O “caso das gémeas”, como vem sido apelidado, começou a 3 de novembro, quando a TVI transmitiu uma reportagem que divulgava que duas crianças gémeas, residentes no Brasil, haviam recebido um tratamento no valor de 4 milhões de euros (medicamento Zolgensma) para a atrofia muscular espinhal. A mesma peça jornalística levantava suspeitas sobre a possível influência do Presidente da República. O Expresso avança agora que tudo começou com uma pediatra do hospital de Faro que abriu a porta do Sistema Nacional de Saúde (SNS).
A história remonta a 2019 quando duas gémeas de nacionalidade luso-brasileira deslocaram-se a Portugal para receber um tratamento com o medicamento Zolgensma, considerado o mais caro do mundo e que em Portugal é disponibilizado de forma gratuita.
Os pais das duas meninas, de nacionalidade brasileira, são amigos do filho do presidente, Nuno Rebelo de Sousa. As crianças receberam a nacionalidade portuguesa em apenas 14 dias, com o Ministério da Justiça a garantir que os prazos para esses processos não divergiram do normal. Ao obterem a nacionalidade portuguesa, as gémeas passaram a ter garantido o direito ao tratamento.
O SNS também terá adquirido seis cadeiras de rodas, sendo quatro delas elétricas, para as gémeas utilizarem, com um custo aproximado de 64 mil euros.
O Expresso avança que o primeiro contacto da família com um hospital público português foi feito pela prima da mãe das gémeas, residente no Algarve, que solicitou ajuda a uma pediatra do hospital de Faro, que encaminhou o caso para o diretor da neuropediatria do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa.
Em declarações à mesma fonte, José Pedro Vieira, responsável de neuropediatria daquele hospital, afirmou que o hospital nunca recebeu as crianças e que todos os contactos foram efetuados por e-mail, ao longo de um mês e meio.
Os pais das gémeas luso-brasileiras, submetidas a tratamento no Hospital de Santa Maria para a atrofia muscular espinhal tipo 1, enfrentaram quatro objeções por parte do Hospital Dona Estefânia antes de superarem os obstáculos para que as crianças recebessem o medicamento Zolgensma.
A TVI teve acesso à correspondência por e-mail entre as partes envolvidas, que incluía médicos do Hospital Dona Estefânia e a família das gémeas. Estes e-mails revelam que existiam várias razões clínicas para não tratar as pacientes.
Contudo, o parecer dos médicos do Hospital de Santa Maria foi eventualmente ultrapassado, levantando suspeitas de que a menção do nome do Presidente da República foi utilizada para resolver o impasse. Marcelo Rebelo de Sousa admitiu uma “intervenção” da Presidência da República neste caso, embora tenha negado estar diretamente envolvido e revelou já ter enviado à Procuradoria Geral da República (PGR) toda a documentação de Belém relativa às gémeas.
O ministério da Saúde, também garantiu, esta terça-feira, estar inteiramente disponível para remeter às autoridades a documentação sobre as gémeas luso-brasileiras.
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