Parece ponto assente que a estratégia de Recursos Humanos deve caminhar em paralelo com a estratégia da organização. É neste encontro que se cozinha aquilo a que chamo de elevada performance. Dito assim, parece fácil. O objetivo e a estratégia. Porquê, para quê, como e para quem. E neste caminho, entre um ponto e outro, há uma linha que deve coser a identidade: quem somos, para onde vamos e a missão de cada um nesta trajetória. A história, o futuro e a criatividade no hoje. Na criatividade está a chave do sucesso, a semente da reinvenção – nunca tive a menor dúvida.
Revelo desde logo que, o segredo, não está em ler cada um destes conceitos e considerá-los lógicos. Exige um trabalho minucioso de dissecação individual e em equipa, e só a transparência na comunicação o permite. Note-se que, falar da força do sorriso é diferente de demonstrá-la ao sorrir. O segredo não está em falar sobre impacto, está em criá-lo e em refletir sobre a sua importância – conhecer o conceito, transformá-lo em estratégia e comportamento.
A produtividade de excelência acontece quando um indivíduo — ou atleta, como gosto de nos chamar – está num estado altamente positivo. É impreterível que as organizações invistam no desenvolvimento dos seus colaboradores e saibam gerar estados altamente potenciadores.
O atual momento disruptivo em que vivemos acentuou as lacunas existentes e obrigou à materialização da inovação e da criatividade. É vital repensar a cultura dos escritórios, abraçar momentos de socialização alternativos, colaboração e criatividade. O escritório deve representar o momento físico que potencia e alavanca. O teletrabalho obriga a que se repense o reforço da identidade empresarial e a criação de momentos de impacto. Um colaborador altamente capaz, sem sentido de pertença ou identidade, facilmente troca o contexto de atuação por não ser a equipa/organização um fator de relevância. É a proximidade que gera empatia e é a empatia que acrescenta “O” valor ao salário emocional.
A dificuldade em reter talento aumentará de sobremaneira se não se perspetivar a realidade e o impacto nas relações. Para gerar níveis de compromisso é necessário a existência de uma visão e missão comum. E para isto, quem são as “nossas pessoas”?
Conhecer as paixões dos elementos na nossa equipa é, por exemplo, altamente enriquecedor. O fogo é o elemento da paixão. Torna-se inesquecível aquele que acarinha aquilo que nos move, não é assim? Se o nosso colaborador é altamente apaixonado por um desporto, instrumento, pintura, cinema, culinária, jardinagem, o que seja, por que motivo tem esta particularidade de ficar fora do ambiente empresarial? Por que não utilizar, estrategicamente, um elemento de garra e satisfação que já existe dentro do colaborador e criar um matchaltamente extraordinário entre os dois universos?
O colaborador é, também, um cliente. Aprecia o trato pelo nome, o ser visto e reconhecido no seu todo, não esquecendo que este é um desafio transgeracional devendo ser entendido e respeitado nas suas diversas dimensões.
As dinâmicas tradicionais de liderança, já obsoletas há muito, olham-se hoje ao espelho com o choque do desajuste. Fascinamo-nos na atualidade com os momentos de humanização e normalidade que se consegue numa videochamada pelo ambiente das casas, dos vestuários simples e uma ou outra voz de fundo que não se espera. Encontramos pormenores em comum, entramos no íntimo. Conhecemo-nos de novo, em outra perspetiva. E ainda que me choque estas noções terem somente emergido de uma situação de não escapatória, quero acreditar que as organizações já conseguem perspetivar que é no dinamismo e no movimento fora da caixa que se encontram riquezas de outro cariz.
É preciso audácia!