Bianca Rosa tinha quatro anos quando fraturou a tíbia e ficou com uma ferida na zona do calcanhar ao cair de bicicleta. Nesse mesmo dia, foi avaliada por profissionais de saúde, e encaminhada para casa, uma vez que o serviço de ortopedia não tinha nenhum médico de serviço. Foi solicitado à mãe que se deslocasse com a filha no dia seguinte para a colocação de gesso. Um mês depois, na retirada do gesso, a menina apresentava uma necrose no calcanhar.
Eugena Rosa, a mãe da menina, contava na altura que “no dia 21 de abril [de 2020] a minha princesa deu entrada na Pediatria do Hospital de Faro com uma fratura na tíbia e uma pequena ferida. Sim, digo pequena porque como está agora não era nada. Adiante, nesse mesmo dia não foi possível colocar gesso, pois não havia ortopedia, mas o enfermeiro que viu a minha filha disse logo que a menina teria que fazer penso mesmo colocando o gesso”.
“Voltámos no dia seguinte para colocar o gesso e eu disse ao médico o que o enfermeiro me tinha dito. O médico afirmou que não valia a pena fazer penso pois era uma ‘ferida pequena’. Nessa noite a minha filha não dormiu porque estava cheia de dores. No dia seguinte, fomos de novo ao hospital, onde outro médico chamado Bernardo voltou a dizer que não havia necessidade de fazer penso e voltou a pôr gesso. Ontem, passado um mês, voltámos para tirar o gesso. A minha filha ao longo desde mês tinha queixas, mas nada de especial. Qual não foi o meu espanto, quando o dito médico tirou o gesso à minha ‘princesa’ e ela tinha um buraco preto no calcanhar. Questionei o médico que revelou que a menina tinha uma necrose, mas para eu não me preocupar e colocar ‘betadine’ em casa”, relata Eugena.
“Saí do hospital em pânico. Liguei para o meu marido a contar a situação e ele disse-me para ir à minha médica de família. Assim fiz. Quando mostrei à médica e à enfermeira a ferida da minha filha, elas nem acreditaram no que estavam a ver. A minha filha tem uma necrose grave. Está a medicação, a fazer tratamento ao pé e, depois disto, possivelmente ainda terá que fazer fisioterapia. Tudo isto porque o dito médico disse-me que não valia a pena [colocar penso]. Já fui apresentar queixa e mostrei às enfermeiras que estavam de serviço incluído o enfermeiro que nos tinha atendido no primeiro dia e ficaram chocados”.
A mãe conta que o que fizeram foi “negligência médica” e que fez reclamação no hospital e na Ordem dos Médicos também.
Por ‘ironia do destino’, Bianca é amiga de Naiara, a criança que esta terça-feira também caiu a andar de bicicleta e que ficou com uma ferida no pé direito. A mãe, Janete, também a levou ao Hospital de Faro. A menina também não terá tido a atenção devida e também teve alta. Dois dias depois, a criança regressou à unidade hospitalar com uma necrose no pé.