As objetivos do Kremlin na nova fase da invasão da Ucrânia, iniciada na terça-feira, foram esta sexta-feira confirmados por um dos militares de topo do Kremlin. Segundo o Major-General Rustam Minnekaev, em declarações feitas à agência de notícias Interfax, a Rússia quer controlar não só o leste da Ucrânia (regiões de Luhansk e Donetsk), mas também o sul do país. O objetivo é abrir um corredor terrestre junto à costa da Crimeia (península anexada em 2014) até a Transnistria.
“Desde o início da segunda fase da operação especial, que começou literalmente há dois dias, uma das tarefas do exército russo é estabelecer o controlo total sobre Donbas e sul da Ucrânia. Isso fornecerá um corredor terrestre para a Crimeia“, confirmou o vice-comandante do distrito militar central russo, citado pela agência estatal TASS.
Acontece que a Transnistria é um território na Moldávia. A admissão russa de que pretende construir um acesso ao território pode indiciar um novo perigo de alargamento do conflito para lá das fronteiras ucranianas.
“O controlo do sul da Ucrânia é outro caminho para a Transnistria, onde também há indícios de que a população de língua russa está a ser oprimida”, disse agora o Major-General Rustam Minnekaev, repetindo o argumento usado pela Rússia para iniciar a invasão da Ucrânia, após reconhecer a independência das regiões separatistas de Luhansk e Donetsk.
O plano foi explicado por Rustam Minnekaev durante uma reunião com empresas do complexo militar industrial russo em Yekaterinburg (Urais). De acordo com o militar, este controlo assegurará também “influência nas infraestruturas vitais da economia ucraniana, os portos do Mar Negro, através dos quais os produtos agrícolas e metalúrgicos são entregues”.
RÚSSIA QUER CHEGAR A REGIÃO SEPARATISTA DA MOLDÁVIA COM OS MESMOS ARGUMENTOS QUE USOU EM LUHANSK E DONETSK
A região de Transnistria corresponde à faixa leste da Moldávia (zona assinalada com o cinzento tracejado no mapa da AFP em cima), país que se tornou independente após a queda da União Soviética. O pequeno território de língua romena mantém um governo pró-ocidental.
No entanto, nesta região o russo continua a ser a língua predominante e, tal como nas regiões já ocupadas da Ucrânia, o separatismo pró-russo persiste.
A região proclamou a independência em 1990 com a ajuda de forças militares russas, no entanto não é reconhecido nem pela Moldávia nem por nenhum estado-membro da ONU. Apesar do reconhecimento limitado e de nem aparecer na maioria dos mapas, o território tem operado como um país independente. Tem constituição, bandeira, hino, moeda e exército próprios.
A Rússia tem esta faixa territorial, delimitada pelo rio Dniester a oeste e a Ucrânia a este, um destacamento militar permanente.
MAIOR PORTO DA UCRÂNIA ESTÁ NA MIRA DAS FORÇAS RUSSAS
Esta é “a ameaça mais concreta” feita pela Rússia à Moldávia desde início da guerra, aponta o correspondente internacional do The Guardian, Pjotr Sauer.
“Estamos a combater o mundo inteiro, neste momento, como na Grande Guerra Patriótica”, afirmou também durante o encontro o Major-General Minnekayev, recorrendo ao nome dado na Rússia à Segunda Guerra Mundial (1939-1945). “Toda a Europa, todo o planeta estava contra nós na altura. Agora, é a mesma coisa, eles nunca gostaram da Rússia.”
A concretizar-se esta intenção, cidades como Odessa e Mykolaiv estarão na mira das forças russas. Odessa é o maior porto ucraniano e a terceira maior cidade do país. Em Mykolaiv, perto de Kherson, já há relatos de ataques e combates na área que esteve ocupada por forças russas e foi entretanto reclamada pelas forças leais a Kiev.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL