As férias são um período muito importante na vida das pessoas e da nossa economia. O ano passado, devido à pandemia, os portugueses na sua generalidade passaram as férias em casa, enquanto este ano, a grande maioria desfrutou das merecidas férias fora de casa, em território nacional, recuperando energias e melhorando o seu bem-estar físico e psicológico, contribuindo para o incremento do nosso turismo nacional.
Terminado o período de férias, o foco passa a ser o trabalho. O confinamento implicou uma forte contração da nossa economia, com efeitos severos nas empresas, no emprego, nos rendimentos, no consumo e na saúde mental dos portugueses.
Necessitamos recuperar as pessoas e a nossa economia. É imperioso continuar o processo de desconfinamento, manter e conceber medidas de apoio às empresas e ao emprego, aplicar e usar bem os fundos de recuperação e resiliência da União Europeia. Em simultâneo, temos de investir na saúde psicológica dos portugueses.
Os problemas de saúde psicológica dos trabalhadores podem originar sintomatologia ansiosa e depressiva, perturbações do sono, isolamento, stress e burnout, lesões músculo-esqueléticas, conflitos laborais, … A nível cognitivo, podem surgir problemáticas de concentração, memória, aprendizagem e tomada de decisão. Por outro lado, a nível comportamental e fisiológico, pode surgir abuso de tabaco, álcool e outras drogas, doenças cardíacas e digestivas, menor imunidade, entre outras.
A nível organizacional, toda esta sintomatologia tem um grande impacto negativo nas empresas e na sua produtividade, registando-se um aumento do absentismo, presentismo, acidentes em trabalho, doenças profissionais e grande rotatividade das pessoas.
Segundo o relatório “O Custo do Stress e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho, em Portugal”, publicado pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (2020), a perda de produtividade devida ao absentismo e ao presentismo causados por stress e problemas de saúde psicológica pode custar às empresas portuguesas até €3,2 mil milhões por ano e estima-se que os trabalhadores faltem até 6,2 dias por ano e que o presentismo possa ir até 12,4 dias. Por outro lado, este relatório indica que a prevenção e a promoção da saúde psicológica e do bem-estar dos trabalhadores nas empresas portuguesas podem reduzir as perdas de produtividade pelo menos em 30% e, portanto, resultar numa poupança de cerca de mil milhões de euros por ano.
As organizações e os seus lideres necessitam, cada vez mais, de apostar na promoção de locais de trabalho saudáveis, concebendo e implementando planos de avaliação dos riscos psicossociais, assim como medidas de intervenção orientadas para os problemas de saúde psicológica no trabalho e de promoção da saúde e do bem-estar no trabalho, tais como aumento da literacia em saúde psicológica, a criação de instrumentos de prevenção e combate aos assédios moral e sexual no local de trabalho, consultas preventivas de saúde mental, formação na área comportamental para chefias e dirigentes, entre outras.
A nível nacional, urge apostar na prevenção da saúde psicológica e não apenas no tratamento. Existe uma clara interligação entre economia e saúde psicológica. As pessoas necessitam ter estabilidade emocional e adquirir capacidade de resiliência, para lidarem com estes tempos de crise e incerteza e canalizar o seu foco para os seus objetivos pessoais e profissionais, permitindo ajustadas tomadas de decisão e possibilitando o sucesso organizacional e o crescimento da nossa economia.
Não existe prosperidade económica sem saúde psicológica. Perante esta realidade, e no seu amplo impacto económico, a saúde mental deve tornar-se prioritária nas ações e políticas públicas.
Neste sentido, torna-se premente o debate e ajustamentos entre os diversos intervenientes políticos, visando a aprovação na Assembleia da República do projeto de lei nº 550/XIV/2, que estabelece o enquadramento legal da Saúde Ocupacional e cria a figura do psicólogo do trabalho, o qual pode ter, quer a nível organizacional, quer a nível individual, um papel diferenciador e importante, especificamente, através da avaliação, prevenção e implementação de projetos de riscos psicossociais e a tudo o que diz respeito à saúde psicológica dos trabalhadores, colaborando em equipa multidisciplinar, com médicos e enfermeiros do trabalho, ergonomistas, técnicos de segurança e higiene no trabalho, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros.
Uma vez que ainda estamos em período de férias finalizo com os meus desejos de que nos próximos anos aumentem o número de pessoas a efetuar as suas férias fora de casa, o que seria um bom sinal para o bem-estar económico, físico e mental dos portugueses.