Um grupo de 8 cozinheiros e ajudantes divide as tarefas para garantirem que, das suas mãos, saem as quase duas centenas de refeições por dia que são servidas às crianças do Centro Humanitário de Tavira ou devidamente acondicionadas em caixas para serem distribuídas pela Rede de Emergência Alimentar.
O ambiente e os uniformes aparentam o ambiente de um restaurante de luxo mas, na verdade, trata-se da cozinha do Centro de Apoio Integrado de Crianças do Centro Humanitário de Tavira da Cruz Vermelha Portuguesa.
Um grupo de oitos cozinheiros e ajudantes divide as tarefas para garantirem que, das suas mãos, saem as quase duas centenas de refeições por dia que são servidas às crianças do centro ou devidamente acondicionadas em caixas para serem distribuídas pela Rede de Emergência Alimentar.
A liderar este grupo está o ‘chef’ Rui Silveira, responsável pelo restaurante Vistas, em Vila Nova de Cacela, no concelho de Vila Real de Santo António, que em 2019 ganhou a sua primeira estrela Michelin.
Entre a preparação da refeição do dia revela à Lusa que o restaurante teve de fechar “por razões óbvias” com a equipa a ficar parada em regime de ‘lay-off’ mas, ao aperceberem-se que “havia pessoas a precisarem de ajuda, toda a equipa “decidiu aderir voluntariamente”, revela. Surgiu o projeto ‘Alimentar a Saúde’.
De início, a intenção era produzir refeições “para o hospital ou vários hospitais”, mediante a necessidade, revela Rui Silveira. Começaram por utilizar a cozinha do restaurante, mas o convite da Cruz Vermelha de Tavira tornou possível “expandir a iniciativa e começar a cozinhar também para as crianças e para famílias desfavorecidas”.
Após a implementação das medidas de combate à pandemia da covid-19, as crianças que frequentavam a creche do centro foram para casa e a cozinha encerrada, mantendo-se apenas a funcionar a Casa de Acolhimento que alberga 18 crianças e adolescentes.
“Quando soubemos da iniciativa do ‘chef’, resolvemos aderir e disponibilizar as nossas instalações para que a oferta possa ser aumentada”, adiantou o diretor do centro humanitário de Tavira da Cruz Vermelha Portuguesa, Manuel Marrafa.
A equipa de Rui Silvestre passou a garantir o almoço e jantar para as crianças que permanecem institucionalizadas e uma refeição diária para os lares e outras entidades.
“Limitamo-nos a produzir as quantidades que conseguimos e cabe à Rede de Emergência Alimentar a gestão e a quem são entregues”, realça o ‘chef’.
Diariamente preparam menus completos com sopa, prato vegetariano, de carne ou peixe e uma sobremesa, numa experiência que parece agradar ao palato dos mais novos. Uma das adolescentes do centro revela à Lusa que nunca tinha experimentado tantos “sabores diferentes”, a “surpresa” da sopa de alface, assim como “a variedade de temperos” utilizados na comida.
Rui Silvestre adianta que o objetivo da cozinha é “preparar pratos com bons produtos, da forma mais correta possível” e é precisamente isso que estão a fazer. “Conseguir alimentar as pessoas de uma forma correta para que tenham todos os dias uma refeição cuidada” defende.
O projeto não tem prazo, mantendo-se “até que seja possível”, e enquanto houver voluntários e apoio de várias instituições.
De momento estão a trabalhar “quase exclusivamente” com a Makro, mas a esperança é que “mais empresas se juntem com doação de produtos”, para poderem “continuar isto durante muito mais tempo”.
“Espero que depois de tudo isto as pessoas saiam diferentes a perceber que precisamos uns dos outros”, conclui.
Num outro ponto da cidade de Tavira, a Cruz Vermelha garante o apoio a pessoas em situação precária e sem abrigo no Refeitório Social com mais de 300 refeições diárias, agora entregues pela janela, já que o plano de contingência obriga a manter a porta fechada.
É à porta que a Lusa encontra Cosmin Marusan, cidadão romeno de 26 anos no segundo dia que recorre ao refeitório social. Há dois anos que trabalhava como jardineiro “sem contrato de trabalho” revela. Com a pandemia foi “dispensado pelo patrão” e viu-se obrigado a “pedir ajuda”. Só depois de referenciado pela Câmara de Tavira é que começou a receber apoio alimentar, pelo qual diz “estar muito agradecido”.
Com o saco da comida que acabou de receber, numa mão, e um cachorrinho pequeno que resgatou da rua, na outra, segue para casa, com o regresso marcado para amanhã à mesma hora, numa viagem que passou a marcar a sua rotina diária.