Entre a ria, o pinhal e o mar, a Ilha de Tavira esconde um dos seus grandes tesouros: o Parque de Campismo. Criado há cerca de 40 anos por funcionários da Câmara tavirense, é hoje um atractivo, “sobretudo para espanhóis, alemães e ingleses, que encontram neste cantinho a tranquilidade que não há em mais lugar nenhum”, garante José Manuel Guerreiro, vereador do Ambiente, Desporto e Equipamentos do município de Tavira.
Com cerca de 15 mil metros quadrados e a menos de 500 metros da praia, no Parque de Campismo da Ilha de Tavira “não falta nada”. “Temos um bar, exclusivo para os utentes do parque, lavandaria, cozinha comunitária, balneários, fogareiros comunitários, espaços de lazer, um quiosque, instalações para pessoas com mobilidade reduzida, parque infantil, multibanco, espaço para montar tendas, tendas para alugar, já equipadas com camas, mesa, frigorífico, fogão e utensílios de cozinha. Iremos ter também um supermercado que já está concessionado, portanto, a abertura está para breve”, frisou Luís Gago, responsável pelo parque.
Em caso de ser necessária assistência, existe na Ilha uma equipa de enfermeiros durante o dia e uma equipa de Bombeiros que garante a segurança durante a noite.
Número de utentes diários do Parque aumenta mais de 60%
Apesar de ser propriedade da Câmara de Tavira desde a sua abertura, o parque começou a ser explorado pela autarquia apenas há dois anos, depois da falência da anterior concessão. “O parque estava acabado, a Câmara teve de o reerguer, precisava de limpeza, de desinfestação das areias e de organização. Quando eu vim aqui pela primeira vez as ervas chegavam-me aos joelhos e isto estava medonho, não podíamos ficar indiferentes”, afirma o autarca José Manuel Guerreiro.
“Adequámos os valores para preços acessíveis, que permitam às pessoas vir até cá. Reerguer o parque só é possível se trouxermos pessoas e isso só se consegue se o valor a pagar for justo para o serviço que se presta”, continua.
O facto é que este ano a autarquia já nota mais movimento. “De 300 cartões activos por dia – cada cartão de entrada e saída corresponde a um utente – passámos para 480, o que já é um aumento significativo”, conclui.
Parque leva centenas de crianças à Ilha de Tavira
O dia no parque começa cedo. Pelas 7.30 horas a maioria dos utentes já está a pé. “Uns vão à pesca, outros vão dar um mergulho à praia e outros até preferem o rio. À noite a animação fica a cargo dos concessionários da ilha.”, explica Luís Gago.
É também de manhã que chegam as associações que, inseridas no programa Férias Activas, promovido pela autarquia, trazem, no período de férias, miúdos para actividades entre a natureza e o mar.
“É uma maravilha, o melhor sítio para vir com as crianças, temos segurança, está tudo organizado e tem todas as condições”, garante Fernando Minhalma, presidente do Tavira Natação Clube, que neste dia se fazia acompanhar de mais de duas dezenas de reguilas.
“Entre Junho e Julho o parque recebe muitas associações para fazer estágios de Verão. Desde modalidades como o karaté, andebol e futebol, tanto de Tavira como do resto do país”, afirma Luís Gago. “Recebemos também crianças do município de Alcoutim, que vêm aqui por ser a única possibilidade de ter o contacto com a praia”, acrescenta.
“Tudo isto só é possível porque é a Câmara a explorar o parque. Nós estamos aqui a prestar um serviço e os privados querem é ganhar dinheiro”, aponta o vereador.
Tavirenses têm desconto em qualquer lugar livre do Parque
Com o espaço a ser explorado pela Câmara, o panorama alterou-se. “Antigamente, quando era concessionado, existiam cinco zonas no acampamento. Havia a zona das tendas de aluguer, a zona dos alvéolos, a zona dos ‘residentes’ – utentes que se mantém no parque durante os três meses em que está aberto -, a zona dos funcionários da Câmara e a zona dos tavirenses, porque havia preços diferenciados para toda a gente”, explica Luís Gago.
“Os tavirenses tinham e têm um desconto de 50%, que faz parte do caderno de encargos do município, e a empresa responsável pelo parque mandava os tavirenses para a zona “menos nobre”. Com a Câmara a explorar deixaram de existir lugares marcados, à excepção dos alvéolos e da zona dos ‘residentes’, porque é uma estrutura de tendas que é o próprio parque que monta, todo o restante espaço pode, agora, ser ocupado por qualquer pessoa que leve tenda, seja residente ou não. Existir esta distinção não fazia qualquer sentido para nós, portanto o desconto mantém-se mas a pessoa escolhe o local onde quer ficar”, frisou o vereador.
Férias de uma vida dedicadas ao campismo
Com ou sem desconto há pessoas que frequentam este espaço há mais de 30 anos e que já têm o seu lugar marcado. “No primeiro dia em que abro o parque, forma-se uma fila, sempre com as mesmas pessoas, que vêm só para marcar o lugar delas e começar a montar logo tudo, porque para trazer coisas para os três meses de estadia chegam a levar duas semanas”, salienta Luís Gago.
Jaqueline Sequeira é um desses casos. Uma das mais antigas “residentes” do acampamento da Ilha, vem aqui há 39 anos.
“Faça o favor de entrar”, exclamou Jaqueline assim que nos aproximámos. “Pode sentar-se aqui um bocadinho”, convidou, e o POSTAL aceitou.
“Venho aqui há 39 anos com o meu marido – conhecido em todo o parque como o ‘senhor Manel’ -, adoramos isto, os meus filhos aprenderam a nadar aqui. É calmo, é seguro, ninguém nos chateia, estamos ao ar livre e eu gosto desta liberdade”, conta.
“Inicialmente trazíamos uma tenda pequena e vínhamos só um mês mas assim que nos reformámos começámos a entrar aqui no dia em que abre e a sair no dia em que fecha”, continua a senhora, que se faz acompanhar por uma “vizinha” que partilha a mesma paixão pelo campismo.
“Há pessoas que não compreendem por que passamos aqui tanto tempo, mas isto é maravilhoso. Eu trabalho por turnos e quando faço noites apanho o primeiro barco da manhã e venho para cá”, diz Libânia Gonçalves. “Mas as pessoas que não compreendem é porque nunca experimentaram”, acrescenta a campista, desafiando todos aqueles que se queiram aventurar pelas andanças das tendas e dos fogareiros.