Dos quatro autarcas visados pela lei da limitação de mandato, encontram-se um do PS, dois do PSD e um da CDU. Do PS, João Calixto abandona Reguengos de Monsaraz e concorre a Évora. Já no PSD, Fermelinda Carvalho deixa Arronches para Portalegre e Rui André vai de Monchique para Portimão. Maria das Dores Meira (CDU) sai de Setúbal para Almada.
RUI ANDRÉ MUDA DE MONCHIQUE PARA PORTIMÃO
Conforme o POSTAL avançou em primeira mão, no início de abril, Rui André é o candidato do PSD à Câmara Municipal de Portimão, um processo marcado pelo apoio inicial da concelhia local do PSD ao candidato independente, Luís Carito, num acordo que não mereceu a aprovação da direção nacional.
Rui André, professor do ensino básico, está a cumprir o último de três mandatos (2009, 2013 e 2017) como presidente da Câmara de Monchique.
Rui André foi uma surpresa em 2009 ao destronar os 27 anos de governação do histórico socialista Carlos Tuta.
Entre os que querem regressar à liderar o seu município como presidentes de câmara municipal, o Algarve soma quatro ex-presidentes: Luís Gomes (PSD) para Vila Real de Santo António, Desidério Silva (Independente) para Albufeira, Francisco Martins (Independente) para Lagoa e Manuel Marreiros (Independente) para a Câmara Municipal de Aljezur.
Luís Gomes regressa à sua terra – VRSA
Confirmou-se a notícia avançada pelo POSTAL: o social-democrata Luís Gomes, que presidiu à Câmara de Vila Real de Santo António até 2017, é o candidato do PSD à presidência daquele município nas próximas eleições autárquicas, assumindo querer por a cidade “a crescer novamente”.
A candidatura do ex-autarca surgiu oficialmente depois da então presidente do município, Maria da Conceição Cabrita, ex-vereadora e depois vice-presidente da autarquia no terceiro mandato de Luís Gomes, ter anunciado que não se ia recandidatar.
Luís Gomes ocupou o cargo de presidente daquela autarquia durante três mandatos, de 2005 a 2017.
Natural de Vila Real de Santo António, Luís Gomes rumou aos 18 anos a Lisboa para se licenciar em Engenharia do Território, no Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, onde está a terminar um doutoramento em Engenharia e Gestão.
Pelo meio, obteve um mestrado em Ciências Económicas e Empresariais, na Universidade do Algarve, onde é docente auxiliar convidado na Faculdade de Economia. Exerce também, a nível particular, funções como consultor na área de projetos estratégicos e do ordenamento do território.
Entre 2002 e 2005 assumiu o cargo de vereador da autarquia de Vila Real de Santo António, função que acumulou com a de deputado na Assembleia da República.
Em 2005 é eleito para comandar a câmara algarvia, mandato que conseguiu renovar em 2009 e em 2013. Foi membro do Comité das Regiões da União Europeia entre 2014 e 2017, ano em que terminou o seu terceiro mandato.
Desidério Silva quer reconquistar Albufeira
O ex-social-democrata e antigo presidente da Câmara de Albufeira e da Região de Turismo do Algarve (RTA) candidata-se à Câmara de Albufeira (PSD) nas próximas eleições autárquicas por um movimento independente.
Militante do PSD durante cerca de 30 anos, Desidério Silva foi eleito presidente da Câmara de Albufeira em 2001, cargo que manteve até 2012, quando suspendeu o mandato no município do distrito de Faro para assumir as funções de presidente da RTA.
Em 2020 Desidério Silva desvinculou-se do PSD, manifestando numa carta enviada ao líder do partido a sua “desilusão por não ter havido valorização do trabalho feito, nem de sentir que o partido pretendia a sua colaboração, através da experiência adquirida ao longo dos anos”. Desidério Silva justificou que o que o motivou a avançar com uma candidatura através do “Movimento Independente Desidério por Albufeira” foi sentir o apoio das pessoas das várias áreas, para liderar a autarquia “e fazer as coisas de forma diferente do que atualmente está a ser feito no concelho”.
Desidério Silva assumiu que se sente “motivado e mais livre do que nunca para fazer as escolhas e constituir as equipas com pessoas competentes” para ganhar ao PSD, nas próximas eleições autárquicas, a Câmara por si conquistada ao PS em 2001.
A Câmara de Albufeira é atualmente liderada por José Carlos Rolo (PSD), que assumiu a presidência em fevereiro de 2018, após a morte do então presidente Carlos Silva e Sousa, que tinha sido reeleito em 2017 para um segundo mandato.
Francisco Martins regressa mas como independente
Eleito pelo PS em 2013 e 2017, Francisco Martins viu-se “forçado a deixar o cargo de presidente” e, embora continue com problemas de saúde, já estão “muito melhor”, tendo, por isso, decidido apresentar uma candidatura independente contra o seu sucessor na autarquia, Luís Encarnação, que vai liderar a lista do PS ao município.
No dia da apresentação oficial da sua candidatura, Francisco Martins disse ter uma “dívida de gratidão com os lagoenses” e considerou que o rumo traçado no município após a sua saída “não corresponde à maneira de estar e ser que Lagoa necessita”, levando-o a apresentar uma candidatura independente.
Francisco Martins, que foi adjunto da secretária de Estado da Saúde Jamila Madeira no atual Governo, já não está filiado no PS.
Enfermeiro de profissão, Francisco Martins foi presidente da Câmara de Lagoa entre 2013 e 2018 e passou depois pelo Governo entre 2019 e 2020.
Antes, exerceu as funções de enfermeiro coordenador da unidade de Cuidados Continuados da Santa Casa da Misericórdia de Estômbar e no concelho de Lagoa durante cerca de 20 anos, tendo também integrado vários órgãos do poder local e sido presidente da Junta de Freguesia de Lagoa entre 2009 e 2013.
A Câmara de Lagoa tem maioria PS, partido que obteve cerca de 60% dos votos nas últimas eleições autárquicas e que conta com cinco dos sete eleitos,.
O PSD é a principal força da oposição, tendo em 2017 alcançado 23% dos votos, o que se traduziu na atribuição de dois mandatos. O BE foi o terceiro partido mais votado, com perto de 5%, seguido da CDU, com cerca de 4%.
Manuel Marreiros cumpriu 20 anos como presidente de Aljezur e volta 12 anos depois
O antigo presidente da Câmara de Aljezur Manuel Marreiros vai voltar a concorrer ao cargo, como independente, 12 anos depois de ter deixado a liderança do município algarvio, “para fazer renascer um concelho abandonado”.
Manuel Marreiros foi presidente da Câmara de Aljezur durante 20 anos, tendo cumprido três mandatos pela CDU, entre 1989 e 2001, e dois pelo PS, entre 2001 e 2009.
Depois de abandonar a presidência do município da Costa Vicentina, Marreiros encabeçou a lista socialista à Assembleia Municipal, órgão a que presidiu entre 2009 e 2013 e foi mandatário da candidatura local do PS nas eleições autárquicas de 2017.
Depois de um processo judicial iniciado em 2012 e que culminou em 2018 com a condenação à perda de mandato, meses depois de se ter retirado da via política, Manuel Marreiros pretende voltar ao ativo e liderar a autarquia aljezurense como independente.
Nas eleições autárquicas de 2017, o PS venceu com maioria absoluta, alcançando 58,6% dos votos num universo de 2.584 votantes, garantindo três dos cinco eleitos na Câmara Municipal.
A CDU foi a segunda força política mais votada (18,73%), seguida da coligação PSD/CDS-PP/MPT (16,52%), que elegeram ambas um vereador.
Há 2 câmaras do Algarve que foram eleitas sempre pelo mesmo partido
No país, há 31 concelhos que nunca elegeram um partido diferente, desde a sua criação, nas eleições autárquicas, e dois deles são no Algarve
Algumas câmaras mantêm o partido desde 1976 e outras, que surgiram mais tarde, desde 2001.
São menos nove municípios do que em 2017, na altura, havia 40 concelhos do país que se mantinham fiéis: 16 do PSD, 13 do PS e 11 da CDU.
Das 31 autarquias que, mesmo depois das últimas eleições, escolheram sempre a mesma cor política, 11 elegeram sempre o Partido Socialista, 11 o Partido Social Democrata e 9 a Coligação Democrática Unitária.
No Algarve há dois concelhos que sempre foram do PS: Olhão e Portimão, além de mais oito igualmente socialistas que são Alenquer, Campo Maior, Cartaxo, Condeixa-a-Nova, Gavião, Lourinhã, Odivelas, Reguengos de Monsaraz e Torres Vedras.
Já os municípios que votaram sempre no partido de centro-direita são Arcos de Valdevez, Boticas, Calheta, Câmara de Lobos, Ferreira do Zêzere, Mação, Oleiros, Penedono, Penela, Santa Maria da Feira e Valpaços.
Já as nove câmaras que sempre foram comunistas pertencem a Arraiolos, Avis, Montemor-o-Novo, Moita, Mora, Palmela, Santiago do Cacém, Seixal e Serpa.
As câmaras que mudaram de partido nas últimas autárquicas foram: Almada e Castro Verde (da CDU para o PS); Vila do Conde e Vizela (do PS para independente); Ansião, Oliveira de Azeméis e Ponta do Sol (do PSD para o PS); Oliveira de Frades (do PSD para o Nós, Cidadãos); e Ribeira Brava (do PSD para independente).
Politólogo alerta para “uma consequência da falta de futuro político dos autarcas após o modelo de limitação de mandatos”
Entre os 23 que fizeram uma pausa, destaca-se um nome mais mediático: o antigo primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes, esteve na presidência da Câmara de Lisboa, mas iniciou-se no poder local na Figueira da Foz – onde vai concorrer como independente.
O perito do Conselho da Europa sobre direito das autarquias, António Rebordão Montalvo, considera que “isto é um reflexo da profissionalização do presidente de câmara que se transformou num funcionário como os chefes de repartição de Finanças que andam de terra em terra”, referiu ao Jornal de Negócios.
“A figura de dinossauros no poder local é uma consequência da falta de futuro político dos autarcas após o modelo de limitação de mandatos”, assinala o politólogo António Costa Pinto. “Ao contrário da maior parte das democracias, na portuguesa não há interpenetração de cargos políticos nacionais e locais, com exceção do caso único de Santana Lopes, que foi primeiro-ministro e quer voltar à Figueira da Foz”.