Em 26 de março, quando a região Norte já registava mortes de utentes de lares, infetados com covid-19, a Câmara de Caminha (distrito de Viana do Castelo) anunciou ter contratualizado com um laboratório a realização de testes aos idosos institucionalizados, caso fossem referenciados pelas instituições particulares de solidariedade social.
No dia 30, a Câmara do Porto anunciou que estava a decorrer um rastreio a todos os idosos (cerca de dois mil) e funcionários de lares da cidade, com a realização de testes e o seu acompanhamento posterior em centros preparados para o efeito.
Somavam-se então vários apelos para a realização de testes em instituições com idosos, como em Estarreja (distrito de Aveiro), onde o presidente da câmara, Diamantino Sabina, pedia a sua concretização no lar da associação Vida Nova, então com 11 pessoas infetadas.
Foi precisamente em 30 de março que se iniciou, nos concelhos de Lisboa, Aveiro, Évora e Guarda, a operação de testes em todos os lares de idosos anunciada pelo Governo, prevendo-se depois o seu alargamento ao resto do país. Uns dias depois, aliás, os municípios de Portimão e Loulé foram incluídos.
“O objetivo que temos é, na próxima semana, podermos conseguir cobrir o país com estas iniciativas, mobilizando os laboratórios universitários e a capacidade instalada nas nossas universidades e nos nossos politécnicos para este esforço”, disse, no mesmo dia, o primeiro-ministro, António Costa, lembrando que havia já “múltiplas iniciativas em curso”, inclusive de municípios.
O plano foi considerado pelo presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social, Lino Maia, “a decisão mais acertada”, mas os alertas e as queixas não deixaram de se fazer ouvir.
No dia seguinte, por exemplo, o presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, João Manuel Esteves apelou ao Governo para estender rapidamente o programa a toda a região Norte: “É aqui que há um maior número de casos confirmados de covid-19, é aqui que está situado o maior número de lares, de utentes e de funcionários. Estamos a falar num universo de milhares de pessoas”, afirmou, preocupado com a situação das sete instituições do concelho, depois de se registar a morte de uma utente do Centro Paroquial e Social de Santa Maria de Grade.
Também a Câmara de Bragança exigiu a concretização “imediata” de testes em todos os lares da região e a Comunidade Intermunicipal do Ave manifestou o seu “desagrado” por o Norte não ser prioridade no plano preventivo dos lares.
Nos dias seguintes continuaram as iniciativas de caráter local: a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho, por exemplo, anunciou a aquisição de 500 testes para uma primeira fase de rastreios nas instituições com lares e residências para idosos, enquanto o município de Vouzela (distrito de Viseu) disse ter investido “dezenas de milhares de euros” para realizar mais de 350 testes em funcionários e utentes de instituições sociais.
Na segunda-feira, o presidente da Câmara de Aveiro disse que 15 idosos do lar da Santa Casa da Misericórdia morreram depois de terem contraído covid-19, havendo ainda 99 utentes e funcionários infetados.
Ribau Esteves deixou um apelo “desesperado” para se entregar ao concelho uma parte das 80 mil zaragatoas que o Governo disse que seriam distribuídas.
“O que a senhora diretora-geral da Saúde disse na conferência de imprensa, de que não faltavam testes onde eram precisos, é linearmente falso. Em Aveiro, não há zaragatoas. O ‘stock’ do nosso hospital entrou em rutura e o tal camião que anda para chegar – faz quinta-feira 15 dias que foi garantido em absoluto que iria chegar este fim de semana – não chegou”, disse o autarca.
Hoje, o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, disse que a zona de Aveiro iria receber, ainda durante o dia, dois dos 10 mil testes destinados à região Centro e que cerca de 80 servirão para rastreio em dois lares do concelho capital de distrito.
“Estão a ser feitos todos os esforços para que situação de Aveiro fique rapidamente e o mais depressa possível resolvida”, afirmou.
O subdiretor-geral da Saúde, Diogo Cruz, anunciou também que há uma nova orientação em relação a estes espaços no sentido de testar e caracterizar as pessoas externas, mas que têm contacto com as instituições, como os profissionais que prestam serviços.
As reclamações parecem, contudo, não desaparecer.
Também hoje, o presidente do secretariado regional de Viseu da União das Misericórdias, José Tomás, criticou a inexistência de testes e de equipamentos de proteção individual prometidos e lamentou a falta de resposta das entidades.
A Câmara de Vieira do Minho anunciou que vai pagar os testes de despistagem nos lares, depois de ter “tentado de forma constante e sucessiva” junto das autoridades nacionais a sua realização, e o provedor da Misericórdia de Arcos de Valdevez disse ter recorrido a um laboratório privado para testar todos os utentes e funcionários numa das valências da instituição, por ser do “conhecimento público a falta de testes e a incapacidade em responder a essa necessidade”.
Na Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa, foi decidido que cada um dos municípios avançaria também com o procedimento de aquisição dos testes.
A primeira morte conhecida em lares de idosos em Portugal foi de uma octogenária de Ovar, em 19 de março, que foi também a “primeira vítima mortal do vírus covid-19” neste concelho do distrito de Aveiro que se encontra em estado declarado de calamidade pública e sujeito a um cordão sanitário, com controlo de fronteiras.
Dias depois e até hoje, as notícias de casos de infeção pela covid-19 de utentes e funcionários de lares multiplicaram-se por todo o país, nomeadamente 99 infetados em Aveiro, 77 em Vieira do Minho, 51 em Vila Nova de Foz Coa, 45 em Vila Real, 44 em Braga, 39 em Vale de Cambra, 32 em Vila Nova de Famalicão, 32 em Santo Tirso, 30 em Matosinhos, 26 em Estarreja, 25 em Alvaiázere, 25 na Maia, 23 em Ovar, 22 em Barcelos, 19 em Albergaria-a-Velha, 17 em Vila Nova de Gaia, 14 em Ílhavo e 10 em Sintra.
Estes números têm vindo a ser anunciados pelos responsáveis dos lares e das câmaras municipais, que registam já casos de morte pela covid-19.
A situação mais preocupante verifica-se no distrito de Aveiro, com 15 mortes no lar da Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, quatro no lar de São José, em Ílhavo, quatro no lar Geriabranca, de Albergaria-a-Velha, duas no lar da Associação Vida Nova, em Estarreja, e duas em lares do concelho de Ovar.
Sem uma contabilização oficial do número de mortes em lares, nem do número de infetados, as notícias, com dados das autarquias, apontam para, pelo menos, 50 idosos mortos no âmbito da pandemia da covid-19.