Muitas são as tradições transmitidas de geração em geração, incluindo remédios caseiros e hábitos que se enraizam na sabedoria popular. Um destes hábitos sugere que beber um copo de água antes de dormir pode reduzir o risco de sofrer um enfarte. No entanto, será que esta alegação tem fundamento científico?
Em declarações ao Viral, o cardiologista José Pedro Sousa, médico especialista em cardiologia no Instituto Português de Oncologia do Porto Francisco Gentil e membro da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, esclarece que “a resposta é um redondo não” quando questionado sobre se beber água antes de dormir pode reduzir o risco de enfarte.
Segundo o especialista, “nenhuma sociedade médico-científica, quer a nível nacional quer internacional, recomenda” esta prática como forma de prevenção de enfartes.
A ideia de que a ingestão de água antes de deitar possa reduzir o risco de enfarte é apenas um “relato popular anedótico, sem fundamento científico”.
José Pedro Sousa destaca que a associação entre beber água antes de dormir e a redução do risco de enfarte carece de base científica sólida, a ponto de uma investigação científica definitiva, como um ensaio clínico aleatório e controlado, não ser sequer considerada.
Em contrapartida, o consumo total de água é uma variável mais relevante e amplamente estudada do que o momento específico do seu consumo.
O consumo adequado de água está associado a uma menor probabilidade de morte por doença cardíaca coronária, que frequentemente serve de base para enfartes. Não existe, no entanto, evidência científica suficiente para fazer uma recomendação generalizada neste sentido.
De acordo com o cardiologista, um enfarte agudo do miocárdio é a designação científica para o popularmente conhecido “ataque cardíaco”. Na prática, ocorre a morte de células do músculo cardíaco (miocárdio) devido à redução abrupta do fornecimento de nutrientes e oxigénio.
Este é um verdadeiro caso de emergência médica que requer tratamento o mais precoce possível.
Os sintomas incluem dor, pressão ou peso no centro do peito, frequentemente irradiando para o braço esquerdo, pescoço e maxilar inferior. Outros sintomas comuns são falta de ar, náuseas, vómitos e sudorese.
Os enfartes, e as doenças cardiovasculares em geral, são a principal causa de morte em Portugal.
De acordo com a Pordata, em 2021, mais de 32.300 pessoas morreram devido a doenças cardiovasculares, representando 26% das mortes no país.
A prevenção é fundamental, e José Pedro Sousa destaca que há “numerosas ações” que podem reduzir o risco de enfarte.
Isso inclui mudanças no estilo de vida, como uma dieta equilibrada, prática regular de atividade física e abstinência de tabaco. Doentes com placas de aterosclerose ou fatores de risco devem também considerar tratamento farmacológico.
Embora beber água antes de dormir possa não ser uma medida cientificamente respaldada para prevenir enfartes, existem várias outras medidas preventivas fundamentadas que podem ajudar a reduzir o risco desta condição grave.
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