Isolar, testar e notificar “imediatamente” os casos suspeitos. A recomendação é feita pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla em inglês), face ao aparecimento de vários casos de infeção pelo vírus da varíola dos macacos em Portugal e no Reino Unido.
Segundo o ECDC, que esta quinta-feira emitiu as primeiras recomendações para travar estas infeções, devem ser implementados mecanismos para rastrear contactos de casos positivos. “Se estiverem disponíveis no país vacinas contra a varíola, devem ser administradas estas vacinas a contactos de alto risco, depois de uma avaliação de riscos e benefícios.” Para tratar os “casos graves”, pode ser “considerada a administração de medicamentos antivirais”, se estes “estiverem disponíveis no país”, diz ainda o organismo europeu.
DGS CONFIRMA 14 CASOS
Na quarta-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) confirmou mais nove casos de infeção pelo vírus da varíola dos macacos, fazendo subir para 14 o número total de casos registados em Portugal. Em comunicado enviado às redações, a DGS referiu que há mais duas amostras em análise pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). Os restantes casos suspeitos vão ser analisados pelo mesmo instituto.
Ainda segundo a DGS, os casos identificados mantêm-se em “acompanhamento clínico” e os doentes estão “estáveis”. Estão a ser identificadas cadeias de transmissão e “potenciais novos casos e respetivos contactos”, seguindo assim as orientações do ECDC.
ECDC PEDE “CONSCIENCIALIZAÇÃO” EM COMUNIDADES ESPECÍFICAS
Este organismo europeu também recomenda a divulgação de mais informação sobre a doença por parte de organizações de saúde pública e organizações que atuam junto das comunidades. Estas devem “tomar medidas para aumentar a consciencialização sobre a potencial disseminação da varíola dos macacos em comunidades de indivíduos que se identificam como MSM [sigla em inglês usada em contexto clínico para designar homens que fazem sexo com outros homens] ou que têm sexo casual ou múltiplos parceiros sexuais”.
Segundo o ECDC, indivíduos que apresentem “sintomas clínicos compatíveis” com a doença devem procurar cuidados especializados, e os que fazem parte dos grupos acima descritos (isto é, que têm “múltiplos parceiros sexuais” e “sexo casual”) devem “estar especialmente atentos à sua saúde”.
O organismo europeu recomenda ainda que os profissionais façam um “diagnóstico diferencial para indivíduos que apresentem sintomas clínicos compatíveis” e que trabalhem em articulação com os “serviços especializados”.
“TRANSMISSÃO COMUNITÁRIA”
De acordo com o ECDC, o vírus da varíola dos macacos é transmissível através de contacto com animais ou pessoas infetadas, ou com materiais biológicos contaminados. A principal forma de transmissão é através de gotículas respiratórias, mas o vírus também pode ser transmitido através de fluidos corporais ou contacto com lesões na pele.
Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dor de costas, gânglios em zonas como o pescoço, calafrios e exaustão física. Estes sintomas são “tipicamente” acompanhados de lesões cutâneas. O período de incubação é de “entre 6 a 16 dias”, podendo ir até aos “21 dias”.
O ECDC esclarece ainda que, pela primeira vez, foram detetadas na Europa cadeias de transmissão “sem ligação” à região de África, onde este vírus é endémico. Também é a primeira vez que são reportados casos de infeção “entre pessoas MSM”, tudo indicando que a doença foi transmitida entre “parceiros sexuais”.
Ainda segundo o organismo europeu, não é conhecida, por enquanto, a dimensão desta “transmissão comunitária”. Mas nem tudo são razões para alarme: as infeções causadas por este vírus são “normalmente leves”. A mortalidade “é maior entre crianças e jovens adultos” e as pessoas imunodeprimidas “têm um risco mais elevado de desenvolver doença grave”. As restantes recuperam no prazo de “semanas”.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL