado a invasão da Ucrânia em 24 de fevereiro deste ano, o Presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk.
A imprensa independente russa denunciou que o grupo Wagner – que tem o nome do compositor favorito do líder nazi Adolf Hitler – está também envolvido na atual guerra na Ucrânia.
“E agora uma confissão (…), estes tipos, heróis, defenderam o povo sírio, outros povos de países árabes, os africanos e os latino-americanos desfavorecidos, tornaram-se um pilar da nossa pátria”, afirmou ainda Prigozhin.
O grupo paramilitar é suspeito de realizar o “trabalho sujo” do Kremlin (Presidência russa) em vários teatros de operação, o que Moscovo sempre negou.
O Kremlin também sempre negou ter quaisquer ligações com grupos paramilitares. Yevgeny Prigozhin, 61 anos, é natural de São Petersburgo, tal como o atual líder russo.
Chegou a ser apelidado de “cozinheiro de Putin” pela agência norte-americana AP por os seus restaurantes e empresas de ‘catering’ organizaram jantares que Putin frequentou com dignitários estrangeiros.
Prigozhin também é suspeito de envolvimento em operações de desinformação através das redes sociais, incluindo para favorecer a eleição de Donald Trump nas presidenciais de 2016.
Por essa razão, figura na lista de pessoas procuradas pelo FBI, a agência federal de investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
“Prigozhin foi o principal financiador da Agência de Investigação na Internet (IRA) com sede em São Petersburgo. Ele supostamente supervisionou e aprovou as suas operações de interferência política e eleitoral nos Estados Unidos”, lê-se na página do FBI na internet.
As ações atribuídas a Prigozhin “foram alegadamente tomadas para atingir um número significativo de americanos com o objetivo de interferir com o sistema político dos Estados Unidos, incluindo as eleições presidenciais de 2016”, acrescenta.
O FBI oferece uma recompensa de 250.000 dólares (mais de 258.000 euros, ao câmbio atual) por informações que levem à detenção de Prigozhin.