A dívida privada ao estrangeiro é elevadíssima e perigosa. Há uns anos seria superior a oitocentos mil milhões de euros. De onde surgiu essa dívida?
A dívida existe porque a sociedade consome mais do que produz e porque cada um de nós consome a contar com os rendimentos futuros. Dito assim é um bocado confuso.
A divida externa privada é da responsabilidade dos bancos e das grandes empresas.
Após o 25 de Abril os portugueses desabituaram-se de poupar, mas é o conjunto de todas as poupanças da sociedade que permitem as empresas fazerem investimentos ao irem pedir financiamento aos bancos onde as pessoas fazem os seus pequenos depósitos de poupanças.
Ora se ninguém fizer poupanças, os bancos veem-se na contingência de irem buscar dinheiro emprestado ao estrangeiro onde os seus cidadãos fazem poupanças. Não é por acaso que as remessas dos emigrantes são importantes para o país.
Quando nós compramos um carro a prestações, com toda a legitimidade, estamos a fazer despesa para além das nossas disponibilidades naquele momento, logo, consumo em excesso. Isto é válido para os carros, frigoríficos, televisões, telemóveis ou apartamentos. Estamos a consumir agora o rendimento que vamos ter daqui a alguns anos, é benéfico para nós mas é prejudicial para o país. Da mesma forma quando vamos a Espanha meter gasolina no carro é benéfico para nós, porque é mais barata, mas é indesejável para a economia do país porque é dinheiro que sai e impostos que entregamos a outro Estado.
Para todos os consumos de bens que compramos a prestações, os bancos, como não têm depósitos suficientes, têm que pedir dinheiro emprestado no estrangeiro, para evitar isso a sociedade tem que poupar mais.
Acresce que a maior parte dos bens de consumo duradouros são importados, portanto na prática estamos a pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro para comprarmos os bens que eles produzem através dos seus postos de trabalho e Portugal fica a ‘chuchar no dedo’. Os juros que os bancos portugueses pagam aos bancos estrangeiros são poupanças necessárias para o país se desenvolver!
Podemos argumentar que não poupamos porque os ordenados são muito baixos, mas o índice de poupança é independente disso, o facto é que o índice de poupança em Portugal é dos mais baixos ao nível mundial. Se aumentarmos muito os ordenados vai haver maior procura de bens porque a propensão à poupança é muito baixa. A maior parte da população mundial ganha, em média, menos de um euro por dia. Se têm dúvidas consultem os relatórios de desenvolvimento humano do PNUD – ONU.
Quando ouvirem dizer que estamos a consumir acima das nossas possibilidades podem ter a certeza que é verdade. Isto não significa que não devamos ter a liberdade e o prazer de consumir, embora existam muitos consumos desnecessários e por isso evitáveis. Precisamos de um carro mas não precisamos de comprar um carro novo todos os anos nem precisamos de um telemóvel de última geração!
Somos pobres e não nos organizamos de forma a inverter a nossa situação.