Fala-se muito da guerra na Ucrânia, e deve-se falar, mas nas guerras que existem por este mundo fora não se fala, não estão na moda jornalística, ou porque os jornalistas não sabem, o que eu duvido, ou porque os controladores da comunicação social não querem.
Não se vê noticias sobre a guerra no Afeganistão, norte de Moçambique, etiópia, Colômbia, Palestina, Síria e não só.
Vêem-se notícias sobre os militares mortos na Ucrânia, nos civis, mulheres e crianças chacinadas naquela guerra hedionda, escalperizando até ao ínfimo detalhe de cada história pessoal, mas ninguém fala nos milhares de adultos e crianças que morrem à fome todos os dias em África.
Não há guerras santas nem justas, só têm justificação no cinismo, na arrogância, na insensatez e na ganância de políticos e do topo das hierarquias militares, coadjuvados pelos grandes interesses económicos à volta da produção de material de guerra e dos negócios da reconstrução. Nenhuma guerra é inevitável.
A mentalização dos povos para a aceitação da guerra demora muitos anos, levada a cabo por “salvadores da Pátria” que ao mesmo tempo estruturam a economia em conformidade com os seus maléficos desígnios.
Segundo vários relatórios do desenvolvimento humano do PNUD, ONU, bastaria aplicar as despesas militares de um único ano em produção agrícola para se acabar com a fome no mundo para sempre, é triste, mas é a realidade. Com tanto dinheiro quantas escolas e hospitais se construiriam? Preferem destruir tudo.
Retira-se dinheiro aos cidadãos para comprar material de guerra, depois perdem-se milhares ou milhões de vidas, daqueles que pagaram impostos, destrói-se tudo o que foi construído com muito esforço, depois de tudo destruído elogiam-se aqueles que provocaram a guerra e assinaram a paz, a seguir cobram-se mais impostos para reconstruir tudo o que foi arrasado, aumenta a miséria dos Povos e alguns muito ricos ficam ainda mais ricos com os negócios à volta da guerra. É humanamente macabro.
Infelizmente continuam a discutir a guerra na Ucrânia, e todas as outras, com informações e contrainformações militares, como se fosse um jogo de futebol, armados em juízes de tribunais populares, contudo não discutem os fundamentos de cada guerra, nem a essência das mesmas.
A diferença entre deitar abaixo um prédio na Ucrânia e deitar fogo nas tabancas na Guiné-Bissau, é que num é com um míssil no outro era com um isqueiro, o efeito é o mesmo, destruir o pouco que as pessoas têm.
A seguir ao 25 de Abril, pensei que as mentalidades iriam mudar, mas sem um sistema de ensino que eduque honestamente os jovens para a cidadania não há alteração nos padrões da mentalidade do Povo.
* Licenciado em Economia pelo ISEG – Lisboa
Mestre em Educação de Adultos e Desenvolvimento Comunitário pela U. Sevilha
Professor aposentado