O secretário-geral do PCP acusou este domingo PSD, Chega e Iniciativa Liberal de terem “objetivos reacionários e antidemocráticos” com os projetos de revisão constitucional, salientando que o PS “fez mal” em iniciar aquele processo porque lhes “dá espaço para medrar”.
“Fez mal o PS em abrir as portas neste processo [revisão constitucional], fez mal o PS em ser interveniente e dar espaço e oportunidade para que objetivos e propósitos reacionários e antidemocráticos bem patentes nos projetos de PSD, Chega e IL tenham campo para medrar”, afirmou Paulo Raimundo, em Matosinhos, distrito do Porto, naquele que foi o seu primeiro comício como secretário-geral comunista.
Para o líder do PCP, a Constituição da República é um “documento de grande significado político que, apesar das sete revisões e de profundamente golpeado, mantém uma profunda atualidade”.
“O problema da Constituição não está no seu conteúdo, o problema está na sua não aplicação integral”, sustentou.
Paulo Raimundo considerou depois que “o foco mediático está centrado na agitação de sucessivos casos”, deixando clara a posição do PCP sobre esta matéria: “Para nós, é claro, investigue-se o que há para investigar, apure-se o que há para apurar, responsabilize-se quem for de responsabilizar e ponto final”.
“Há quem queira alimentar estes casos porque vê nisso, mais do que práticas condenáveis, uma forma de atingir o regime democrático e a própria Constituição. Não contem com o PCP para esse objetivo”, salientou.
O sucessor de Jerónimo de Sousa centrou grande parte do discurso no Orçamento do Estado (OE), deixando mais críticas aos restantes partidos com assento no parlamento.
“[O PS] assume para si na Assembleia da Republica as dores de PSD, Chega e Iniciativa Liberal, que, de forma cada vez mais evidente, também são as suas, e leva à risca as vontades e interesses do grande capital e não do país, como se vê na sua proposta de OE para 2023”, criticou.
Segundo Paulo Raimundo, entre outras consequências, a proposta de OE “aprofundará o empobrecimento da maioria da população” e traduzirá “a opção de reduzir a dívida e o défice à custa da redução dos salários e das pensões, da desvalorização dos serviços e do investimento público, e do agravamento das injustiças fiscais”.
Ainda sobre o OE, depois de considerar que houve uma “extraordinária expressão” na greve de sexta-feira na Administração Pública, o comunista apelou à “luta” e a uma “forte, decidida e clara expressão” na manifestação convocada para o dia da votação final do OE em frente à Assembleia da República.
O aumento do salário mínimo nacional foi outro dos destaques de Paulo Raimundo: “Mês cada vez maior para um salário cada vez mais curto, 75% dos trabalhadores a ganhar menos de mil euros, dois milhões dos quais a ganhar menos de 800 euros. Lucros cada vez maiores para os grupos económicos, quatro mil milhões de euros que, se distribuídos, fariam aumentar o rendimento disponível aos dois milhões de pobres em cerca de dois mil euros por ano, perto de 200 euros mensais a cada um. É este o grau da injustiça a que chegámos”, começou por dizer.
“O que é necessário e cada vez mais urgente é o aumento geral e significativo dos salários, que reponha e garanta o aumento do poder de compra, e a fixação a 01 de janeiro do próximo ano dos 850 euros do Salário Mínimo Nacional, bem como a valorização das carreiras e profissões”, defendeu.
O novo líder do PCP terminou o seu primeiro discurso no seu primeiro comício partidário com secretário-geral do PCP com um apelo e um sinal de esperança para os tempos que se seguem.
“Um caminho de luta, sim, mas acima de tudo um caminho de esperança, de construção e de apelo à participação de todos os que aspiram a uma vida melhor. Avançar é possível. Ao trabalho camaradas”, disse.