Cientistas estão a aprofundar o conhecimento sobre como o cérebro humano envelhece, explorando fatores que podem contribuir para um envelhecimento cognitivo mais saudável. Práticas como exercício físico regular, evitar o consumo de tabaco, aprender uma segunda língua ou tocar um instrumento musical destacam-se como possíveis formas de promover a saúde cerebral à medida que envelhecemos.
De acordo com um artigo de revisão publicado na revista Genomic Psychiatry da Genomic Press, existem indicadores desde a infância que podem influenciar a saúde cognitiva na idade adulta. O artigo baseia-se em dados dos estudos Lothian Birth Cohorts, realizados na Escócia, que analisaram as capacidades cognitivas de adultos mais velhos em diferentes fases das suas vidas.
Cognitividade ao longo da vida
Os estudos apontam que cerca de metade das variabilidades na cognição em idades avançadas podem estar associadas às capacidades cognitivas avaliadas na infância. Isto sugere que fatores inatos ou desenvolvidos durante a infância podem determinar, em parte, a forma como o cérebro envelhece.
Contudo, a investigação indica também que fatores do estilo de vida adulto influenciam o desempenho cognitivo e o envelhecimento do cérebro. Segundo Simon Cox, diretor do Lothian Birth Cohort Studies e autor do artigo, “descobrimos que coisas como manter-se física e mentalmente ativo, ter poucos fatores de risco vasculares (como pressão arterial alta, colesterol, tabagismo, índice de massa corporal elevado), falar uma segunda língua, tocar instrumentos musicais e ter um cérebro com aparência mais jovem, entre muitos outros, mostram associações detetáveis, mas pequenas”.
Cox salienta que não há uma solução mágica para um envelhecimento cognitivo saudável. “Tivemos a ideia de que [conseguir] ganhos marginais e não uma solução mágica é uma boa maneira de pensar numa receita para um melhor envelhecimento cognitivo”, afirmou.
Diferenças no envelhecimento cerebral
Os estudos de coorte de nascimento incluíram participantes nascidos em 1921 e 1936, que foram avaliados aos 11 anos e posteriormente aos 70, 80 e 90 anos. Além disso, os primeiros exames de ressonância magnética foram realizados quando os participantes tinham 73 anos.
“Embora todos os participantes tivessem a mesma idade, alguns cérebros pareciam perfeitamente saudáveis (e não estariam muito longe das ressonâncias em pessoas de 30 ou 40 anos)”, observou Cox. Por outro lado, outros mostraram sinais significativos de encolhimento e danos nas ligações da substância branca, essenciais para a comunicação eficiente entre células cerebrais.
Estes dados sublinham que o envelhecimento cerebral não é inevitável e que há indivíduos cujo cérebro mantém uma saúde surpreendente, mesmo em idades avançadas.
Superenvelhecimento cognitivo
Uma minoria de adultos mais velhos demonstra um desempenho cognitivo equiparável ao de pessoas décadas mais jovens, fenómeno conhecido como superenvelhecimento cognitivo. Segundo Cox, a sua equipa está a investigar como diferentes características do envelhecimento cerebral podem ser influenciadas por subconjuntos de fatores de risco específicos.
O médico Richard Isaacson, do Instituto de Doenças Neurodegenerativas da Flórida, considera que o artigo oferece uma visão prática sobre os desafios e boas práticas na investigação do envelhecimento cerebral.
Estilo de vida e saúde cerebral
Fatores como a qualidade do sono, o exercício físico, uma dieta saudável e até mesmo a meditação têm sido identificados como contributos importantes para a saúde do cérebro. Estudos indicam que caminhar ou pedalar três vezes por semana, por exemplo, pode melhorar habilidades cognitivas.
Além disso, uma ferramenta chamada Brain Care Score, desenvolvida para avaliar o risco de demência, considera 12 fatores-chave, como pressão arterial, colesterol, índice de massa corporal, nutrição, sono e relações sociais. Participantes com pontuações mais altas nesta avaliação mostraram um risco menor de declínio cognitivo e demência.
Recomendações para um envelhecimento saudável
Isaacson reforça a importância de monitorizar regularmente a saúde geral: “Consultar o médico pelo menos uma ou duas vezes por ano para avaliar a saúde vascular, doenças crónicas e medir a tensão arterial é fundamental.” Ele acrescenta ainda que a saúde óssea, a força muscular e o aperto de mão são indicadores cruciais para prever os resultados da saúde cerebral ao longo do tempo.
O envelhecimento cognitivo pode não ser completamente evitável, mas a adoção de práticas saudáveis ao longo da vida pode, sem dúvida, melhorar a qualidade de vida e retardar o declínio cerebral.
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