Comeu o pão que o diabo amassou, mas ficou para a história como uma lenda viva. Mais lenda do que história. Passada de boca em boca, na boca do povo.
A padeira de Aljubarrota, como é conhecida, antes de rumar a outras paragens, servia copos na pequena taberna do pai, em Faro, onde tem nome de rua e aqui nasceu em 1350.
Mulher rija e forte, Brites de Almeida, verdadeiro nome desta improvável heroína algarvia, dir-se-ia que parecia mais homem que mulher. Alta, ossuda e corpulenta, era de nariz adunco, boca rasgada e cabelos crespos. Como se pode adivinhar pelo retrato, pouco ficava a dever à formosura.
Mas Brites estaria talhada para ser uma mulher de “armas”. Dizem que nasceu com seis dedos em cada mão, o que teria alegrado o pai que julgou ter ali um braço de trabalho e de grande ajuda nos dias difíceis do algarve desse tempo.
Orfã aos 26 anos, teve que se lançar à vida, fazendo valer o peso e a força do seu corpanzil sempre que foi caso disso. E o certo é que ela dava tudo para comprar uma boa briga. Ganhou fama de lutadora implacável e não havia homem que não fugisse dela a sete pés. Já nessa altura pouco se continha em despachá-los a soco ou à pazada!
Ainda assim, não lhe faltaram pretendentes. Um deles pediu-a em casamento e Brites aceitou com a condição de o interessado aceitar medir forças com ela. E conta quem viu, que se tratou de uma luta curta mas intensa. Ela deu cabo dele!
Desiludida com as fraquezas dos machos lusitanos, fugiu de barco para Espanha, acabando por ser apanhada por piratas argelinos. Feita escrava de um árabe rico da Mauritânea, um dia passou-se, e de arma em punho, despachou 16 guardas e fugiu.
De volta a Portugal, acabou por se fixar em Aljubarrota em busca do sossego que agora pretendia e longe da confusão que tinha sido a sua vida até ali. Chegou mesmo a casar com um lavrador da zona e ficou dona de uma casa com forno para cozer pão.
Era ali que se encontrava quando, a 14 de Agosto de 1385, se deu a batalha entre portugueses e castelhanos, no campo de Aljubarrota. E, garante quem viu, que foi dar com sete castelhanos escondidos no forno.
O resto já se sabe: Brites agarrou numa pá e com ela despachou, sem dó nem piedade, os pobres coitados que ali se foram esconder a tremer de medo, fugidos do campo de batalha.
Esta é a história picaresca, que ficou de uma das mais singulares personagens que povoam o imaginário do povo português. Como disse, Eduardo Lourenço, “a história passa, os mitos têm longa vida, mas é na história que se enraízam”.