Na sequência da morte de uma mulher grávida no momento em que estava a ser transferida para o Hospital São Francisco Xavier, em Lisboa, o hospital de Santa Maria optou por chamar quatro profissionais a darem uma conferência de imprensa na manhã desta terça-feira.
No momento em que se fala de uma crise nos serviços de obstetrícia do país, e na falta de médicos da especialidade, uma grávida de 34 anos anos e nacionalidade indiana morreu no momento em que estava a ser transferida por falta de vagas no serviço de neonatologia do Hospital de Santa Maria, pertencente ao Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Norte (CHULN). Segundo os responsáveis, o caso é mais complexo do que isso.
Uma grávida de 34 anos, nacionalidade indiana e sem qualquer histórico clínico de seguimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), “terá vindo do estrangeiro dias antes e não falava português nem inglês”, começou por explicar Luísa Pinto, diretora do serviço de obstetrícia.
Deu entrada no Hospital de Santa Maria com sensação de falta de ar e alta tensão arterial. Deu-se-lhe o diagnóstico de pré-eclâmpsia, uma complicação da gravidez caracterizada por pressão arterial elevada que pode redundar num parto antes do tempo. Foi realizada uma ecografia obstétrica, reveladora de um feto com défice de crescimento.
Ainda assim, a grávida “representava um caso urgente mas não de emergência”, reforça a obstetra. Foi estabilizada e, já numa situação normal, foi transferida com um médico interno e dois enfermeiros, um deles especialista, para o Hospital São Francisco Xavier – o primeiro com vaga no serviço de neonatologia, onde o bebé prematuro teria de ficar internado.
Luísa Pinto sublinha ser “nada expectável” uma paragem cardiorespiratória durante o transporte. “A grávida chegou por meio próprio e foi estabilizada, foram garantidas condições de segurança e numa pré-eclâmpsia não estamos à espera que isto aconteça”, reforçou a diretora do serviço de obstetrícia daquele hospital.
Contudo, o desconhecimento de alguma patologia prévia, como um problema cardíaco, pode ter feito falta aos médicos. Luísa Pinto admite mesmo que o episódio de paragem cardiorrespiratória poderia ter-se dado em meio hospitalar.
As manobras de reanimação feitas numa ambulância tornam a situação sempre mais difícil. Ainda assim, já no Hospital São Francisco Xavier, foi realizado um parto de emergência à mãe capaz de ter salvo o bebé, prematuro, que se encontra bem, refere André Graça, diretor do serviço de neonatologia do Hospital de Santa Maria.
STANDARD É EVITAR QUE O BEBÉ SEJA TRANSFERIDO FORA DA BARRIGA DA MÃE
“É importante sublinhar o que a Dra. Luísa já disse. Quando há necessidade de transferência, o standard em todos os países no mundo é evitar que o bebé seja transferido fora da barriga da mãe”, reforça o neonatologista André Graça. Isto porque existe risco para um bebé prematuro ser transportado nas primeiras horas após o nascimento.
Perante a falta de vagas no serviço de neonatologia, porque “os recursos não são ilimitados e por vezes existem picos de internamentos que nos impedem de dar resposta internamente a todas as solicitações”, refere o médico, a decisão do hospital de transferir a grávida cumpre com as normas de atendimento em rede.
“O que deve ser feito, foi feito, ou seja, procurar uma vaga para a mãe e para o recém-nascido, que neste caso foi encontrada no Hospital de Francisco Xavier. Podemos dar exemplos de situações todas as semanas em que as grávidas são transferidas com os seus fetos e corre tudo bem”, assinalou ainda.
Luís Pinheiro, o diretor clínico da instituição, enviou uma nota de pesar pelo desfecho da grávida e uma nota de gratidão a todos os profissionais da instituição que dirige.
Nesta conferência de imprensa, não deixou igualmente de assinalar que o esforço dos profissionais em tecer esclarecimentos serve “para que se saia de um registo de empolamento mediático”, que, na opinião do clínico, tem sido dado ao caso, numa assumpção imediata que foi por falta de vagas que esta grávida morreu vítima de paragem cardiorrespiratória. “O tratamento mediático dado é habitualmente transposto para patamares de discussão mediático-política”, nos quais o hospital evita imiscuir-se, refere.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL