A fila para o Pingo Doce, de Campolide, em Lisboa, estendia-se por alguns metros na rua. Mas dez minutos depois já lá estava dentro em busca dos tão noticiados e aguardados autotestes à covid. Pergunto pelos “testes rápidos” à primeira funcionária que encontro. Muito simpática dirige-me para o corredor de produtos de higiene e aponta-me para os “pensos rápidos”(!). Repito a pergunta, agora com a melhor das dicções. “Ah, testes rápidos, não sei. Pergunte na caixa”. Abordo de imediato o empregado da caixa que está junto à vitrine da parafarmácia. “Testes? Não sei. Não há. Não me informaram de nada.” Tento saber quando vêm. Depois de um breve telefonema para outra caixa, o funcionário responde-me que não têm ainda informação sobre isso. Estranho. Seria de esperar o contrário, já que supostamente a sua comercialização arrancou na passada quarta-feira nos supermercados do Grupo Jerónimo Martins e estão de momento a vender caixas com 25 testes a 125 euros, (5 euros por teste). Tive má sorte nesta primeira tentativa.
Como sei que também as lojas Wells vendem estes testes, e o disponibilizam à unidade, procuro a loja mais perto desta cadeia. Mas desta vez telefono para evitar mais uma viagem em vão. Localizo uma na zona de Benfica que me confirma ter destes autotestes à venda. Dirijo-me para lá.
Desta vez, o sábado e o sol deram-me vantagem. A loja estava vazia. Em menos de 2 minutos já tinha a saqueta do teste na mão. Dizem-me que está a ser o produto mais vendido deste sexta-feira. Que as pessoas costumam levar logo 3 testes para a família. E que só estão autorizados a vender no máximo dez unidades por pessoa. “Para evitarmos açambarcamentos.” Já algo ansioso com a experiência, peço à funcionária da loja que me informe sobre os passos certos para um bom procedimento. “Deve inclinar a cabeça para trás, enfiar bem fundo a zaragatoa e girar pelo menos 3 x em cada narina. Mas está tudo explicado aqui dentro. Aconselhamos a que seja outra pessoa a fazê-lo, um familiar por exemplo, porque de facto o ato pode ser difícil para o próprio. Eu não conseguiria. E já fiz dois testes no hospital.” Não quero ouvir mais, para não perder o ânimo. Pago os €6,99 pelo teste e volto para casa para fazer o que tenho de fazer. “All by my self”.
Em casa, começo por preparar…um café cheio. E depois disso, sim, abro a saqueta plástica e começo a ler atentamente o folheto de instruções. “Lave as mãos.” Já o tinha feito. Pede-me que retire a zaragatoa e a segure pela extremidade, sem tocar na ponta que tem o algodão. E lá começo a olhar para esta espécie de ‘super cotonete’ com alguma tensão. Mas pensei nos dois testes anteriores que fizera com técnicos de saúde e, em ambos os casos, fora como se um mosquito tivesse invadido por engano ambas as minhas narinas. Não foi agradável, mas também não fora nada do outro mundo.
Depois de alguns momentos de mentalização, decido finalmente fazê-lo. Inclino a cabeça para trás e avanço com a zaragota. É algo contra natura. E os momentos seguintes foram de puro desconforto e agonia. É como se quisesse coçar a cabeça, mas pelo lado de dentro do nariz(!). Como no folheto indica para empurrar a dita bem lá para dentro, aproximadamente 2 cm, paralela ao céu da boca, em direção à garganta até sentir resistência, procurei cumprir. E rodei-a as tais 4 vezes, durante aproximadamente 15 segundos, como é indicado. Resultado: Duas grandes e redondas lágrimas. Uma por cada um destes procedimentos, em ambas as narinas. Mas parte mais difícil e agoniante, superada.
De seguida, retirei a película de um tubo com um determinado líquido lá dentro, e coloquei lá dentro a zaragatoa com a amostra nasal. Depois apertei-a e girei-a dez vezes até a retirar e fechar o tubo, procurando cumprir rigorosamente os passos descritos como se estivesse num laboratório. Neste momento, saí da casa de banho e dirigi-me para a cozinha para concluir o procedimento deste autoteste caseiro. Opto pela bancada branca onde tomo o pequeno-almoço, um lugar mais espaçoso e com mais luz natural. Mais um gole de café, para animar. Coloco na bancada, a mesma que costuma ver pratos com tostas, o chamado ‘tira-teste” que também poderia ser chamado de ‘tira-teimas’. E uso o tal tubo para fazer verter quatro gotas (que tem a mistura do líquido, mais o líquido nasal que a zaragatoa lá deixou) numa das extremidades.
A partir daí, começo a contar o tempo. Para obter o resultado entre 15 a 30 minutos. Mas a verdade é que poucos minutos depois já comecei a ver sinalizada a zona que chamam de linha de controlo (C). A interpretação do resultado resume-se assim: Se a linha de controlo não tiver um traço vermelho, o teste é considerado inválido, provavelmente porque foi mal feito. Se surgirem dois traços, um na linha de teste (T) e outro na de controlo (C) significa que o resultado é positivo e que é muito provável que a pessoa testada tenha Covid-19. Nesse caso, deverá entrar em contacto com o serviço SNS24 (808 24 24 24). Se, por outro lado, apenas surgir um traço na dita linha de controlo (C), sem nada na de teste, quer dizer que o resultado é negativo. E que é improvável que a pessoa testada tenha Covid-19. Foi o meu caso.
Mais um gole de café para festejar. Lágrimas de desconforto enxutas, teste feito, prova superada, a verdade é que isto é bem mais simples do que parece. E pode de facto evitar infeções e dar mais confiança às pessoas testadas. O que me fez pensar na situação caricata de um casal de namorados ou em duas pessoas que acabam de se conhecer e que se querem envolver mais intimamente e imagino-as, a meio de um copo de vinho e de uma música de sedução ambiente, a retirarem as máscaras e a enfiarem zaragatoas pelo nariz para se assegurarem se estão limpas ‘do bicho’. Isto antes de pensarem nos preservativos…
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso