Todos nós temos emoções, são uma constante na vida. O que a maioria das pessoas não se apercebe é a interacção destas no nosso corpo. Mas, se nos propusermos a reflectir, é fácil perceber como as nossas emoções se manifestam no nosso corpo. Por exemplo, os suores frios perante o medo, as alterações intestinais e cardíacas perante a ansiedade, a apatia e fadiga perante a tristeza, etc..
As emoções manifestam-se porque o centro das mesmas está no cérebro, no Sistema Límbico. Este é constituído por estruturas cerebrais relacionadas com os comportamentos emocionais, sexuais, de aprendizagem, memória, motivação e homeostase – equilíbrio do organismo. Actua através do Sistema Nervoso Autónomo que controla funções como a respiração, circulação sanguínea, temperatura, digestão, entre outras funções. Quando percepcionamos uma situação, interagimos com alguém, a forma como nos comportamos, como percebemos o nosso estado interno, é possível graças às nossas emoções que activam processos neurovegetativos, como alterações glandulares, musculares, respiratórias, cardíacas e vasomotoras que nos fazem agir. Assim, as emoções caracterizam-se por esta tendência para agir, reflectindo alterações corporais e comportamentais. Dependem da interpretação da realidade e decorrem de avaliações cognitivas nem sempre conscientes, e são acompanhadas de reacções orgânicas e fisiológicas. Percebemos então, as nossas emoções pelas sensações e movimentos que o nosso corpo produz como a dor de barriga, o “frio no estômago”, choro, riso, taquicardia, secura da boca, rubor, etc.. que nós interpretamos como ansiedade/nervosismo, tristeza, alegria, vergonha, etc..
Se inicialmente as emoções eram vistas como instintos básicos a serem controlados para não prejudicarem a capacidade de pensar, hoje entende-se a importância de estar consciente das emoções como um factor para o desenvolvimento e autoconhecimento da pessoa e melhoria da sua qualidade de vida.
Estudos apontam para uma ligação próxima entre as emoções excessivas e desadaptadas que interferem ou agravam os processos de doença (somática), como a ansiedade, stress, disforia, cólera, entre outras. Em muitas situações de doença, como coronárias ou cancro por exemplo, os especialistas da doença contam com o apoio psicológico como forma de o doente se desembaraçar das suas emoções contraproducentes ou a controlar a sua expressão, pois essas emoções acrescentam sofrimento à experiência da doença, contribuem para agravar e perturbam o tratamento médico. São exemplos destas emoções o desânimo, tristeza, ansiedade, desesperança, que não ajudam no processo de cura.
Estas mesmas emoções desadaptativas podem, por outro lado, levar a doenças psicossomáticas pelo surgimento de sintomas físicos causados pelo stress.
Actualmente, estudos demostram que a emoção influencia directamente o sistema imunológico, ou seja, reflecte-se no nosso estado de saúde. A Psicoimunologia é uma área da Psicologia que tem como objectivo compreender a influência de variáveis psicológicas no funcionamento do sistema imunitário. Estuda o impacto das experiências de stress na capacidade de resposta imunológica do organismo que, por sua vez, provocam diminuição da resistência imunitária a doenças como o Cancro por exemplo, ou, em situações de vulnerabilidade, contribuem para desenvolvimento de outras doenças, como as doenças infecciosas.
Desta forma, é importante salientar estilos cognitivos, emocionais e comportamentais da pessoa e a influência destes na regulação do organismo. Por exemplo, pessoas que tendem para um estilo cognitivo com pensamentos negativos e destrutivos (tóxicos), bem como, a tendência para suprimir e negar as suas emoções, contribuem gradualmente para a desestabilização do sistema imunitário, ficando mais vulneráveis ao aparecimento de doenças.
Os distúrbios psicológicos, e mais patentes os distúrbios somatoformes, são a evidência do impacto psicológico desajustado no organismo. Estes acontecem quando a pessoa tem queixas somáticas sem que hajam evidências orgânicas/fisiológicas para os sintomas, nem são causados por efeitos directos de substâncias ou perturbação mental.
Desta forma, podemos perceber que existe uma grande relação entre a emoção e a doença, seja pela relação desadequada das emoções, que pode levar ao aparecimento de sintomas físicos (como as crises de ansiedade ou ataques de pânico por exemplo), seja pela doença somática que, pelo desajuste das emoções, quer pela negação ou incapacidade de lidar com a mesma levam ao agravamento da doença (ansiedade num doente coronário por exemplo).
Numa atitude de prevenção da doença, a psicologia da saúde trabalha para a mudança de hábitos ou estilo de vida, evitamento de situações de risco de contrair doença, levando à adopção de novos comportamentos e à diminuição da emocionalidade excessiva (por exemplo, trabalhar para evitar os ataques de pânico).
No caso de doença já instalada, a psicologia ajudará na gestão destas emoções e a adopção de novos comportamentos por forma a ajudar na recuperação e diminuir o impacto de emoções desajustadas na doença (por exemplo, diminuição da ansiedade no doente coronário).
Neste contexto, fica o alerta para que não ignore as suas emoções, os seus comportamentos e atitudes e que abra a possibilidade de os encarar como sintomas de que algo em si não está bem e procure ajuda psicológica para os entender, gerir e trabalhar. Esta atitude de prevenção poderá ajudá-lo a melhorar a sua qualidade de vida e à promoção da sua saúde.
Na área da Psicologia do Emagrecimento e Alimentação, percebemos o seu Comportamento Alimentar como reflexo das suas emoções. Uma vez que a alimentação é um factor crucial para a promoção da saúde ou doença, é importante dar-lhe especial atenção. Assim, não encare o seu Comportamento Alimentar apenas como um comportamento para engodar ou emagrecer, mas sim como um indicador do desequilíbrio das suas emoções.
A prevenção passa assim por perceber como podemos manter o nosso estado de saúde, quais as atitudes correctas e comportamentos a adoptar em todas as áreas da nossa vida seja no plano físico ou emocional.
(Artigo publicado na última edição do Caderno Semear Saúde)