Ao terceiro ano de pandemia, tornou-se chavão — e uma certeza absoluta — dizer-se que a covid-19 não será controlada no mundo enquanto cada país não a controlar individualmente. Ao estilo de um tsunami, que vai e vem, também as vagas da doença se vão sucedendo, contagiando à vez todos os países. Ou quase todos…
A nível oficial, há quatro países que ainda não reportaram qualquer caso de covid-19. Dois deles têm regimes políticos opacos — a Coreia do Norte e o Turquemenistão — e outros dois são Estados insulares, rodeados pelas águas do Oceano Pacífico: Tuvalu e Nauru.
Em todos os outros, corre-se contra o tempo perante a emergência de novas variantes, como a Ómicron, mais contagiosa do que as anteriores. Mas olhando para o mapa-mundo da vacinação, esta é uma corrida muito desigual, que decorre a múltiplas velocidades.
Israel, por exemplo, já começou a administrar a segunda dose de reforço — na prática, a quarta vacina — a maiores de 60 anos, profissionais de saúde e qualquer pessoa considerada vulnerável. Os israelitas deram este passo no combate à pandemia apoiados nas conclusões preliminares de um estudo do Centro Médico Sheba, nos arredores de Telavive, segundo as quais a quarta dose produz cinco vezes mais anticorpos, uma semana após ser administrada.
Em contraste com a vanguarda de Israel, que tem 9 milhões de habitantes e já imunizou 64,3% da população, a República Democrática do Congo, onde vivem dez vezes mais pessoas, tem apenas 0,1% da população com a vacinação completa.
Segundo o site Our World in Data, que atualiza diariamente um conjunto de índices relativos à pandemia, 59,2% da população mundial já recebeu pelo menos uma dose da vacina para a covid-19. Porém, no conjunto dos países de baixo rendimento (segundo terminologia usada pelo Banco Mundial), essa percentagem não vai além dos 8,9%.
E quando se toma em consideração a vacinação completa (duas doses), a discrepância ao nível da percentagem da população imunizada é ainda mais gritante.
- África: 9,7%
- América do Norte e Central: 58,5%
- América do Sul: 64,7%
- Ásia: 58%
- Europa: 61,9%
- União Europeia: 69,9%
- Oceânia: 58,6%
Numa outra abordagem ao estado da vacinação no mundo, em cada um dos cinco continentes, um grande fosso separa os países com maior percentagem de imunização daqueles com mais dificuldade em obter e aplicar as vacinas.
1. ÁFRICA
As ilhas Seicheles são o país com mais habitantes com vacinação completa (79,1%). No polo oposto está o Burundi, com menos de 0,1%.
2. AMÉRICA
Na metade norte do continente, o Canadá já garantiu a imunização de 77,6% da sua população, enquanto no Haiti apenas 0,7% está na mesma situação. A sul, o Chile é quem mais vacinou até ao momento (86,6%) e a Guiana menos (37,4%).
3. ÁSIA
Os Emirados Árabes Unidos lideram com 91,7% da sua população vacinada. Inversamente, o martirizado Iémen ainda só conseguiu imunizar 1,2%.
4. EUROPA
Com 89,9%, Portugal é o país com maior percentagem de população vacinada. Com apenas 22,1%, a Bósnia-Herzegovina é quem está mais atrasado. Entre os membros da União Europeia, o país com taxa de vacinação mais baixa é a Bulgária (28,2%).
5. OCEÂNIA
No mais pequeno dos continentes, a Austrália tem 77,3% dos seus cidadãos com duas doses tomadas, enquanto a Papua-Nova Guiné ainda só vai nos 2,5%.
Em muitos casos, os países com taxas de vacinação mais baixas terão dificuldades em aceder ao mercado das vacinas e estarão dependentes de doações. Mas em algumas latitudes, há fatores naturais que tornam as campanhas de vacinação verdadeiros desafios à destreza humana. Para que as vacinas cheguem às populações, as equipas médicas têm de subir montanhas, atravessar lagos ou desbravar caminhos cobertos de neve.
- Turquia
Fotos de Carlos Mamani (Peru), Zul Kifli (Indonésia), Ezra Acayan (Filipinas), Tafadzwa Ufumeli (Zimbabwe), Annice Lyn (Malásia), Michael Dantas (Brasil) e Chris McGrath (Turquia) / Getty Images
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL