“A minha mãe teve 11 filhos, quatro caíram na droga. O que está a desgraçar os jovens é essa porcaria do bloom. Pulam, dançam, falam sozinhos, falam como se estivessem duas ou três pessoas com eles.”
Maria tem 47 anos, aos 10 saiu da escola para ajudar a mãe a cuidar dos irmãos, que eram muitos, como em quase todas as famílias de pescadores de atum do Caniçal.
“Mudei fraldas, dei biberões, são os meus meninos, serão sempre.” Por isso no último Natal moveu mundos e fundos para internar um dos irmãos, “aquele que está no fundo do poço”. Com a ajuda do diretor da Casa de Saúde de São João de Deus, no Funchal, conseguiu mantê-lo em tratamento durante um mês.
Esteve limpo quatro meses, mas voltar ao Caniçal trouxe-o para as velhas rotinas, para o lugar onde se consome e se vende. “Agora já ouve e vê coisas, fala sozinho e diz coisas trocadas. É dessa porcaria.”
Maria não se arrepende do que fez: já pagou dívidas do irmão só para a polícia não o levar algemado e levou fruta, roupas, pijamas, tudo o que foi preciso para o manter em tratamento e dar paz à mãe.
Sabe o que pode acontecer no limite. “Tenho um primo que se atirou de uma casa. Disse ‘agora vou voar’ e partiu uma perna. Tudo por causa do bloom”.
– Notícia do Expresso, jornal parceiro do POSTAL