● Preâmbulo
São vários os factores que têm contribuído para o desencanto e desinteresse dos jovens portugueses, nomeadamente, sobre a política praticada no nosso país, respectivos políticos e governações – o ponto de partida para as suas reacções e preocupações, nomeadamente:
– A não participação directa (semi-directa) dos cidadãos, nas decisões mais importantes das governações, acerca do panorama nacional;
– A falta de informação e esclarecimentos que deveriam ser prestados, pelo Estado ou outras entidades públicas, relativamente, ao desenvolvimento de acções praticadas;
– Diversos efeitos colaterais, provenientes da pandemia Covid19 e da guerra na Ucrânia, nomeadamente, o aumento de preços dos combustíveis e as respectivas interferências na subida da inflação (selvagem);
– Um resultado desfavorável, sentido na economia dos cidadãos portugueses, pelo preços elevados (injustificados), praticados na venda dos diversos produtos e até mesmo, tendo em conta a pouca “expressividade”, na introdução do conhecido cabaz com cerca de 44 produtos seleccionados e com IVA zero.
● Desenvolvimento
É perceptível que prevaleça entre os jovens, um sentimento de descrença e indiferença, perante todos estes factores e, também, relativo ao universo político das várias instituições e respectivos representantes de cargos públicos, entre outras funções mas que no geral são pouco visíveis os resultados positivos produzidos e expectáveis, pelo facto da acção ser desenvolvida, através de instrumentos e modelos considerados arcaicos, na opinião de muitos jovens.
A sentida falta de uma cultura política ou de outra ordem e o desconhecimento de determinados mecanismos institucionais (mais eficazes), impedem que muitos jovens possam contribuir com novas ideias, ou que sejam mais, interventivos na vida social, económica, cultural, política, etc.
* Este seu desinteresse parece ser um sinal de que algo vai mal na dinâmica das várias políticas governativas, levando-os a manifestar uma falta de esperança no futuro.
Um Estudo realizado sobre a Participação Política da Juventude em Portugal, evoca que “os discursos e ideias abstractas existentes, na política desenvolvida pelos nossos governos, não têm sido capazes de mobilizar as novas gerações”.
Os intervenientes políticos e segundo o sentir dos mais novos, também, não têm estado à altura da confiança dos Portugueses em geral e hoje denota-se um descrédito, acerca da classe política, dando assim espaço ao aparecimento de novas forças político-partidárias, mescladas de um determinado “obscurantismo”, quiçá por desconhecimento existencial do mesmo.
A desadequação de estratégias de mobilização e comunicação por parte dos partidos políticos, têm levado muitos jovens a procurar novas formas de participação em cidadania.
Muitos dos jovens, não se reveem em nenhum dos actuais partidos políticos conhecidos, nem em certas acções e atitudes praticadas pela classe política e como tal, têm optado por outras vias como forma de protesto, nomeadamente, através de diversas manifestações em defesa do ambiente, contra a falta de emprego adequado para as suas perspectivas de qualidade e competência, na defesa de salários condignos para jovens já qualificados e muitos até com cursos superiores, etc, etc.
* Por outro lado é costume ouvir-se, também, dizer em conversas particulares de rua e em certos recantos da vida política que os jovens encontram-se cada vez mais distantes e desinteressados da acção participativa, por serem “preguiçosos ou mesmo até imaturos” para o seu envolvimento e desempenho de funções em determinadas matérias.
Têm sido algumas dessas acusações mencionadas, até por alguns órgãos da comunicação social, as geradoras de reacções não muito acolhedoras, por parte dos jovens, ao considerarem que as ditas afirmações são infundadas, injustas e discriminatórias.
* Mas será isto uma afirmação correcta pergunto eu? Será que de facto os jovens não querem aprender, trabalhar, nem envolver-se na cidadania activa?!…
Contrariamente, a tais ideias atrás referidas, tem ocorrido na base de uma política apartidária e cívica, um envolvimento dos jovens, nomeadamente, nos sistemas online (informática), nas participações em eventos diversos, na dinâmica de colectividades, no aparecimento de movimentos associativos, desportivos, culturais, sociais, musicais, artisticos, etc, etc.
Estas suas acções e atitudes têm vindo a atingir uma forte popularidade e adesão, entre os mais novos, o que contraria a “evocação” das acusações acima mencionadas.
* Quiçá os portugueses só têm aquilo que merecem, porque permitiram e elegeram ao longo de décadas, certa gente “malformada, sem ética, desonesta, sem formação e incompetente”.
Não importa dizer-se que a culpa é da esquerda, do centro ou da direita, pois a culpa ao fim e ao cabo, tem sido de todos.
É no mínimo questionável, afirmar-se que os “jovens são indiferentes à política”, quando o número de jovens a posicionar-se, perante as maiores adversidades e o número de movimentos e protestos organizados por jovens para jovens, aumenta todos os dias.
Os jovens estão cansados, fartos, desiludidos e mesmo “frustrados”, por não verem os políticos e a política como uma fonte de mudança e de melhorias para a sua vida mas sim como uma fonte de perpetuação de um sistema que não funciona.
São circunstâncias destas que têm conduzido à sua posição de desinteresse, desencanto e falta de fé, na política convencional e que são mais do que legítimas como reacção.
Não é que não se acredite nas boas intenções de alguns políticos mas como se costuma dizer: de boas intenções está o inferno cheio. O que se precisa, é de uma acção, de mudança de mentalidades.
“A falta de fé nos modelos políticos actuais” deve-se única e, exclusivamente, à falta de capacidade que os políticos têm vindo a demonstrar ao longo dos anos para a integração dos jovens na acção política com as suas ideias e preocupações.
* Enquanto jovem estudante e activista, também, particularmente, sei quantas vezes a minha voz foi silenciada e a minha opinião desvalorizada.
Se não for ensinado, devidamente, o que é a política, como funciona ou se organiza, isso sim que criará uma situação de inacção, por parte de quem é jovem.
Aqui se encontra o seguinte grande desafio:
– Como despertar o significado de relações humanas autênticas que os jovens possuem e desejam demonstrar? Os jovens precisam encontrar adultos compreensivos, experientes e preocupados na construção de um mundo melhor e democrático como uma fonte de actuação aberta a diversos grupos que desejam ser participativos mas não perante atitudes e acções que não abram “as mãos” e sujeitem assim as suas vidas, perante determinadas adversidades.
* Os jovens já nem querem saber se o mundo está ou não em “retrocesso democrático”, pois a política precisa de “falar dos problemas concretos das pessoas” para que dessa forma, não os remetam ao desinteresse.
“O Conselho da Europa está preocupado com o retrocesso democrático” e com o alienamento das pessoas e, naturalmente, também dos jovens – em relação à Democracia”.
Pergunto:
– Estarão os jovens assim tão afastados por desinteresse? E como se combate o seu desencanto?
É importante que a política não pareça como que um “jogo fechado” e indiferente, face aos “problemas concretos e reais da sociedade”!
● Conclusão
Para os jovens, a participação política não se deverá restringir somente a momentos eleitorais, ou a militâncias partidárias mas sim procurar usar-se estratégias mobilizadoras para os integrar na vida política activa em prol de uma Cidadania saudável porque o futuro a eles pertencerá.