Durante décadas, sobretudo nos anos após a II Guerra Mundial, os objetos voadores não identificados (OVNIs) alimentaram teorias da conspiração e foram tidos por muitos como uma fantasia de chalupas que viram demasiados filmes e séries de ficção científica. Mas recentemente esta realidade tem vindo a mudar.
Os OVNIs tornaram-se assunto sério e invadiram até os meios de comunicação mais insuspeitos, do jornal “The New York Times” e da revista “The New Yorker” ao programa “60 Minutos” da CBS. Agora, depois de anos em que o tema foi um tabu para as autoridades dos EUA, o Congresso prepara-se para divulgar um relatório com tudo o que as agências governamentais sabem sobre “fenómenos aéreos não identificados” (um termo alternativo, e considerado menos estigmatizante, a OVNIs).
Mesmo antes do documento ser conhecido, várias gravações de alegados OVNIs têm merecido a atenção do Departamento de Defesa. No ano passado, o Pentágono confirmou a autenticidade de três vídeos realizados durante voos de treino da Marinha e divulgados entre dezembro de 2017 e março de 2018 pelo “New York Times”, incluindo um incidente, em 2004, em que objetos não identificados se aproximaram de porta-aviões dos EUA, a 160 quilómetros da costa de San Diego, e foram perseguidos por caças F/A 18. Foi o momento de viragem na discussão pública de um tema que até então era quase um tabu.
Em abril e maio deste ano, o Pentágono fez o mesmo em relação a dois outros vídeos, registados em 2019 por elementos da Marinha: um envolvendo objetos em forma de pirâmide que sobrevoaram o porta-aviões USS Russell, o outro mostrando um objeto não identificado a mergulhar no mar na costa da Califórnia.
A divulgação recente destas gravações, explica a revista “Super Interessante”, está relacionada com uma lei aprovada no ano passado pelo Congresso dos EUA, com o apoio de grande maioria democrata e republicana, e assinada pelo ex-presidente Donald Trump, que inicialmente criticou o projeto. Pensada para dar resposta à pandemia de covid-19, incluindo estímulos à economia e auxílios de emergência pagos a cidadãos norte-americanos, a lei das dotações H.R. 133 incorpora uma outra, o Intelligence Authorization Act 2021, que exige, como condição para financiar os serviços de informações, que a Marinha publique “uma análise detalhada de fenómenos aéreos não-identificados” e que o FBI os investigue.
Em agosto, o Departamento de Defesa criou uma task force para recolher dados de várias agências governamentais sobre estes misteriosos fenómenos e o relatório final será agora apresentado ao Congresso. Porém, não deverá trazer nova luz sobre a possibilidade destes fenómenos serem, afinal, a prova da existência de vida extraterrestre, como esperarão alguns aficionados das teorias especulativas. Segundo o “New York Times”, depois de rever mais de 120 incidentes avistados por pilotos militares entre 2004 e 2015, a task force não encontrou qualquer explicação para a maioria dos fenómenos relatados. A principal conclusão é a de que a vasta maioria dos incidentes registados não foram causados por tecnologia norte-americana.
Uma das hipóteses mais discutidas é a de muitos destes objetos se tratarem de drones experimentais de outros países (como a China ou a Rússia) que invadem o espaço aéreo dos EUA. Segundo Andrew Fraknoi, astrónomo da Universidade de São Francisco, a realidade é, porém, bem menos interessante: a maioria dos avistamentos de OVNIs pode ser atribuída a fenómenos terrestres ou celestiais, tais como as luzes de veículos ou lixo espacial a reentrar na atmosfera. “Recentemente, tem havido uma enxurrada de publicidade enganosa sobre OVNIs [baseada em relatórios militares]. Um exame sóbrio destas afirmações revela que há muito menos do que se pensa à primeira vista”, afirmou à revista “Scientific American”.
O relatório da task force terá um anexo com informação classificada, mantida longe dos olhares públicos, o que promete continuar a alimentar as teorias da conspiração.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso