Em 1975 apoiei as nacionalizações que então existiram. Muitas foram um erro.
Naquela época eu trabalhava num banco, vi e ouvi muitas coisas lá dentro, como promover pessoas a diretores mas sem haver funções para desempenharem. Vi entrarem pessoas para lugares de chefia só porque tinham sido assessores de ministros, apesar da sua pouca idade. Em situações de reivindicações ouvi dizer muitas vezes que se o banco tivesse prejuízo não fazia mal porque o Estado punha o dinheiro que fizesse falta. Assisti a ‘ultrapassagens’ em concursos internos só porque os cartões de certos partidos tinham uma ‘côr muito bonita’, as células locais dos partidos dividiam entre si lugares e promoções.
O Estado nacionalizou mas não criou um sistema de auditoria para verificar se existia uma boa gestão empresarial.
Contactei durante vários anos, por motivos de serviço, com um certo serviço da Junta do Crédito Público do Ministério das Finanças, onde me eram narradas situações iguais. Ouvi dizer o mesmo de várias empresas que tinham sido nacionalizadas. Conheci um gestor público que nessa altura já tinha levado seis empresas à falência e a empresa que estava a gerir já ia pelo mesmo caminho, “eram empresas públicas não fazia mal”.
Há poucos dias dizia alguém altamente responsável que se o Estado não tivesse entrado no capital da TAP, agora os passageiros levavam com os preços mais altos. Eu digo que os portugueses levaram com os custos diretos dessa entrada no capital e quando a empresa deixar de ser rentável, por motivos internacionais, os privados deixam a empresa e o Estado que fique com ela, os portugueses que se ‘xaringuem’ com os impostos, como dizem os algarvios da parte do Algarve que ainda é algarvia.
É estranho que se celebrem parcerias público privadas que dão prejuízo para o Estado e que continuem, mas por outro lado termina-se com a PPP da saúde em Vila Franca de Xira que tem dado lucro e, segundo dizem, a funcionar bem.
O Estado não tem vocação empresarial, deve deter apenas algumas empresas para garantir o fornecimento de bens ou serviços não produzidos pelo setor privado e que sejam essenciais à comunidade. Uma grande empresa deve ter autonomia financeira e não estar à espera que os investimentos necessários sejam aprovados pela tutela e as verbas necessárias inscritas no orçamento do estado à espera que seja aprovado. O financiamento é uma necessidade diária e deve estar disponível ou quase disponível sem as burocracias próprias do Estado.
A minha experiência de vida leva-me a crer que alguns partidos estão interessados que existam empresas públicas apenas para garantirem empregos para os seus militantes mais destacados.
Foi por tudo isto que deixei de apoiar a realização de nacionalizações.