A primazia masculina nas autárquicas mantém-se. A conclusão é do estudo “Eleitos locais em Portugal: os perfis e a questão de género”, do CIES, ISCTE-IUL. O trabalho, mencionado esta segunda-feira pelo “Diário de Notícias”, analisa a questão de género nas autárquicas de 1974 a 2017.
Nas mais recentes autárquicas, os dados revelaram que em 6,8% das câmaras não havia qualquer mulher candidata, em 47,1% era apresentada uma mulher em terceiro lugar, em 28% uma mulher no quinto lugar, em 24% era candidata uma vice-presidente e em 10,4% concorria uma presidente da câmara.
A investigadora Maria Antónia Pires de Almeida acredita que “as principais barreiras encontram-se na formação das listas partidárias, cujos responsáveis, tanto concelhios como distritais, são maioritariamente homens. No cumprimento da lei da paridade, as mulheres são colocadas nas listas, mas raramente em primeiro lugar, o que as remete para posições não elegíveis”.
Maria Antónia Pires de Almeida diz que, no que diz respeito à lei da paridade, os partidos “cumprem-na porque são obrigados, mas sem grande interesse em colocar mulheres na primeira posição das listas nem em ficar bem-vistos a nível de imagem”.
O estudo conclui que as mulheres nos lugares de poder têm escolaridade mais elevada. “As mulheres presidentes das comissões administrativas [nomeadas para gerir as câmaras municipais entre 1974 e 1976] tinham estudos superiores em 55,5% dos casos, enquanto os homens os tinham em apenas 49,2%. Entre os 227 vice-presidentes nomeados para as comissões administrativas, seis eram mulheres, o que corresponde a 2,6%. De um total de 2547 membros destas comissões, incluindo vogais, apenas foram nomeadas 92 mulheres, o que corresponde a 3,6%, as quais possuíam habilitações superiores em 64,1% dos casos, enquanto os homens em apenas 25,1%”.
“As mulheres presidentes de câmara também têm habilitações mais altas: nas quatro décadas em estudo, 58% tinham cursos universitários, enquanto nos homens o valor apurado foi de 43%“.
No mesmo período, foram eleitas presidentes de Câmara 18 mulheres pelo PS, seis pelo PSD, quatro pelo PCP-PEV, três listas independentes e uma numa coligação PSD-CDS.
Ainda segundo o “DN”, Maria Helena Santos (doutorada em Psicologia Social e das Organizações e investigadora), Ana Espírito-Santo (doutorada em Ciências Políticas e Sociais ) e Ana Lúcia Teixeira (doutorada em Sociologia), que realizaram recentemente um estudo, centrado no PS e no PSD, verificaram existir “um compromisso moderado, mas sério, com a lei de paridade (tanto nas suas ações como nos seus discursos), com o PS a ter um desempenho ligeiramente superior ao do PSD”, no entanto sublinham que é preciso não esquecer que o “PS foi o promotor desta lei e que as orientações do líder político vão agora no sentido de se implementar a lei da paridade de facto, ou seja, os 50/50 e não ficar pelo mínimo. Tal pode, de alguma forma, contagiar o processo de eleição das mulheres para presidentes de câmara”.
Notícia exclusiva do nosso parceiro Expresso