O impacto económico dos investimentos propostos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) de cada Estado-membro está a ser revelado à medida que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, aterra em cada uma das capitais europeias. E Lisboa foi precisamente a primeira paragem deste périplo para aprovação dos PRR a executar entre 2021 e 2026.
Na manhã de 16 de junho, Ursula von der Leyen entregou pessoalmente ao primeiro-ministro António Costa a avaliação feita pelos peritos de Bruxelas ao PRR português. Lá dentro é que veio a simulação efetuada pelos serviços da Comissão ao plano orçado em €16,6 mil milhões de subsídios e empréstimos da “bazuca” europeia: o PRR tem potencial para aumentar o PIB de Portugal entre 1,5% e 2,4% até 2026.
Nessa mesma tarde, Ursula von der Leyen rumou a Madrid para dar a boa nova ao primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Os €69,5 mil milhões de subsídios europeus do PRR espanhol também foram aprovados por Bruxelas. E os serviços da Comissão acreditam no seu maior potencial para aumentar o PIB de Espanha entre 1,8% e 2,5% até 2024.
Na manhã seguinte de 17 de junho, a presidente da Comissão Europeia esteve em Atenas para dar luz verde ao PRR do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis. Este mobiliza €30,5 mil milhões de fundos europeus, dos quais €17,8 mil milhões de subsídios a fundo perdido mais €12,7 mil milhões de empréstimos. As simulações dos serviços da Comissão mostram o potencial deste PRR para aumentar o PIB da Grécia entre 2,1% e 3,3% até 2026. Mais do que o PRR português ou espanhol.
Na sua avaliação, a Comissão Europeia faz questão de frisar que o PRR grego foi antecedido de um detalhado plano de desenvolvimento para a economia grega. Este foi publicado em novembro de 2020, e coordenado por uma comissão de peritos encabeçada pelo prémio Nobel e professor da London School of Economics, Christopher Pissarides.
Convém notar que as simulações de Bruxelas não incluem o possível impacto positivo das reformas estruturais em cada país, um impacto que a própria Comissão admite poder vir a ser “substancial”. Considerado é o impacto global do Instrumento de Recuperação da União Europeia em cada país, o que inclui o acesso a diferentes apoios europeus, desde o ReactEU, Horizonte Europa, InvestEU, Fundo para uma Transição Justa, Desenvolvimento Rural e RescEU.
No campeonato da Europa do Sul, falta agora conhecer o resultado da avaliação aos €40,9 mil milhões de subsídios a fundo perdido solicitados pelo PRR francês. E sobretudo o impacto do PRR italiano, o mais ambicioso de todos os planos submetidos à Comissão Europeia.
Além dos €68,9 mil milhões a que teve direito na repartição dos subsídios a fundo perdido pelos 27 Estados-membros, facto é que o governo italiano decidiu pedir emprestado mais €122,6 mil milhões ao novo Mecanismo de Recuperação europeu, mobilizando assim um total de €191,5 mil milhões para modernizar o país até 2026.
O veredito será conhecido esta terça-feira, dia 22, quando Ursula von der Leyen aterrar em Roma para visitar com o primeiro-ministro, Mario Draghi, os emblemáticos estúdios da Cinecittá. É que um dos alvos deste PRR é precisamente a competitividade da indústria audiovisual italiana.
MEDIDAS PARA AS EMPRESAS
O Expresso pediu aos peritos da Deloitte – em Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia – uma primeira comparação destes cinco PRR. E a identificação de algumas das medidas mais emblemáticas para as economias da Europa do Sul e das suas empresas.
“Até pela sua proximidade ao caso português, importa analisar os planos espanhol, francês, grego e italiano. São os planos dos maiores países do Sul da União Europeia que – não obstante as naturais diferenças entre si – acabam por partilhar vivências e experiências económicas e sociais nem sempre muito distintas entre si”, diz o partner da Deloitte Portugal, Sérgio Oliveira.
Em termos financeiros, o perito destaca a diferente utilização dos empréstimos colocados ao dispor dos diferentes Estados-membro no contexto deste instrumento oficialmente chamado Next Generation EU. Embora Espanha e Portugal “em rigor, ainda não tenham, de facto, fechado totalmente a porta ao recurso futuro” aos empréstimos, Itália e Grécia “terão assinalado, desde já, o interesse efetivo em mobilizar a totalidade dos recursos financeiros disponíveis, incluindo, por conseguinte, o valor dos referidos empréstimos, potenciando, ainda, o recurso a outras verbas disponíveis na economia provenientes de fontes públicas e privadas”.
Espanha ou Itália são os maiores beneficiários dos milhões da bazuca europeia. Mas os franceses mais do que duplicaram os subsídios europeus a que tiveram direito. Como? Adicionando outros recursos financeiros que dobram o PRR para cerca de €100 mil milhões.
“Em qualquer caso, os valores que direta, ou indiretamente, serão atribuídos às empresas e ao setor privado nunca serão despiciendos”, diz Sérgio Oliveira. “Estes Estados-membros acreditam que a economia real terá um importante papel a desempenhar no sucesso dos respetivos planos de recuperação. Efetivamente, só cumprirão os objetivos traçados se todos os agentes económicos, sem exceção, estiverem alinhados em termos da estratégia a prosseguir no curto espaço de tempo disponível”.
MEDIDAS EMBLEMÁTICAS
O PRR grego mobiliza €2,7 mil milhões de subsídios e a totalidade dos €12,7 mil milhões de empréstimos a que tem direito do Mecanismo de Recuperação e Resiliência para apoiar as empresas e o investimento privado.
A Deloitte Grécia destaca medidas emblemáticas como a transformação económica do sector agrícola helénico (€520 milhões), a estratégia para promover a neutralidade climática das cidades, incluindo a regeneração de antigas áreas industriais e a modernização da Riviera Ateniense (€475 milhões), a aposta no aumento da capacidade de armazenamento de energia renováveis (€450 milhões), os apoios às empresas para aumentarem a eficiência energética dos seus edifícios (€450 milhões) ou a transformação digital das pequenas e médias empresas gregas (€375 milhões).
O PRR espanhol deverá cobrir cerca de 20% dos investimentos do sector privado envolvidos na retoma da economia espanhola. A Deloitte Espanha destaca a importância dos chamados Projetos Estratégicos para a Recuperação e Transformação Económica (PERTE). Um deles envolverá a produção de baterias em Espanha para apostar na emergente fileira dos carros elétricos e conectados. Outra medida emblemática do PRR espanhol será o desenvolvimento de plataformas colaborativas de serviços digitais para as pequenas e médias empresas acederem a instrumentos de automação e robótica, inteligência artificial, cibersegurança ou “blockchain”.
A Deloitte França destaca que 44% dos €100 mil milhões envolvidos no PRR francês deverão ser alocados às empresas. A modernização de sectores estratégicos da indústria gaulesa – como aeroespacial, automóvel ou telecomunicações (5G), por exemplo – é uma das medidas destacadas. A aposta entende-se aos projetos de economia circular e descarbonização da indústria, bem como à digitalização das pequenas e médias empresas. Atenção também ao sector agroalimentar e à transição agroecológica.
A Deloitte Itália confirma que este é o maior beneficiário dos fundos do Mecanismo de Recuperação e Resiliência da União Europeia e estima que cerca de €75 mil milhões serão disponibilizados às empresas.
As grandes prioridades são a digitalização, inovação e competitividade, incluindo o turismo e a cultura; a revolução verde e a transição ecológica; infraestruturas para a mobilidade sustentável; educação e investigação; inclusão e coesão; e saúde.
O PRR italiano aposta, em particular, na investigação e na inovação. Além das várias dezenas de milhões de subsídios europeus envolvidos, estão previstos outros incentivos como créditos fiscais em prol da investigação e desenvolvimento (I&D), inovação e design das empresas ou “eco-bónus” para maior eficiência energética dos edifícios.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso