Se há coisas que as marcas de carros fazem relativamente mal são os interfaces. Há uma quantidade de novos protagonistas no mundo automóvel. Um exemplo claro é o de Elon Musk, goste-se ou não se goste decidiu construir um carro elétrico e entrar num clube que não o queria, o dos construtores de automóveis. Não só o clube teve que o aceitar como mudou o clube, foi uma pedrada no charco e, não sendo o único factor, longe disso, tem grandes responsabilidades no que é hoje o mercado automóvel. Uma das críticas mais frequentes aos seus modelos da Tesla é que são computadores com automóveis à volta.
Ora o problema da maior parte dos construtores é que estão a tentar colocar cada vez mais computadores dentro dos seus automóveis seguindo o processo inverso ao da Tesla. E fazem-no bastante mal, verdade se diga, entre botões, ecrãs tácteis, comandos de voz e uma enorme quantidade de sensores, os construtores de automóveis tradicionais fazem uma bela trapalhada. Tempos houve em que, com pequenas mudanças de detalhe seria possível sentarmo-nos em qualquer carro e perceber imediatamente todo o seu funcionamento, desde o volante aos comandos do ar condicionado.
A Tesla é o exemplo acabado da confusão criada, mesmo sendo o representante por excelência da nova geração de veículos, torna-se arriscado mudar a temperatura do habitáculo sem parar o carro, tal é a confusão de menus no grande ecrã que gere todas as funções customizáveis da máquina.
Pior ainda, porque a curva de aprendizagem para cada carro demora mais a cada novo modelo. Cada construtor tem os seus menus ou combinação de menus e botões, é confuso.
Nos últimos tempos, e sobretudo depois do último evento para programadores da Apple, é nítido qual vai ser o caminho. A Apple e a Google estão numa guerra aberta pelos comandos dos nossos carros. Graças à experiência que têm com computadores, com telemóvel e com os muitos laboratórios dedicados, estão em melhor posição para tomar conta dos ecrãs dos nossos carros que os próprios construtores. Em vez de serem um acrescento às capacidades do carro, com o telemóvel, passarão a controlar tudo, desde o velocímetro à regulação dos bancos, e tudo o que vemos nos ecrãs terá origem numa destas empresas.
O mais certo é que cada marca, ou grupo de marcas, opte por fazer parcerias e escolher quem vai tratar dos menus do utilizador, ou eventualmente o utilizador poderá optar pelo mesmo carro com versões diferentes dos menus. Quer o seu carro com Apple ou Android? Mas parece-me menos provável. Este é provavelmente o verdadeiro negócio para o qual Google e Apple apontam enquanto nos distraem com protótipos (esquecidos no caso da Google) ou boatos de um carro Apple que já parece um mito como o unicórnio.
No meio desta guerra, mais uma vez os chineses provam que já não fazem meras cópias e estão também a prever o futuro. A DJI, a principal marca de drones do mundo está a aproveitar os seus conhecimentos para se lançar também no mercado automóvel. Mais uma vez, não com um carro de marca própria mas com uma linha de sensores e de programas orientados para os futuros carros autónomos e para as gerações intermédias. São sistemas de estacionamento, sensores de veículos e da estrada capazes de permitir manobras complexas, são os olhos, os ouvidos, os radares e os cérebros dos carros do futuro.
Mais uma área em que muitos dos construtores andam relativamente perdidos e era preciso que alguém com conhecimentos aproveitasse a confusão. Levanta-se a voz da DJI para controlar este importantíssimo mercado. Só que a Apple e a Google são americanas na sua origem, a DJI é chinesa e não me admira que, tal como fez com a Huawei a administração americana venha a querer decidir que é perigoso que o hardware, as máquinas que serão os cérebros dos carros autónomos, sejam fabricadas na China.
- Texto: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL