Em meados de Setembro expressei publicamente a opinião de que haviam sido dados “dois enormes passos para a afirmação da nossa cidade e para a difusão do espírito e do orgulho Tavirense” numa referência à inclusão no programa de acção do Município de duas medidas concretas relativas à divulgação da figura e obra de Álvaro de Campos:
– o reconhecimento e homenagem da cidade ao poeta através da exposição pública dum monumento alusivo;
– a geminação de Tavira com Glasgow, cidade “escolhida” por Fernando Pessoa para a licenciatura de Álvaro de Campos em engenharia naval.
Como então referi, tomaram assim “forma oficial” duas das mais importantes e almejadas aspirações, demonstrativas do orgulho Tavirense para com o “seu” poeta.
Esta temática vem a merecer especial carinho público quer pelas iniciativas da “Casa Álvaro de Campos”, que, continuadamente, desde os idos anos 80, organiza diversos eventos centrados na figura e obra do poeta, quer pela “Armação do Artista” que, desde a sua fundação, nos tem presenteando com criações artísticas igualmente homenageadoras. De referir ainda que, por iniciativa da “Partilha Alternativa”, de há três anos a esta parte, durante os meses de Outubro e Novembro, tem tido lugar a “Festa dos Anos de Álvaro de Campos” programa cultural abrangente , com participação de variadas associações, meios de comunicação social e escolas da cidade.
É também de todos conhecido o reconhecimento oficial do Município a esta causa, que tem especial expressão pública na toponímia e na atribuição do nome do poeta à Biblioteca Municipal.
Igualmente o programa “365 Algarve”, atribui importância cultural e de icone turístico valorizando “Álvaro de Campos” na sua programação.
De toda esta envolvência e fazendo jus à satisfação por ver publica e oficialmente assumido o compromisso da valorização da sua figura e obra, dispus-me a alvitrar que desenvolvamos acções, centradas no poeta, que contribuam para que a nossa cidade continue a ser, a cada dia que passa, mais atrativa, exalando cultura e qualidade de vida
Para tal, a “Casa Álvaro de Campos” e a “Armação do Artista” como associações especialmente vocacionadas para esta temática, com a colaboração de personalidades locais, poderão vir a conduzir o processo de feitura do monumento, a realizar eventos e espectáculos culturais de poesia, teatro e música e a dar colaboração na internacionalização desta causa por via da anunciada geminação.
Também deste modo caminharemos para que “Tavira se afirme como centro do sotavento do Algarve … onde a preservação do património histórico e arquitectónico é uma realidade visível em cada recanto dos centros urbanos, onde a promoção e divulgação da cultura são uma constante …”. Tal vem encontrando adequada expressão nas condições materiais que paulatinamente vão sendo criadas, como sendo:
– a recuperação do Cineteatro “António Pinheiro”;
– a Intervenção programada nas futuras instalações da “Armação do Artista”, na Corredoura;
– o prosseguimento das diligências para a muito desejada passagem ao domínio municipal do antigo quartel da GNR, para, eventualmente, as afectar a actividades culturais;
Também constitui motivo de agrado a prevista abertura em Santa Catarina do “Museu de Artes Digitais”, valorizando assim o nosso já vasto património cultural.
E, como apogeu deste ambicioso sonho, relembra-se a desejada afectação do Quartel da Atalaia ao domínio municipal, assunto cujo debate estará sempre na ordem do dia.
Em termos de realizações culturais sedimentadas – condição básica para Tavira almejar ao estatuto de “Cidade Cultural e Criativa” e factor essencial à sua afirmação como “Centro do Sotavento”- não considerando aqui as actividades estivais de divertimento e lazer, a nossa cidade vem desenvolvendo neste âmbito algum notório trabalho de que se destaca o festival “Viva a Primavera”, a “Feira da Dieta Mediterrânica”, o programa “Outonalidades”, as performances poético/teatrais da “Armação do Artista”, o Festival “Sérgio Mestre”, a “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”, os concertos semanais “Música nas Igrejas”, os concertos periódicos pela Orquestra do Sul, as sempre apreciadas iniciativas da Associação Internacional de Paremiologia, a actividade estival da “Casa das Artes” e ainda toda uma panóplia de realizações culturais das numerosas associações, tudo bem acompanhado pelo “espírito pessoano” presente nos órgãos de comunicação social do concelho, a Rádio Gilão e o “Postal do Algarve”. Também criou raízes a “Mostra de Cinema, anualmente promovida pelo Cineclube. Notáveis ainda as expressões artísticas “produzidas” por pintores e artistas plásticos tavirenses ou que escolheram a nossa terra para residir.
Faltará porventura ser dado relevo e ser promovida uma maior inclusão de artistas e criadores locais nas diversas realizações, pois serão sempre eles o motor cultural da cidade. Haverá que dar-lhes voz, visibilidade e o reconhecimento de que são merecedores.
Premente ainda o estabelecimento dum normativo que privilegie um tratamento igualitário e universal, de fácil acessibilidade e com criterioso rigor na seleção dos eventos e na concessão dos apoios oficiais, que constitua um factor de motivação e de activa participação dos diversos agentes na definição da política cultural.
Por último, mas de primeira linha, deverá constituir uma obrigatoriedade e preocupação permanentes o envolvimento das escolas nesta “onda cultural”.
Os dados estão lançados, a favor da cidade, da cultura, de todos nós.