O consumo excessivo de sal é uma realidade em Portugal. Os portugueses consomem em média 10,7 gramas de sal por dia, de acordo com um estudo da PHYSA, o que corresponde ao dobro da quantidade recomendada pelas autoridades de saúde.
Essa ingestão excessiva pode ser um rastilho para várias doenças. Hilda Freitas, médica de Medicina Interna (Assistente Hospitalar Graduada), explica que “ao diminuirmos a ingestão de sal, diminuímos a mortalidade por AVC (acidente vascular cerebral)”.
“O consumo excessivo de sal pode resultar em hipertensão, que leva a doenças cardiovasculares e AVC’s. Aumenta o risco de demência, de doença renal (e pedras nos rins), de osteoporose porque faz com que o cálcio seja espoliado através da urina”, afirmou a médica numa entrevista à SIC Notícias.
Em 2020, segundo dados da Portadata, as doenças do aparelho circulatório (nas quais se incluem o AVC, a hipertensão e a insuficiência cardíaca) foram a principal causa de morte em Portugal (28%). Mas o consumo excessivo de sal pode ser um fator de risco para outras doenças.
“A ingestão excessiva de sal também está relacionada com o desenvolvimento de cancro no estômago. Há determinadas zonas de Portugal onde se comem muitos enchidos e, nessas zonas, há uma maior prevalência de cancro no estômago”, esclareceu.
De acordo com Hilda Freitas, a obesidade, o envelhecimento precoce e a retenção de líquidos podem ser problemas associados ao consumo de sal. “Se as pessoas querem emagrecer têm que reduzir a quantidade de sal ingerida”, disse.
Em 2021, a Organização Mundial de Saúde (OMS) traçou como meta a redução de 30% na ingestão de sal/sódio para todos os países membros, dos quais Portugal. O objetivo é conseguir que o consumo médio de sal da população esteja abaixo das 5 gramas de sal (ou seja, <2 g de sódio) por dia até 2025.
Estima-se que 11 milhões de mortes em todo o mundo estejam associadas à má alimentação, três milhões das quais atribuídas à alta ingestão de sódio.
HÁ ALTERNATIVAS AO SAL: COMO PODEMOS SUBSTITUÍ-LO NAS REFEIÇÕES?
As especiarias e ervas aromáticas, como orégãos ou manjericão, podem ser uma alternativa ao sal. “Há muitas ervas que as pessoas podem ir conjugando, é uma questão de ir experimentando”, indicou Hilda Freitas. O limão também pode resultar bem nos pratos de peixe.
“Mudar de hábitos é mais difícil do que tomar um comprimido”, disse a médica, defendendo que socialmente a população é educada para ter um certo tipo de paladar.
Ouras dicas:
- Provar a comida à medida que vai cozinhando para não condimentar demasiado;
- Ter atenção – ou evitar sempre que possível – os molhos e temperos já preparados;
- Experimentar temperar a carne, o peixe e as saladas com sumo de limão ou vinagre balsâmico;
- Reduzir o sal gradualmente. Mudanças bruscas podem não resultar;
- Não adicionar sal nas batatas fritas. Pode optar por fazer um molho caseiro.
Comer é uma necessidade fisiológica, mas também é fonte de prazer. Por isso, comece por reduzir o sal gradualmente e experimente diferentes especiarias e ervas aromáticas.
O sódio (sal) é necessário para o bom funcionamento do corpo humano, mas os alimentos frescos já contêm naturalmente os níveis de sódio que necessitámos – não precisa de acrescentar.
O QUE NOS DIZEM OS RÓTULOS?
Quando vai às compras, é importante verificar a quantidade de sal que consta no rótulo do produto. De que formas pode aparecer a designação do sal?
- teor de sal;
- sódio;
- NaCl (cloreto de sódio);
- Na (símbolo químico do sódio);
- glutamato monossódico;
- bicarbonato de sódio;
- bissulfato de sódio;
- fosfato dissodico;
- hidróxido de sódio;
- propionato de sódio.
A Sociedade Portuguesa de Hipertensão aconselha a população a evitar comprar produtos que têm mais de 5% da dose diária recomendada (DRR) de sódio ou com mais de 1,5 gramas de sal por 100 gramas.
Mesmo assim, de acordo com a OMS, é necessário ir mais longe e reduzir ainda mais o sal nos produtos alimentares. Nas recomendações de 2021, a organização de saúde avaliou as especificidades de milhares de produtos, categorizou-os, e emitiu novas metas (pode consultar aqui as categorias e a quantidade sal aconselhada para cada uma). Se for à dispensa ou ao frigorífico não terá dificuldade em encontrar produtos com níveis de sal acima (alguns muito acima) das metas da OMS.
E AS CRIANÇAS?
A Organização Mundial de Saúde recomenda limitar o consumo de sal das crianças a 3 gramas diárias, dois gramas abaixo da quantidade recomendada para os adultos. Os bebés não devem consumir, de todo, alimentos com adição de sal.
Os dados dos estudos desenvolvidos nos últimos anos não são animadores. Quanto mais tarde as crianças forem expostas ao sal, menor será a probabilidade de apresentarem tensão arterial alta. No entanto, de acordo com os dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Hipertensão, cerca de 12,8% das crianças e jovens entre os 5 e os 18 anos têm uma pressão arterial elevada.
Outro estudo concluído em 2017 e levado a cabo pelo médico Jorge Cotter no Hospital de Guimarães revelou que cerca de 60% das 300 crianças que participaram na investigação consomem mais sal do que os pais que, por sua vez, já apresentam um consumo excessivo.
- VÍDEO: SIC Notícias, televisão parceira do POSTAL