A prevalência da miopia está a aumentar globalmente a um ritmo alarmante, com o aumento significativo dos riscos para a deficiência visual causada pelas condições patológicas associadas com a miopia elevada, incluindo patologias da retina, catarata e glaucoma. O relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) – Instituto de VisãoBrien Holden contabilizou, em 2010, quase dois mil milhões de pessoas que sofriam de miopia (27 por cento da população mundial), sendo que 2,8 por cento sofre de miopia elevada. É projetado para 2050 um aumento para quase cinco mil milhões de míopes, representando 52 por cento da população mundial, dos quais cerca de mil milhões serão altos míopes, ou seja, 10 por cento da população mundial.
É relevante que o erro refrativo seja apontado, tanto no mundo como em Portugal como a causa principal de deficiência visual, e a miopia não corrigida como a causa mais frequente de deficiência visual, quando avaliada pela acuidade visual de apresentação. Sabemos que a não correção ou correção inadequada contribui para o aumento do valor da miopia em crianças e adolescentes. A OMS também aponta que a redução do ritmo de progressão da miopia em 50 por cento pode reduzir a prevalência da miopia elevada em 90 pontos percentuais. A correção da miopia nas crianças elimina o maior obstáculo evitável à aprendizagem e desenvolvimento individual, com benefícios gigantescos para a sociedade. O impacto da saúde visual estende-se para lá da prevalência da deficiência visual e cegueira. É um catalisador de progresso e está interligado com o emprego e crescimento, igualdade de género e oportunidades, educação, segurança rodoviária e saúde física e bem-estar mental individual.
Por esse motivo, assegurar o acesso aos cuidados primários para a saúde da visão na comunidade e de proximidade é absolutamente prioritário e essencial. Nas palavras da Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira: “Os optometristas desempenham um papel vital ao assegurarem o acesso a cuidados para a saúde da visão. Eles frequentemente são o primeiro ponto de contacto para a população que sofre de problemas visuais; responsáveis por examinar o olho, prescrever óculos e lentes de contacto e, importante, detetando qualquer doença ocular ou anomalia, referenciando para o médico, quando necessário.”
A miopia carateriza-se por uma visão desfocada dos objetos situados ao longe e visão mais nítida dos objetos próximos. Este processo ocorre devido ao aumento do globo ocular em relação à sua normal morfologia, ou ao aumento da curvatura na córnea, o que leva a que as imagens dos objetos situados a mais de cinco metros fiquem desfocadas, uma vez que o foco é feito antes da retina.
É na infância e na adolescência que normalmente surge esta condição, que tende a progredir com o passar dos anos até estabilizar por volta dos 20 anos, sendo que a deteção e a compensação atempadas ajudam a estabilizar a evolução do problema.
O primeiro passo para o diagnóstico da miopia passa pela identificação dos principais sintomas, para os quais os pais devem estar alerta. São eles as dores de cabeça, cansaço associado ao esforço ocular, fechar um pouco os olhos para ver melhor, pestanejo regular, aproximar-se para assistir televisão, etc. A sala de aula é também um contexto importante para a deteção da miopia, principalmente se a criança ou jovem mostrar dificuldade em ler para o quadro.
Sempre que reconhecer um ou mais destes sintomas, deverá procurar um especialista nos cuidados para a saúde da visão, nomeadamente um optometrista ou um oftalmologista. No caso do optometrista, o diagnóstico é realizado através de várias técnicas distintas nas quais se incluem a retinoscopia ou autorrefratometria, que visam avaliar o erro refrativo objetivo; e a refração subjetiva, um método refrativo em que o resultado depende da resposta do paciente.
A miopia é multifatorial, mas o principal fator de risco para o desenvolvimento da miopia é a genética, isto porque a presença desta condição num ou ambos os progenitores aumenta a probabilidade de a criança vir a ter miopia. Em suma, estudos recentes têm apontado para a existência de outros fatores potencialmente proporcionadores de miopia, a saber: passar grandes períodos a ler, ao telemóvel, ao computador ou a ver televisão, a existência de pouca luz, a falta de exercício físico ao ar livre, entre outros.
Recentemente a Organização Mundial da Saúde divulgou um conjunto de recomendações a respeito da atividade física, comportamento sedentário e sono nas crianças com menos de cinco anos de idade. Nesse relatório é descrito o tempo ideal de utilização da televisão e dispositivos eletrónicos para este grupo etário. Segundo a OMS, crianças até um ano não devem utilizar estes monitores, enquanto que dos dois aos quatro anos o tempo de visualização não deve ultrapassar os 60 minutos.
No que concerne ao seu tratamento, a compensação da miopia é feita com o auxílio de lentes côncavas (lentes negativas), que podem ser oftálmicas (lentes para óculos), de contacto ou intraoculares (lente introduzida dentro do olho através de intervenção cirúrgica).
Alcançar o diagnóstico atempado deste e outros erros refrativos, assim como a aposta na prevenção de comportamentos de risco, são dois dos principais desafios dos optometristas, os quais só poderão ser cumpridos se se apostar na consciencialização da nossa sociedade.
Segundo o Instituto da Visão Brien Holden e o Conselho Mundial de Optometria, que este ano organizaram o “Myopia Movement”, uma iniciativa de sensibilização mundial para esta condição visual, procura-se evitar que até 2050 o número de pessoas com miopia possa chegar aos cinco mil milhões, o que equivale a 50 por cento da população mundial. É com a missão de trabalhar para a melhoria desta previsão que os optometristas, enquanto profissionais que prestam cuidados primários para a saúde da visão, vão continuar a empenhar-se para trazer mais conhecimento sobre a miopia e outros erros refrativos junto da população portuguesa, promovendo o alerta para o reconhecimento dos sintomas destas condições visuais.
(CM)