O casal de portugueses que ficou em prisão preventiva em Espanha por ser suspeito de realizar vários assaltos em Espanha dividiu-se sobre a sua entrega às autoridades nacionais, segundo despachos do juiz da Audiência Nacional de Madrid.
De acordo com os autos, a que a Lusa teve acesso, Nélida Alves Guerreiro, de 40 anos, declarou a sua oposição à entrega às autoridades portuguesas, ao abrigo do mandado de detenção e entrega apresentado por Portugal através da Interpol. Em sentido oposto, Sidney Pereira Martins, de 42 anos, não contestou a extradição.
“A fim de ser julgada pelo tribunal requerente, tendo em conta as circunstâncias do caso e da pessoa requerida, destacam-se: a recusa da pessoa requerida em consentir a entrega (que teria determinado a disponibilização imediata à autoridade judicial emissora), demonstrando a sua vontade de se subtrair ao controlo da referida autoridade”, referiu o juiz Joaquin Gadea no despacho relativo a Nélida Alves Guerreiro.
Relativamente a Sidney Pereira Martins, o magistrado do sexto juízo central de instrução da Audiência Nacional de Madrid escreveu que “tendo em conta as circunstâncias do caso e da pessoa requerida, cabe destacar o consentimento da pessoa procurada para a entrega (o que obriga a assegurar a entrega rápida e efetiva à autoridade judicial emissora)”.
Os mandados de detenção emitidos pelo Tribunal de Faro para os dois suspeitos, apelidados pela imprensa de “Bonnie & Clyde” portugueses, não abrangem as suspeitas de ligação do casal a um triplo homicídio em Bragança – ainda em investigação pelas autoridades portuguesas -, cingindo-se aos crimes ligados aos assaltos em Portugal e Espanha.
Neste âmbito, o despacho referente a Nélida Alves Guerreiro cita mais crimes no mandado europeu de detenção e entrega, tais como “roubo, coação agravada, danos, falsificação de documentos, posse de arma proibida e condução perigosa”. O documento sobre Sidney Pereira Martins faz apenas referência a “roubo com intimidação”.
Em comum, o magistrado sublinhou nos despachos “a ausência de justificação fiável e válida relativa às raízes em Espanha” dos dois cidadãos portugueses, considerando que essa situação representa “um certo risco de evasão à ação da justiça (que deve ser evitada, a fim de assegurar a finalidade da execução do mandado europeu)”. Nesse sentido, entendeu estarem reunidas todas as condições para justificar a ordem de prisão preventiva.
Fonte da Audiência Nacional explicou ainda à Lusa que os dois cidadãos portugueses dispõem agora de um prazo de cinco dias para apresentar um eventual recurso da prisão preventiva decretada pelo juiz de instrução. Joaquin Gadea determinou também a comunicação da sua decisão ao consulado de Portugal na capital espanhola.
Os suspeitos terão assaltado estações de serviço no Algarve, antes de cruzarem a fronteira em Ayamonte, em finais de julho, tendo em Espanha prosseguido os assaltos violentos a estações de serviço em Sevilha, Badajoz e Toledo, usando sempre o mesmo ‘modus operandi’ de intimidação dos funcionários com uma arma e uma faca. São também suspeitos de terem roubado um veículo no bairro madrileno de Moncloa.
Nélida Alves Guerreiro e Sidney Pereira Martins foram detidos em Zamora depois da denúncia de um cidadão, ao reconhecer os suspeitos num centro comercial, ter alertado no final de sábado a Guardia Civil.