Quem esta terça-feira entrar no Twitter pode não perceber por que motivo o nome Miguel Milhão é o assunto do momento em Portugal, mas o fundador da Prozis saltou para o centro da polémica e está a ser fortemente criticado devido a uma publicação no Linkedin: “Parece que os bebés que ainda não nasceram têm os seus direitos de volta nos EUA. A natureza está a recuperar”. Tratava-se de uma alusão direta ao facto de o Supremo Tribunal dos EUA ter revertido a decisão do caso Roe vs Wade, abrindo a porta para que vários estados avancem com leis anti-aborto.
O post, partilhado no domingo, quando estava a meio de uma “churrascada com amigos e familiares”, provocou reações inflamadas e arrastou a Prozis para um vulcão de críticas. A publicação acabou mesmo por ser apagada posteriormente, mas isso não abafou o ruído provocado nas redes sociais. As palavras de Miguel Milhão foram alvo de imensas reações negativas e, esta terça-feira, o fundador da Prozis decidiu comentar a polémica no podcast interno “Conversas do Karalho”.
Ao longo de 43 minutos, o empresário afirmou que a indignação gerada pela sua opinião relativamente ao aborto “é tudo uma hipocrisia”, referindo-se aos críticos como “pulhecos de merda” e até pior. “Não gosto destes filhos da p***, desta canzoada toda”, atirou.
“O que eu quis dizer é que, efetivamente, os bebés que ainda não nasceram estão a ganhar direitos. Não estou a falar das mulheres”, explicou Miguel Milhão, assegurando que a sua posição contra o aborto “nem religiosa é; é ética”.
Para o fundador da Prozis, “a vida começa na união de um espermatozóide e de um óvulo”, acrescentando que “a natureza é um sistema e não tem lógica em nenhum sistema haver a destruição da espécie”.
Na perspetiva de Miguel Milhão, “matar um embrião ou matar um feto é a mesma coisa que matar uma criança ou um adulto”. Por outras palavras, “matar bebés é a pior coisa que há”, “é o mesmo que assassinar uma pessoa”, sentenciou o empresário. “Não consigo ultrapassar a ideia de que [o aborto] é roubar todas as experiências futuras a uma criatura que é um ser humano”, advoga Miguel Milhão, que “preferia comer terra do que mudar de ideias”.
“A PROZIS NÃO PRECISA DE PORTUGAL”
Durante o episódio do podcast, o fundador da Prozis admitiu que “sabia que o pessoal ia reagir, mas não sabia que o pessoal ia ser tão agressivo”, o que, ainda assim, parece não o incomodar. “Não preciso de Portugal e não preciso da Prozis. Tenho recursos ilimitados. Não me faz espécie”, garantiu num tom provocatório. “A Prozis não precisa de Portugal, é uma empresa internacional. A Prozis será talvez a marca portuguesa mais conhecida fora de Portugal”, referiu o empresário.
Por várias vezes, Miguel Milhão insistiu na ideia de que a sua opinião sobre o aborto não vincula de forma alguma a Prozis. “A Prozis não tem ideias. É uma empresa privada que vende produtos e serviços, orientada para o lucro”, explicou, realçando, no entanto, que os valores da empresa “têm uma estrutura judaico-cristã”.
“Se é para cancelar alguém, cancelem-me a mim, que eu até pago por essa merda”, reagiu Miguel Milhão. “Eu sou incancelável. É impossível cancelarem-me”, avisou prontamente.
“Se perdemos dinheiro ou sofrermos por causa disso, é uma fatura que tem de se pagar. Mas nós não vamos ser manipulados nem empurrados por esta mob”, afirmou o empresário, para quem “esta ditadura das ideias é a pior que há”. “Isto não é a Coreia do Norte”, observou. “Começa-se a pensar que as pessoas devem ser todas iguais, todas formatadas. Para mim, isso é o princípio do fim das civilizações”, sustentou Miguel Milhão.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL