Vejo tantos deputados, ministros, secretários de estado e outros que tais, opinarem sobre a pobreza que chega a ser confrangedor ver que de pobreza só conhecem a palavra e nada fazem para a diminuir.
Viveram sempre bem, nunca lhes faltou aquilo que queriam, nunca viram lágrimas dos pais por não terem nada que lhes dar de comer, nunca sentiram a fome diária, nunca ouviram a pergunta ‘porque somos nós tão pobres se nos cansamos com trabalhar toda a vida’, nunca sentiram o cansaço de trabalho honesto, nunca estiveram seis meses sem trabalho nem qualquer outra fonte de rendimento, nunca pararam para ver a miséria daqueles que trabalharam duro toda a vida, a sua única pobreza é na inteligência e na humildade de ver a realidade tal como ela é.
São ricos em discursos ocos, em retórica jornalística de biblioteca, em conceitos e trocadilhos linguísticos, em artimanhas politiqueiras e em leis que os favorecem.
Falam ao espelho e batem palmas, sussurram nos corredores e nos restaurantes finos à custa do enrugamento da pele de quem trabalha e vive na miséria, só se esforçam para construírem requintados malabarismos para a sua família e amigos viverem bem.
Oradores exímios chamam irmãos aos pobres, mas tratam-nos com desdém, escarnio e pura maldade. Não assumem os erros e dizem que os culpados são os pobres porque não trabalham o suficiente.
A pobreza de quem não tem cama nem mesa não é um estado de espírito, é uma condição criada e perpetuada por gananciosos. Os filhos seguir-lhes-ão as pegadas.
Os sem-abrigo, desencantados com a vida, não gerem os negócios do estado com os impostos dos contribuintes a servirem para tudo menos para o que é essencial. Os mais miseráveis de entre os miseráveis têm o sol, a lua, o frio, a chuva e a fome por companheiros, e os filhos da política que não os conhecem.
É uma tristeza ver a pobreza material cilindrada pela incompetência, arrogância e ganância, essa sim é a verdadeira pobreza da espécie humana.
É fácil a quem tem a barriga cheia dizer aos outros para apertarem o cinto. Recordo-me de uma frase que ouvi várias vezes, num contexto por vezes surrealista, “os pobres que comam calhaus porque já estão habituados”.
A única satisfação de todos aqueles que vivem em extrema pobreza, é saberem que todos os gananciosos arrogantes e cínicos também morrerão um dia e serão materialmente nada, tal como hoje são intelectualmente.
A pobreza na política não diminui a pobreza do Povo, dilata-a.
Foi com muito desencanto que escrevi estas linhas.