– Ai que susto! – dei um passo para trás e sou capaz de até ter levado a mão ao peito, embora já não me recorde porquê.
– Mas tu andas sempre assustada? – perguntou-me o capitão, com um tom que não me agradou.
– E tu devias ter era uma mulherzinha franzina e problemática, daquelas com medos mesmo à séria, para veres o que era bom…
Mas ele continuou impávido, numa retórica de sábio ancião, a falar quase entre dentes:
– Se as pessoas soubessem que não é preciso ter medos… se soubessem ao menos que somos maiores que isto tudo e que os medos são só um grande empecilho…
– Olha desculpa lá: é impossível não ter alguns e às vezes até nos protegem, ok?
E então ele disse a frase que me calou por completo: “O único medo que deves ter é de ti própria!”
Fiquei sem resposta possível, com o pensamento a ferver, a querer comprovar-lhe a razão.
Levei dias a perceber o que me quis naquele momento explicar: só devemos temer os nossos medos, claro, e cuidar que não nos persigam. Só devemos assustar-nos com a nossa própria tendência de pintar tudo de negro. O único medo real deve ser, de facto, o de não entendermos o que andamos aqui a fazer e o quão poderosos e eternos somos. Por isso de nada serve temermos o que a vida possa trazer; basta temermos que as nossas reações a tudo não sejam as mais destemidas.
É isso, sim: no fundo acho que ele quis dizer que só vale a pena termos medo de não saber reagir com calma, sabedoria e resiliência a todas as vicissitudes que constantemente ocorrem. E sim, como de costume, tinha razão!
(CM)