O candidato presidencial Vitorino Silva defendeu, em debate, na sexta-feira, que se o país fechar os políticos também têm de fechar, enquanto Tiago Mayan Gonçalves insistiu que Portugal não aguenta mais um confinamento geral.
Vitorino Silva, conhecido como Tino de Rans, e Tiago Mayan Gonçalves, apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), foram os protagonistas de um frente a frente transmitido na sexta-feira à noite, na RTP3, que decorreu com tranquilidade e foi dominado pelos assuntos ligados à pandemia e à saúde.
No dia em que Portugal registou 118 mortos relacionados com a covid-19 e 10.176 novos casos de infeção com o novo coronavírus, os valores diários mais elevados desde o início da pandemia, o moderador Carlos Daniel introduziu o tema do estado de emergência e do novo confinamento que está a ser ponderado pelo Governo.
Tiago Mayan Gonçalves disse que tem sido contrário “a este estado de emergência” porque “tem continuamente adotado medidas de caráter geral” e reiterou que o “país não aguenta um novo confinamento generalizado”.
O candidato liberal questionou ainda se o facto do Governo ter determinado os confinamentos de meios fins de semana, concentrando as pessoas às compras nas manhãs, “não contribuiu” para os atuais números.
Considerou que foi este tipo de medidas “aplicadas de forma totalmente cega e generalizada” que trouxeram “destruição económica e social” que vai “trazer pobreza e a pobreza vai trazer morte”.
Para Vitorino Silva, “se o país fechar, também têm que fechar os políticos”. “Se o povo for para casa eu também vou para casa. Temos que tratar os partidos políticos como o povo e às vezes os partidos e os políticos têm mordomias”, afirmou.
O candidato e fundador do partido Reagir, Incluir, Reciclar (RIR), que já tinha falado há dois dias no adiamento das eleições presidenciais, lembrou uma audiência no Palácio de Belém, em outubro, durante a qual disse ter manifestado a Marcelo Rebelo de Sousa “preocupações com a data das eleições presidenciais em janeiro”, altura em já esperava “acréscimo bastante elevado de cidadãos impossibilitados de sair de casa por força da covid-19”.
“O nosso povo não pode morrer, há quem acredite em milagres, eu vi políticos com responsabilidade a dizer o milagre português, não há milagres, pelo menos nunca vi nenhum político a fazer milagres, agora se estivermos a morrer nós temos que proteger o nosso povo, a nossa gente”, referiu.
Tiago Mayan Gonçalves insistiu na ideia de que se continua a “não usar toda a capacidade instalada de saúde do país” e que “há responsabilidades por isto”.
Confrontado pelo moderador sobre se não terá um “preconceito inverso” às acusações que atribui ao Governo, por não recorrer aos privados, o candidato liberal afirmou: “eu não tenho preconceito nenhum, a existência de hospitais públicos é essencial no panorama do país”.
“Como posso recusar uma realidade evidente. É evidente que a oferta de saúde do SNS, oferta exclusivamente pública, é estruturante no país que temos, mas isso não significa que tenhamos de eliminar toda uma oferta que podia e devia estar a dar uma resposta desde março, tinha que estar e não esteve, não por preconceitos ideológicos meus, é por preconceitos ideológicos deste governo”, apontou.
E referiu que, na generalidade dos países europeus, não ocorreu “o excesso de mortes não covid-19, na dimensão” que Portugal teve.
O candidato liberal salientou ainda que o sistema que propõe “é totalmente constitucional”, que o “sistema atual está a garantir que as pessoas que tenham acesso a listas de espera” e fez questão de salientar que a sua proposta é de “acesso universal aos cuidados de saúde”.
Vitorino Silva disse que vai sempre ao hospital público, mas que defende o privado e referiu que “há muita gente que não tem dez euros para pagar a taxa moderadora”.
Relativamente ao financiamento para a Saúde, Vitorino interveio defendendo que, neste momento, se “está mesmo a precisar que se tire de outro lado” e introduziu no debate a questão da TAP.
O moderador pegou no mote da TAP e questionou Vitorino Silva sobre o apoio à companhia área nacional que pode ultrapassar os três mil milhões de euros.
“Eu não quero é que haja a TAP boa e a TAP má, eu não quero que façam na TAP o que fizeram no Novo Banco”, frisou.
Considerou que a companhia aérea não tem levado muito a sério o Porto e defendeu uma “TAP pública, mas com bons gestores”.
Tiago Mayan Gonçalves apontou a divergência com Vitorino Silva nesta matéria, afirmou que “não pode entrar nem mais um euro de dinheiro público na TAP” e repetiu a ideia de que não quer ser acionista da companhia.
“Vamos ser sérios, a TAP nunca demonstrou ser viável, abandonou todo o país há muitos anos, antes da pandemia. Abandonou o Norte, Faro, as ilhas”, afirmou.
Já no final do debate, questionado sobre as eleições autárquicas e o apoio a Rui Moreira, eleito pelo movimento “Porto, o Nosso Partido”, para a Assembleia da União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde, Mayan Gonçalves referiu que a IL ainda não tomou “decisão nenhuma”.
Vitorino Silva, confrontado pelas sondagens que o colocam ainda longe dos 3,28% de votos conquistados há cinco anos, disse que quando nunca sentiu “Lisboa tão perto de Rans” quando anda no seu gabinete “que é a rua”.
Já no final do debate, tirou um agrafador do bolso e disse que ele e Tiago Mayan Gonçalves são os que merecem mais ser Presidentes da República porque sabem “muito bem” o “quanto foi duro” agrafar as assinaturas que foram entregues ao Tribunal Constitucional.
Além de Tiago Mayan Gonçalves e Vitorino Silva, são também candidatos à Presidência da República Marcelo Rebelo de Sousa, João Ferreira, Ana Gomes, André Ventura e Marisa Matias.
As eleições presidenciais estão marcadas para 24 de janeiro.