Todos aqueles que nasceram depois de 1995 não fazem ideia sobre o que era o ‘escudo’ e muito menos do que foram os ‘réis’. Os réis foram substituídos pelo escudo em 1911 o qual circulou até fevereiro de 2002. A equivalência aritmética do valor facial é a seguinte:
1.000 réis = 1 escudo = ½ cêntimo de euro, portanto será:
1€ = 200,82 $ = 200.820 réis (uma ‘fortuna’ no séc. XIX). Os submúltiplos são:
1€=100 cêntimos; 1$=100 centavos=10 tostões; 4 tostões = 1 cruzado, esta designação era semelhante à de Espanha: 4 pesetas = 1 duro.
Daí dizermos ‘vinte mil réis’, ou ‘dois mil e quinhentos’ (25 tostões) querendo significar dois escudos e cinquenta centavos. Também não é por acaso que quando não temos dinheiro dizemos ‘não tenho tostão’. Recordo-me de a minha avó paterna, que terá nascido por volta de 1870-1872, dizer que ia a Olhão levava 500 réis (5 tostões) e trazia o burro carregado de peixe, hoje teríamos que levar 300€ ou mais, foi a perda de valor da moeda face aos bens.
Chamava-se um ‘conto’ a 1.000$ porque equivalia a uma ‘contagem’ de um milhão de réis.
Esta relação numérica entre as moedas derivou da sua desvalorização na economia por causa da inflação. Esta representa a perda de valor da moeda face aos bens transacionáveis, quer internamente quer face ao exterior.
Se em Portugal tivéssemos continuado com os níveis de inflação do inicio da década de 90 e se não fizéssemos parte da zona euro, hoje estaríamos com o escudo novo, ou outra designação, para evitarmos os custos associados à escrita dos valores representados por uma moeda com muitos zeros, que era o caso da ‘lira’ italiana, era tudo aos milhões, isso tem custos elevados ao nível escritural.
No final da década de 90 o custo de produção de uma nota de vinte escudos, pela casa da moeda, era superior ao seu valor facial. Esta realidade acarreta custos enormes ao banco central de qualquer país. Por outro lado, tem a ver com as políticas económicas e monetárias adotadas pelos governos em funções.
Segundo o boletim estatístico de janeiro 2020, do Banco de Portugal, terão sido emitidos 243.805.956 notas, de todos os valores, desde o início da circulação do euro até dezembro de 2019, em dezembro 2010 estavam emitidas 433 milhões, deduzidas as notas que, entretanto, recolheram ao Banco de Portugal, são, portanto, as notas portuguesas em circulação. Tem havido uma tendência de diminuição de notas em circulação devido ao uso generalizado de cartões de crédito e de débito o que evita a sua utilização.
Por vezes ouvimos dizer que devíamos voltar ao ‘escudo’. Nada mais errado, só quem não percebe nada de moeda e política monetária ou quem esteja de má fé contra o país é que pode fazer tal afirmação. Algumas das consequências seriam: a falta de confiança na moeda, sub e sobre faturação, fuga intensa de capitais, possíveis movimentos especulativos internacionais contra a moeda – como aconteceu na década de noventa, inflação interna mais elevada, possível abuso da desvalorização monetária por parte de governos incompetentes ou que fossem a favor dos salários reais muito baixos, custos cambiais de quem vai ao estrangeiro e dos importadores e exportadores de bens, bem como outras não tão gravosas. É sempre vantajoso ter uma moeda forte ou pertencer a uma zona monetária com poder económico ao nível mundial.
Pelo que vimos, não é por prazer ou ideologia que um qualquer governo troca a moeda em circulação no país.
Faço votos para que Portugal utilize sempre uma moeda forte.