O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu, nesta sexta-feira, que a primeira questão que se coloca no caso do acolhimento de refugiados pela câmara municipal de Setúbal é saber se “é um caso único”
Questionado pelos jornalistas no Parlamento, Jerónimo de Sousa disse que, tanto quanto sabe, existe “um conjunto de câmaras que naturalmente são solidárias com os imigrantes, com os refugiados, sempre, mas sempre solidários com essas situações”.
O secretário-geral comunista defendeu que “a primeira pergunta que se coloca é de facto se isto é um caso único ou se existe uma generalidade de associações que são solidárias com os imigrantes”, após questionado se o PCP vai acompanhar os pedidos de audição no Parlamento do presidente da Câmara de Setúbal anunciados por quase todos os partidos.
“Portanto não percebemos o enfoque em relação à câmara” de Setúbal, acrescentou.
O semanário Expresso noticia, nesta sexta-feira, que refugiados ucranianos são recebidos na Câmara de Setúbal por russos simpatizantes do regime de Vladimir Putin e que responsáveis pela Linha de Apoio aos Refugiados estão a fotocopiar documentos dos refugiados, entre os quais passaportes e certidões das crianças.
Questionado se esta é uma questão sensível, dado que os dois países estão em guerra, o secretário-geral do PCP referiu que “aquela associação, aqueles que lá estão associados convivem bem uns com os outros”, ressalvando no entanto não ter “informações precisas”.
Já se esta situação pode prejudicar o PCP, Jerónimo disse desconfiar que “esse é o objetivo”.
“Mas que não é verdade, tendo em conta que existe por parte de diversas instituições essa solidariedade com aqueles que vêm para o nosso país”, defendeu.
Já se o Governo deverá esclarecer a situação, Jerónimo de Sousa disse que “sim, convém esse esclarecimento”.
“Mas eu acho que é possível esclarecer”, afirmou o secretário-geral comunista.
O presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Valente Martins, do Partido Ecologista “Os Verdes”, foi eleito pela lista da CDU (PCP/PEV/ID) nas últimas eleições autárquicas.
Antes de retomar o debate parlamentar sobre o Orçamento do Estado para 2022, Jerónimo de Sousa, acompanhado pela líder parlamentar, Paula Santos, e pelo deputado Bruno Dias, saíram do gabinete do Grupo Parlamentar do PCP, tendo-se cruzado nos corredores com os membros do Governo.
Nessa altura, o líder comunista conversou, durante alguns minutos, com o primeiro-ministro, longe dos microfones dos jornalistas.
Segundo o Expresso, pelo menos 160 refugiados ucranianos já terão sido recebidos por Igor Khashin, antigo presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, e pela mulher, Yulia Khashin, funcionária do município setubalense.
De acordo com aquela publicação, Igor Khashin, líder da Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), subsidiada desde 2005 até março passado pela Câmara de Setúbal, e a mulher terão, alegadamente, fotocopiado documentos de identificação dos refugiados ucranianos, no âmbito da Linha de Apoio aos Refugiados da Câmara Municipal de Setúbal.
Igor Khashin e a mulher terão também questionado os refugiados sobre os familiares que ficaram na Ucrânia, mas a Câmara Municipal de Setúbal garante que “nunca foi feita tal pergunta”.
O jornal Expresso refere ainda que Igor Khashin é um dirigente associativo com dupla nacionalidade, que se apresenta como “gestor de projetos”, e que as associações a que terá estado ligado estavam nos sites da Ruskyi Mir e da Rossotrudnichestvo, instituições estatais criadas pelo Kremlin para divulgar a cultura e o mundo russos, mas que, segundo fontes citadas pelo jornal, “podem servir de cobertura a elementos dos serviços secretos” da Rússia.
Entretanto, a Câmara de Setúbal indicou, em comunicado, que retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior de origem russa Yulia Khashin e que vai pedir ao Ministério da Administração Interna que proceda a uma averiguação sobre a receção de refugiados por russos alegadamente pró-Putin.