António Costa e Cotrim Figueiredo debateram na TVI, com muitos gráficos e papéis pelo meio. Os comentadores Expresso dão-lhes três empates e uma vitória para cada lado. Confira os comentários
David Dinis
António Costa 6 – Cotrim 7
Cotrim abriu bem, com gráficos que mostram que o crescimento de Portugal não é satisfatório – e que uma média não chega para fazer um retrato. Também interessante a explicar como o sistema de justiça e o sistema fiscal não incentiva a inovação (até Costa concordou). Na verdade, a dado passo do debate, até parecia que Costa e Cotrim não estavam assim tão longe – Cotrim chegou a elogiar uma proposta do último Orçamento (“das poucas de que gostei”, disse ele) e Costa a deixar cair uma graça sobre os slides do liberal (“ainda bem que não são taxados”).
Só que, claro, não estão próximos. Os dois discutiram salário mínimo, IRS, modelo de capitalização da Segurança Social. Aqui, #costabem, apontando os riscos do projeto liberal, #cotrimbem lembrando como hoje a Segurança Social já investe de forma segura nos mercados. De resto, esta parte do debate densa e interessante, bem mais do que a discussão que Costa teve com Rio sobre o mesmo tema.
Mais um tema interessante? Sim, a falta de mão de obra em Portugal, pela mão de Cotrim, a reboque da proposta de quatro dias de trabalho por semana – que Costa esclareceu poder ser com o mesmo tempo de trabalho. Surpresa aqui: “Eu nisso sou muito liberal O meu sonho é viver num país nórdico onde as partes se entendam, mas não vivemos”, disse Costa – “read his lips”.
Termino com um sublinhado: esta noite, Cotrim Figueiredo bateu-se com Costa de igual para igual, levando o primeiro-ministro a discutir ponto a ponto a sua agenda – e fixou uma agenda política mais clara do que a de Rui Rio. Por isso, e por aquela longa lista de títulos com promessas de Costa, merece uma vitória.
Paulo Baldaia
António Costa 6 – João Cotrim Figueiredo 6
O líder da Iniciativa Liberal começou titubeante, mas subiu na segunda parte do debate, conseguindo levar o líder do PS a afirmar-se “muito liberal”. António Costa esteve mais solto que no debate com Rui Rio e não se esqueceu de trazer o PSD para o debate colando-o, por exemplo, à proposta da IL de privatizar parte da segurança social.
Os dois líderes estiveram no seu último frente a frente, descontraídos, a afirmar as diferenças, mas passando a correr por temas como a regionalização ou a situação da TAP.
Eunice Lourenço
António Costa 7 – Cotrim Figueiredo 6
Foi um debate sobre assuntos sérios, Costa e Cotrim em total divergência sobre assuntos económicos e fiscais. O líder socialista esteve notoriamente mais descontraído do que no debate com Rui Rio e aproveitou este debate com um eventual aliado do PSD para atacar pela lateral o seu principal adversário.
Cotrim Figueiredo, uma das boas surpresas desta longa série de debates, mostrou preparação e debateu de igual para igual com o primeiro-ministro num debate muito técnico e cheio de números. No assunto mais percetível para a generalidade dos eleitores – a eventual semana de quatro dias de trabalho – tentou atacar Costa, mostrando como o PS é inimigo das empresas ao sugerir diminuir o trabalho quando há falta de mão-de-obra em vários setores da economia.
Costa esclareceu que a semana de quatro dias não implica trabalhar menos horas, mas sim permitir que empresas e trabalhadores se organizem de forma diferente. E até, como assinalou, pareceu ele o liberal.
Martim Silva
António Costa 7 – Cotrim de Figueiredo 7
Um dia depois do fulcral debate com Rui Rio, António Costa voltou esta sexta-feira aos frente a frente televisivos, com um embate com o líder da Iniciativa Liberal, um dos partidos na mira de um entendimento com Rui Rio no pós-eleições.
O debate começou com o tema do crescimento da economia, um tema caro, por razões diferentes, aos dois. Costa a puxar pelo crescimento que diz ter conseguido no país nestes seis anos. Cotrim a puxar pelo crescimento que diz que Costa não conseguiu neste período. Seguiram-se os temas dos impostos, da segurança social e dos salários, com as mesmas visões distintas do caminho que deve ser dado ao Estado e aos seus recursos.
António Costa manteve a sua habitual solidez neste tipo de debates, em que não há uma frase que saia do guião e tudo parece estudado ao milímetro, da apresentação das propostas, aos ataques desferidos aos adversários. Cotrim de Figueiredo confirmou, neste último debate em que participou, que foi uma das boas surpresas desta maratona de duas semanas.
O melhor momento de Cotrim no debate foi mesmo o último: disse ter pesquisado na net “António Costa promete…” e mostrou um longo e interminável rolo de papel, qual pergaminho, com o que o líder do PS disse que ainda vai fazer.
Vítor Matos
Costa 7 – Cotrim 7
Uma guerra de números, um combate ideológico, dois modelos de sociedade, dois candidatos numa trincheira técnica durante num debate para iniciados em fiscalidade e segurança social. Estes duelos beneficiam mais proporcionalmente, podemos chamar-lhes assim, os ‘partidos em vias de crescimento’: Cotrim de Figueiredo teve mais uma oportunidade para explicar melhor ao que vem, e saiu-se bem perante o primeiro-ministro. António Costa, sendo primeiro-ministro e socialista, saiu-se bem na defesa das suas políticas e perante as propostas e os slides (que não pagam imposto, a piadinha de Costa) do adversário. O socialista ainda tentou completar argumentos das sobras do debate de ontem com Rui Rio, a tentar colar o PSD às políticas liberais da IL.
Como outros debates nesta temporada, estiveram os dois bem a defender a sua dama, uma economia e uma sociedade induzida pelo Estado, ou uma economia e uma sociedade livre de indução estatal. António Costa não teve resposta para o exemplo do aumento de um trabalhador de 800 para 900 euros ser consumido pelos impostos, e Cotrim não foi convincente nos riscos da semi privatização da Segurança Social (quando Costa, aliás, também titubeou com as acções em que o Fundo de Estabilização Financeira da SS investe). Estavam em dois campeonatos diferentes: um a expor a bondade e a justiça das suas políticas, e outro a fazer proselitismo de um campo político pouco representado em Portugal. Boa nota para ambos por razões diferentes.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL