A cerimónia de atribuição da Chave de Honra da Cidade de Faro ao ator Ruy de Carvalho terá lugar no próximo dia 21 de dezembro, no Teatro das Figuras, após apresentação da peça “Ruy, a História Devida”, com início às 21:30.
Figura máxima do teatro em Portugal sobe ao palco na próxima quinta-feira, abre o coração e conta histórias inéditas da sua longa e inspiradora carreira.
E porque não é todos os dias que Ruy de Carvalho está perto do público, este é convidado a fazer perguntas ao ator, fazendo desta experiência mais do que um espetáculo, mas uma conversa intimista entre amigos.
Nascido em Lisboa, em 01 de março de 1927, Ruy de Carvalho, o ator com mais prémios em Portugal, fez a estreia profissional em 1947, na Companhia Rey Colaço-Robles Monteiro, na peça “Rapazes de hoje”, de Roger Ferdinand, refere a Agência Lusa.
A estreia como amador acontecera antes, em 1942, no Grupo da Mocidade Portuguesa, com a peça “O Jogo para o Natal de Cristo”, encenada por Francisco Ribeiro, conhecido como Ribeirinho
Frequentou em seguida o Conservatório Nacional, passou ainda pelo Teatro-Estúdio do Salitre, para interpretar peças de Luiz Francisco Rebello, Rodrigo de Mello e de João Pedro de Andrade, antes da profissionalização.
O reconhecimento do trabalho no Nacional D. Maria, com a companhia residente, Rey Colaço-Robles Monteiro, levou-o de imediato a palcos como os do Teatro Avenida, Monumental, onde contracenou com Laura Alves, Teatro do Povo e ao Teatro Moderno de Lisboa.
Em 1963, assumiu a direção artística do Teatro Experimental do Porto, onde fez a única experiência como encenador, em “Terra Firme”, de Miguel Torga.
Fez ainda parte de companhias como a do Teatro Maria Matos, onde se encontrava a companhia residente da RTP. Trabalhou com a Empresa de Vasco Morgado, com o Teatro do Arco da Velha, com a Companhia Rafael D’Oliveira – Artistas Associados, a Companhia de Comédia Assis Pacheco, a Companhia de Comédia Ligeira.
Em 1978, fez parte do relançamento do Teatro D. Maria II, onde permaneceu no elenco residente e do qual se despediu nos anos de 1999-2000, com encenações de “Rei Lear”, de Shakespeare, “Frei Luís de Sousa”, de Almeida Garrett, e “O poder da Górgone” e “Real Caçada ao Sol”, ambas de Peter Shaffer.
Com o encenador Filipe La Feria, protagonizou os musicais “Passa por mim no Rossio” (1992) e “Maldita Cocaína”(1994), em que contracenou com Simone de Oliveira, e ainda “A Casa do Lago”, de Ernest Thompson (2002), que liderou com Eunice Muñoz, ao lado de Pedro Lima, Maria de Lima e Luiz Zagalo.
Estreou-se na televisão em 1957, com o aparecimento da RTP, onde fez o “Monólogo do Vaqueiro”, de Gil Vicente, cujo texto ainda hoje diz, com a mesma garra, na segunda peça que continua a representar em palcos portugueses, “Ruy, a história devida”, um texto de Paulo Coelho com encenação de Paulo Sousa Costa, que apresenta no Auditório 1 do Tagupark e que leva em digressão pelo país.
Se protagonizara a primeira peça apresentada na televisão, em Portugal, participou também na primeira telenovela portuguesa, “Vila Faia” (1982), dirigida por Nuno Teixeira, igualmente para a RTP, dando vida à figura de Gonçalo Lorena Marques Vila.
Em Espanha, participou num concerto de encerramento da temporada do Teatro Monumental de Madrid, onde levou “Orfeu”, com textos de Fernando Pessoa e música de Pablo Rivière, a convite do encenador Simon Suarez. Também foi “Fígaro”, de José Ramon Encinar, no Teatro Lírico La Zarzuela, na capital espanhola.
O filme “Eram 200 irmãos” (1951), de Armando Vieira Pinto, marcou a sua estreia no cinema. Entrou também nos elencos de “Pássaros de Asas Cortadas” (1963), de Artur Ramos, “Domingo à Tarde” (1965), de António Macedo, “A Bicha de Sete Cabeças” (1978), igualmente de Macedo, “O Cerco” (1969), de António da Cunha Telles, “Cântico Final” (1974), de Manuel Guimarães, filmes que marcaram a emergência e afirmação do Cinema Novo português.
No ano de 1990, entrou em “O Processo do Rei”, de João Mário Grilo, e “Non ou a Vã Glória de Mandar”, de Manoel de Oliveira, com quem trabalhou ainda em “A Caixa” (1994) e em “O Quinto Império — Ontem Como Hoje” (2004).
Ruy de Carvalho recebeu inúmeros prémios ao longo da sua carreira
Ruy de Carvalho recebeu os prémios Imprensa de Teatro, em 1962, 1981, 1982 e 1986. Em 1962, recebeu o Prémio de Popularidade, bem como o Prémio da Crítica da antiga Revista Rádio e Televisão. Foi ainda distinguido com os Prémios da Crítica de Cinema em 1965, 1966 e 1971 e o Prémio da Revista Plateia, pelo desempenho em “Domingo à Tarde”.
Teve ainda os prémios Mais, da Rádio Comercial, em 1991, os Setes de Ouro do jornal Sete, em 1981, 1986 e 1990, o Prémio Nova Gente em 1991 e o Prémio da Rádio Comercial para Melhor Ator em Declamação.
Prémio Bordado de Imprensa de Carreira, em 1995, Globo de Ouro de Carreira e de Personalidade, em 1998, além do Globo de Ouro para Melhor Ator do Ano, pelo desempenho de “Rei Lear”, no Teatro Nacional D. Maria II, numa encenação do britânico Richard Cottrell, constam ainda do palmarés do ator.
Melhor Ator de ficção (2001), Medalha de Prata da Cidade da Covilhã, onde chegou a viver, Prémio Carreira do Festival de Almada 2009 são outros dos prémios do ator que, desde a estreia como amador, soma 81 anos de percurso artístico.
No ano passado, quando completou 95 anos, recebeu a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, entregue pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Em 2012, nos 70 anos de carreira, recebeu foi a vez da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, entregue por Cavaco Silva, que se juntou à Comenda e ao Grande Colar da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada que recebeu, respetivamente, em fevereiro de 1998, do Presidente Jorge Sampaio, e em março de 2010, também de Cavaco Silva.
Em 1993, Mário Soares entregou-lhe o grau de comendador da Ordem do Infante, que juntou à Medalha de Mérito Cultural, atribuída pela Secretaria de Estado da Cultura, em 1990.
Pai de dois filhos, Paula de Carvalho e João de Carvalho, também ator, Ruy de Carvalho é ainda avó do também ator de Henrique de Carvalho, contracenando com ambos em “A ratoeira”, uma das peças que se mantém em cena há mais tempo e que, em Portugal, tem encenação de Paulo Sousa Costa.
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